terça-feira, 29 de janeiro de 2013

AGROTURISMO OS PRIMEIROS PASSOS DE UMA COMUNIDADE RURAL DA MONTANHA CAPIXABA. VENDA NOVA DO IMIGRANTE. LEANDRO CARNIELLI




Apresentação -
Os primeiros passos -
O projeto -
Organização e êxito -
A família -
Associativismo -
Atrativos e potencialidades -
Perfil do turista -
Como receber o turista e o que ele - quer saber
A fazenda e a família -
O produto a ser comercializado -
A imprensa -
Opinião -
Uma breve análise -
Conclusão

APRESENTAÇÃO
Agroturismo me faz retornar ao ano de 1992, quando participamos do Congresso Internacional das Escolas Famílias Agrícolas na Espanha. Na época eu era Secretário Executivo do Movimento Educacional e Promocional do Espírito Santo (MEPES), que convidou para participar da delegação capixaba o Vice-Governador e Secretário da Agricultura, Adelson Salvador, o jornalista Ronald Mansur e a pedagoga Eliane Stauffer de Andrade Mansur. Após o Congresso visitamos o agroturismo na Itália.
A idéia do agroturismo capixaba surge na visita a Azienda Agroturistica Mondragon, de Roberto e Tina Tessari, ele que trabalhou como voluntário no Mepes na década de 70. A idéia virou semente e foi lançada em Venda Nova do Imigrante. Mais adiante o Mepes enviou a Itália o agrônomo José Valdemar Pin, para um curso de especialização.
A idéia/semente germinou e o agroturismo deu os primeiros passos, já é marco e referencia.  Produtos de qualidade e atendimento de primeira geram trabalho e renda. Famílias competentes que buscam sobreviver e permanecer no campo. Leandro nos mostra uma fotografia da capacidade, criatividade, vontade e espírito empreendedor da família rural. Vi nascer e crescer o agroturismo, alegria pessoal e mais uma ação vitoriosa do Mepes.
Cachoeirinha, Rio Novo do Sul, 11/09/2002.
João Baptista Martins, agricultor.
OS PRIMEIROS PASSOS
Em 1986 nossa família, Zorzal Carnielli, estava diante de dois problemas para resolver. O primeiro era encontrar nova fonte lucrativa que não fosse a monocultura do café. Conversávamos muito para encontrar saídas viáveis.  O preço do café oscilava muito no decorrer dos anos, havia anos bons e anos ruins. Outro problema era o grande número de membros que possuía. Mais pessoas, mais despesas com alimentação, vestuário, saúde e educação. Tudo ia ficando sem horizontes.
Nessa época, Pedro, o oitavo irmão, cursava agronomia em Viçosa/MG. Esse investimento ajudou a família a aprofundar a idéia de encontrar novas alternativas. A opção foi introduzir a pecuária de leite, já tínhamos alguns animais para consumo próprio, que dizíamos ser da raça PC, Puro Carrapato. Queríamos vacas boas de leite, pois as que tínhamos só eram boas no preparo físico, subiam e desciam morros, o dia todo.
Para iniciar a mudança compramos algumas vacas que produziam oito litros de leite por dia. Em pouco tempo elas tornaram-se insuficientes para nossas expectativas, o que nos fez buscar novos animais.
Esse período foi muito difícil. Na região ninguém tinha o tipo de animal que queríamos, já que necessitava de um tratamento diferenciado. Foi indispensável  a busca de tecnologia. Fomos a outros Estados onde havia experiência na atividade. Junto com o gado melhor, nasce outro desafio: o que fazer com o leite. Iríamos transformá-lo em queijos? Mas que queijo faríamos?
Tínhamos em mente fazer um produto de boa qualidade. Esbarramos em uma enorme dificuldade. Não sabíamos como melhorar o queijo que a nona (vovó) fazia no passado e que minha mãe fazia do mesmo jeito. Não havia nenhum órgão do Governo ou da iniciativa privada que pudesse ajudar. Na busca encontramos solução para as rachaduras que apareciam no queijo após três dias de fabricado. Viajamos mil quilômetros para descobrir que bastava envolver o queijo com um pano no momento de ser prensado. Com essa história já havia passado três anos de muito aprendizado e a produção diária era de cinco a dez queijos.
