Diego Alves
O professor de Inglês entrou na sala de aula e perguntou quem gostaria de participar do projeto "Cidadão Dançante". Um aluno timidamente tentou levantar as mãos e, junto com sua cuidadora, esforçou-se para verbalizar "eu quero". O professor ficou paralisado, perplexo. Jamais havia considerado a possibilidade de executar uma dança especificamente com aquele aluno.
Convite feito, convite aceito. Marcos Pitanga agora tinha à sua frente um desafio: criar uma coreografia para João Vitor Correa de Souza, cadeirante de 11 anos que, por falta de oxigenação no cérebro durante o parto da mãe, ficou com sequelas, como não ter desenvolvido a fala, músculos, equilíbrio e a coordenação motora, num contraponto à sua agitação, euforia, vigor e perspicácia.
"Minha vida havia se transformado ali, naquele instante. Mergulhei nos estudos e pesquisei arduamente para produzir uma apresentação digna de todo o entusiasmo de João Vitor. E assim nasceu "A Ostra", numa alusão a um corpo que cria forma, transforma em arte e produz conhecimento. Essa é a linha que norteia essa pesquisa com crianças especiais, que faz uma reflexão do sujeito e suas inquietudes dada a grande dificuldade física nele existente", explicou o professor Marcos Pitanga, da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Mauro Braga, em Santa Tereza.
A avó de João Vitor, Rita Margareth Correa de Souza, e a tia dele, Samira Correa de Souza, conferiram a apresentação e ficaram emocionadas. "João tem as limitações dele, mas leva uma vida normal. Tanto é que adora uma bagunça. E isso faz dele uma criança ainda mais especial", disse Rita.
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"Diversas vezes eu quis ver os ensaios, mas João não deixou. Dizia que era surpresa. E foi mesmo. Eu estou muito emocionada com meu sobrinho artista", revelou Samira. Ela contou ainda que João Vitor foi muito bem acolhido na escola. "Aqui ele não sofreu preconceito, muito pelo contrário, ele é extremamente amado por todos na escola. Certamente, se nesses anos todos tivesse ficado em casa, João Vitor não teria se desenvolvido tanto".
Chama a atenção em João Vitor o fato de ser um garoto extremamente afetuoso e carinhoso. Quem passa por ele não ousa recusar o forte abraço que reside em braços tão frágeis. "São inúmeras as perguntas para esse corpo sem eixo e sem força, mas que transborda e se relaciona. E assim como uma ostra, que se esconde com medo de não ser aceita, não sabendo que ela produz joia rara, o João Vitor nos mostra que, quando abre, transborda para todos os lados", completou o professor.
Com edição de Matheus Thebaldi
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