Essa história mostra como é difícil iniciar uma nova atividade e que o futuro pode ser promissor, mesmo que o presente seja difícil. É preciso luta, pois nada cai do céu. Nesse momento a união de todos é de fundamental importância, principalmente a união da família em torno do mesmo objetivo.
Vou falar agora de uma outra história, que veio para marcar uma época e iniciar uma nova atividade. Sem pensar, sem planejar, tudo aconteceu espontaneamente. Quando trouxemos os animais e começamos a fazer mais queijos, as visitas aumentaram, eram vizinhos e amigos. Depois vinham as perguntas sobre a transformação do leite: como se faz queijo que ficava tão liso e sem aqueles furinhos. Queriam saber tintim por tintim.
A parte mais importante da tempestade de perguntas era: você vende? Gostaria de levar esse produto que acabei de ver todo o processo produção e industrialização. Algumas dessas pessoas já estavam nos visitando há horas. Foi aí que começamos a analisar o comportamento dos visitantes e a entender que o negócio rendia e que poderia ser uma boa fonte de renda. E que fonte. Diferente daquela que provinha da venda anual do café, porque passamos a ter renda quase todos os dias.
Percebemos que as visitas aconteciam principalmente nos finais de semana. Daí a pergunta: quem nos visitava? Começamos a estudá-las e vimos que estávamos hospedadas em hotéis da região ou em casa de amigos.essas observações foram superficiais.novas e de futuro desconhecido. Passaram-se quatro anos. O bom era que todo o queijo produzido tinha comprador e a venda acontecia na nossa casa.
O PROJETO
A partir do ano de 1992 nasce o agroturismo. Um grupo de pessoas a estudar o comportamento dos visitantes de forma técnica e objetiva. Vamos falar da pessoa que teve o papel mais importante nessa história, Ronald Mansur, jornalista e editor do Jornal do Campo da TV Gazeta. Ele sempre esteve do lado do pequeno para oferecer a sua ajuda. Sua teoria sempre esteve voltada no sentido de que a comunidade saber fazer e transformar um projeto, simples e humilde, mas com base sólida, pois o saber do povo resolve. Dizia que não precisávamos de projetos vindos de cima ou mesmo de políticos interessados.
Aqui abro um espaço para Ronald Mansur falar sobre o início do Agroturismo.
- Tudo começa como João Baptista Martins falou na apresentação deste livro sobre o Congresso Internacional da Escola Família Agrícola na Espanha e depois em Padova, na região do Veneto, norte da Itália, onde fomos recebidos pela Associação dos Amigos do Estado do Espírito Santo (AES) e por uma infinidade de agricultores ao Mepes. Na casa da família de Roberto e TinaTessari, a Azienda Agroturistica Mondragon, sonhamos com o agraturismo.
No dia 15 de julho de 1992, uma quarta feira, passando por Venda Nova do Imigrante, numa viagem pelo Jornal do Campo, fui ao Alpes Hotel que estava para ser inaugurado. Imaginei uma parceria do hotel com os agricultores. Promovi um encontro e uma conversa entre eles. Na realidade uma conciliação de interesses. As propriedades receberiam os hóspedes do hotel, que poderiam ter momentos de lazer e também de compras de produtos rurais. Ainda em 1992, no mês de setembro ocorreu uma reunião no Alpes Hotel onde foi debatido o modelo e a forma integração.
Antes de devolver a palavra ao Leandro, quero registrar a carta que juntamente com minha família enviamos no dia 22 de maio de 1993 à família Zorzal Carnielli e que está na lojinha da Fazenda Providência.
Nesta casa o Agroturismo capixaba deu o primeiro passo.
A família Zorzal Carnielli é a grande mestra: no trato com a terra, no trabalho com as plantas, na lida com os animais e no dia a dia com as pessoas.
Aqui o convívio nos fez voltar à nossa família e à nossa casa.
Todos os dias eles registram a marca da competência, da qualidade e da alegria de viver.
Quando viemos pela primeira vez, sentimos terra firme.
Terra de gente franca, aberta para a vida e para o Mundo.
Um banco de madeira nos espera, tem anos de vida e de história.
Um convite... Acomodar e deixar o tempo passar com conversas que não terminam nunca, embaladas no sabor de um cafezinho com queijo.
Atestamos e damos fé, a garra da família Zorzal Carnielli e aos que aqui deixam o seu suor em forma de trabalho.
Vila Velha, 22 de maio de 1993.
Ronald, Eliane, Augusto, Vinícius e Helena Mansur.
O resto da conversa é com Leandro, que com o sentimento que tem na alma, nos deixará grandes lições. Siga e confira...
Na volta, Mansur, entusiasmado espalhou a idéia entre nós. Começa a fase importante: projetar o agroturismo.
Outra pessoa incansável foi o engenheiro Luiz Perin, parece que nasceu para pensar de forma objetiva, sabendo bater na porta certa, sempre com dedicação.
Éramos tidos como malucos e até ouvíamos dizer que era mais uma maluquice para Venda Nova do Imigrante. No decorrer de três anos nós não tínhamos hora nem para nossas famílias. Todo tempo vago era para nos encontrar e falar do nosso projeto.
Diante de propostas viáveis à nossa realidade, entendemos estar no momento certo para iniciar a estruturação das atividades que já desenvolvíamos. O Jornal do Campo/TV Gazeta fez uma matéria sobre a fabricação de queijos na propriedade e foi um sucesso. Após a exibição do programa o telefone tocou o dia todo. Queriam saber mais sobre os queijos e como adquiri-los. A novidade foi o fato de que um produtor rural pudesse fazer um bom produto. Este programa nos deu crédito e ampliamos nosso espaço na sociedade.
A novidade despertou outras pessoas da comunidade, que viram que poderiam entrar no negócio. Aparece Tia Cila Altoé com seus biscoitos e doces que fazia ha muitos anos, principalmente para festas de casamento. Quem não gosta de biscoitos e doces feitos com tanto amos.
Surge Josepha Mullers Trakofler, uma alemã que tem um jeito especialem organizar pessoas. Sabe tudo sobre geléias doces, com experiência internacional.
Outra pessoa, a rainha de coração e o abraço maior de todos, a simpatia do receber, tia Cacilda Caliman Lourenção com seus socol (salaminho) e verduras sem agrotóxicos.
Todas estas famílias tiveram seus produtos mostrados na TV Gazeta. Ronald Mansur, que sempre acompanhou nossos passos, encontrando mercado para os nossos produtos e nos ensinando a entender o comércio. A cada instante aprendíamos  observando os fatos, o comportamento, valorizando tudo.
A pedido de Adelson Salvador, Secretário da Agricultura, montamos um projeto regional com apoio de Maria Angélica Fonseca, Rute Paste e pessoas da comunidade. Selecionados sete municípios: Conceição do Castelo, Domingos Martins, Viana, Afonso Claudio, Castelo, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante. Com o projeto nasce a associação AGROTUR (Centro de Desenvolvimento do Agroturismo), com representação jurídica. Uma forma de agrupar pessoas interessadas em participar do grupo.
O lançamento do AGROTUR ocorreu na Casa da Cultura de Venda Nova do Imigrante no dia 05 de março de 1993. Assumi a presidência e Luis Perin a superintendência.
Uma fase importante foi a parceria com o Sebrae, que indicou Vera Perin para coordenar o projeto de capacitação, treinamento e cursos aos associados dos municípios envolvidos, chegando a mais de duas mil horas, sempre de acordo como interesse dos associados.
Outra vitória, a abertura da loja do agroturismo no Alpes Hotel, em outubro de 1993, por ocasião da Festa da Polenta. Éramos quatro produtores. A proposta: fazer uma experiência de quatro meses, cada um pagaria o funcionário por um mês, se não desse certo tomaríamos outra decisão. Tudo deu certo. A loja funciona até hoje, também como posto de informação e divulgação.
Promovemos um seminário em janeiro de 1994 que foi um marco, em especial a palestra do italiano Roberto Tessari. O que ele disse era o que nós fazíamos e não sabíamos se estava certo ou não. O conceito sobre como receber turista e crescimento para o futuro veio da experiência dele.
ORGANIZAÇÃO E ÊXITO.
Com a aberturada loja a Associação começa a ter cara e identidade. Nasce uma nova etapa, os sócios passaram a se encontrar para resolver suas necessidades. Achávamos que seria difícil encontrar novos sócios, o que não ocorreu, logo eles apareceram, ficando assim mais animado.
Uma descoberta: o vizinho fazia coisa importante.
Uma lição: não era preciso inventar grandes coisas, mas sim, aproveitar o que sabemos fazer.
Nas reuniões discutíamos propostas e fazíamos planejamento, sempre a partir das dificuldades e necessidades. Foram muitas horas de conversa.
Tivemos cursos dados pelo Sebrae, Prefeitura e Emater, com participação da Emcapa, Secretaria de Agricultura, UFES, faculdade de Turismo de Guarapari e Vila Velha. A articulação sempre feita por Luis Perin, Ronald Mansur, por mim e os demais sócios.
Foi importante a proposta do Alpes Hotel: levar os hóspedes nas propriedades do agroturismo. Era o que queríamos para divulgar e fazer o projeto aparecer.
Vou contar uma pequena história que aconteceu com seu Helmuth Kubbe, gerente do Alpes Hotel. Ele sempre saia com os hóspedes para os passeios. Certo dia acompanhava um grupo numa visita a Cachoeira do Barcelos. A estrada que leva a cachoeira atravessa trechos da Mata Atlântica e é cheia de encruzilhadas. No percurso ele se perdeu e não sabia para onde ir. Passou por várias entradas e nada. Mostrava a paisagem e nada de cachoeira. Resolveu parar o carro e disse para o grupo: tenho certeza que a cachoeira ficava bem ali, acho que ela mudou de lugar.
Foi importante a iniciativa da Prefeitura ao criar em 1996 a Secretaria de Turismo, sendo primeiro Secretário, Marco Antonio Grilo. A Câmara de Vereadores, a pedido do AGROTUR, criou o Selo de Inspeção Municipal (SIM) para atestar a qualidade dos produtos de origem animal e vegetal. Um destaque na Secretaria de Saúde foi Jésus Zandonadi, sempre junto aos agricultores para melhor orientá-los.
Até 1998 ficou marcado por realizações de suma importância. As metas foram alcançadas: a sinalização e o mapa colorido que indicava a localização das propriedades. Com um mapa de verdade ficou mais fácil. O que tínhamos era ruim, uma cópia xerox.
Com esta estrutura montada já estávamos bem acostumados a receber turistas e grupos de excursões. No início eram poucos e de forma irregular, mas com o tempo as propriedades envolvidas já recebiam um bom número de visitantes. A minha já recebia em torno de 500 pessoas por semana. Eram turistas do próprio Espírito Santo, de outros Estados e do exterior. Um dia recebi 120 pessoas ao mesmo tempo e uma dela me disse: já que não sei quem são os donos da propriedade no meio de tanta gente. Os turistas se sentiam à vontade e passavam a interagir nas atividades da propriedade. Ainda hoje tenho satisfação de falar a mesma coisa o dia inteiro e no outro dia também.
A imprensa e os governantes passaram a nos visitar e citar o agroturismo como exemplo de desenvolvimento. Ficamos mais conhecidos.
Ao falarem da atividade ocupávamos espaço e eles ficavam comprometidos. Isto despertou interesse na região. Vieram conhecer como funcionava o agroturismo. Traziam pessoas ligadas á agricultura, com potencial a ser desenvolvido e explorado. Vinham entender a nossa prática e o nosso dia a dia. Fui solicitado por municípios vizinhos para passar a experiência e apontar algum potencial. Em 1996 fiz uma palestra e contei as experiências no Distrito Federal. Parece que consegui dar o recado, os convites continuam chegando.
Hoje o agroturismo é uma marca do Espírito Santo, por ser o primeiro Estado a praticar esta modalidade no Brasil.
A FAMÍLIA
A família ocupa o lugar central no agroturismo. Ela desenvolve e faz gerar a atividade. Por sermos pioneiros passamos por muitas transformações. Quando começamos a receber turistas em casa nossa vida mudou.
Primeiro, a privacidade, a nossa casa não era mais só nossa, mas de todos que nos visitavam. Usavam nossos sanitários e bebiam água de nossa geladeira. Os finais de semana já não eram mais dedicados exclusivamente à família, uma vez que o atendimento aos turistas era feito pelos familiares.
O lado econômico também mudou porque entrava dinheiro quase toso os dias com a venda de queijos e derivados, fubá, pó de café, frutas que muitas vezes se estragavam no quintal.
Esta prática foi de grande valia para as mulheres, que até então se ocupava com os afazeres domésticos. Colocaram seus dotes em prática e passaram a produzir gostosuras e artesanato que aprenderam com os antepassados. O fruto do trabalho tinha agora novo sentido, trazia dinheiro. Agora elas compram o batom sem depender do dinheiro do marido.
Queríamos uma nova alternativa de renda e encontramos uma renda diária. Não conhecíamos esta realidade, éramos acostumados com o café que só trazia dinheiro uma vez por ano.
Iniciamos no agroturismo não porque gostávamos, mas por necessidade. Com a necessidade fomos gostando desta outra prática, e assim toda família foi engrenando. É claro que uns mais rápido que outros. Ao exercício de gostar é necessário dar muito tempo, pois o tempo no amadurece e nos faz aprender coisas novas, cada um com seu jeito de ser. Todos os membros de nossa família foram de adequando a nova realidade e encontrando o seu espaço.
Tivemos dificuldades no receber e falar aos turistas. No início só um tinha facilidade em fazê-lo. Mas com o passar do tempo todos já falam com naturalidade. Até meu filho Lorenzo, com 10 anos, fala da propriedade para grupos de visitantes de maneira agradável e prazeirosa.
Mas o que falar para as pessoas que nos visitam?
Devemos falar o que fazemos no dia a dia. Falar com naturalidade das atividades e da rotina. Isso não é difícil. Tudo o que fazemos na propriedade é atrativo turístico para quem nos visita. Não é necessário inventar termos difíceis e nem perder nosso palavreado do campo. Devemos manter o jeito simples de ser.
É preciso que o produtor rural busque tecnologia através de cursos e visitas, ver o que os outros estão fazendo de melhor, acompanhando o progresso sem perder o jeito rural de ser.
As pessoas que nos visitam querem saber o grau de tecnologia que usamos. Por isso é importante que cada um da família se especialize em uma atividade da propriedade. Assim o visitante pode conversar com várias pessoas, conhecendo mais e melhor. Certamente todos falarão a mesma língua: isso é fator determinante do sucesso.
Quando falamos de nossa atividade, falamos com entusiasmo. Falar como quem gosta do que faz. Devemos dizer que fazemos o melhor. Se fizermos cursos e investirmos em tecnologia, não precisamos ter receio de nada. Temos de ser agricultores de bem com a vida. Moramos no melhor lugar do Mundo, temos ar puro, água limpa que brota da fonte, natureza deslumbrante e ainda privilégio de sentir e conviver com o cheiro da terra.
Com essas transformações a família passou a ter uma visão empresarial e olhar para o que faz como um negócio. Como empresa e com visão empresarial a agricultura passa a ser produtiva, gera empregos, técnicas novas e trata a terra como um bem a ser preservado e respeitado.
É imprescindível que a família continue sendo agricultora, pois é essa a sua especialidade. Devemos manter esta linha como a principal atividade. Não devemos parar de produzir porque a atividade turística é mais rentável. Como agricultores devemos ter diversidades nas atividades, o que certamente vai gerar mais atrativos.
Outro fator importante é a família não perder suas raízes, tradições e costumes, passando-os de geração em geração. A história da família deve ser sempre contada e recontada, o que muito interessa aos turistas. Pode-se dizer da origem, de onde vieram os antepassados, porque migraram, que costumes trouxeram, as crenças e festas folclóricas.
Outro atrativo forte é a origem italiana da maioria das pessoas. Na colonização encontramos cultura, tradição, afazeres cotidianos, que nos torna um grupo homogêneo e diferenciado. Hoje todos querem manter as suas tradições. É importante fortalecer os grupos culturais para o desenvolvimento do agroturismo.
Outra mudança marcante foi com relação a visão comercial. Tínhamos pouca prática comercial. Normalmente o produtor só sabe produzir. Na hora de vender fica no prejuízo. Na indústria e comércio é que o lucro aparece. A atividade tornou-se viável, de forma rápida e satisfatória.
O agroturismo abriu as mentes e horizontes das famílias. Até as mais tradicionais se abriram a novos conceitos e atividades, passaram a aceitar idéias vindas de fora. Está mudança é importante, a família começa a ser uma marca. No futuro isso terá um valor enorme. Tiveram destaque nos meios de comunicação, sendo alvo de notícias da TV, rádio, revistas e jornais. Isto foi o que aconteceu na minha família. Inicialmente não queria os meios de comunicação propriedade  e de repente aceita, abre sua casa e fala de seus negócios.
ASSOCIATIVISMO
O associativismo foi fundamental no sucesso do agroturismo e para falar dele tenho que voltar na história. Em Venda Nova do Imigrante o mutirão é marca e tradição de sucesso. Estradas, escolas, igrejas, cemitério, sede da cooperativa e o hospital foram construídos em mutirão.
Uma das primeiras associações fundadas foi a das Voluntárias do Hospital Padre Máximo, que faz um trabalho fantástico. Reúne um grupo de 150 mulheres que doam seu tempo para produzirem artesanato e confeccionar a rouparia de uso do hospital. A produção é vendida em feiras nacionais, internacionais e no bazar montado na sede da associação. O lucro é revertido para a manutenção do Hospital. A diretoria é formada por membros da comunidade, com prestação de serviços gratuitos. As Voluntárias tiveram até bem pouco tempo a senhora Juta Batista como principal incentivadora, ilustre figura alemã, falecida em 2001. Incansável e batalhadora e amiga dos que se dedicam ao bem comum.
Outra associação importante foi o Conselho de Desenvolvimento, com atuação marcante nos anos 80. Este Conselho conseguiu o tratamento do esgoto, o primeiro no interior do Espírito Santo, isto quando Venda Nova do Imigrante ainda era Distrito. Depois o empenho no movimento de emancipação política que ocorreu em 1987. Citei dois exemplos, poderia citar outros. Quando a comunidade quer, ela atinge seus objetivos.
O agroturismo nasceu de experiências de trabalho. A maioria dos associados tem ligação com as Voluntárias. Nós encaramos a atividade como um negócio. Nossa associação veio para profissionalizar o trabalho comunitário e voluntário.
Quando começamos a produzir e vender, iniciamos uma nova fase, que foi até mesmo fazer leis para complementar a atividade. Uma lição fantástica foi a participação e o interesse de cada sócio em resolver os problemas que apareciam. Quando reunimos pessoas com o mesmo interesse temos boas chances de êxito.
No agroturismo a união é a força.
Fizemos uma descoberta: se eu não falar daquilo que os outros fazem, eles não irão falar daquilo que eu faço. Um atrativo só, por melhor que seja, não é suficiente para trazer turistas. Temos produtores que fazem diferentes produtos e isso faz com que tenhamos opções. É bom que cada um faça um produto diferente e evite fazer uma mera cópia.
Começamos a fazer um queijo que virou a nossa marca. Se o meu vizinho faz um queijo diferente, certamente vou encaminhar o turista até ele e vice-versa. Entendemos a importância da parceria. Quando os atrativos e atividades são repetidos, causam disputas e desavenças, ninguém ganha, todos perdem.
O associativismo é um instrumento que gera crescimento pessoal e comunitário, ao reunir pessoas para planejar, fazer cursos e participar de feiras. Com isto todos ganham.
ATRATIVOS E POTENCIALIDADES
Um grande atrativo do agroturismo é sem dúvida a natureza: montanha clima e vegetação. Pesquisas indicam que o fator primordial para que o turismo aconteça é que se tenha uma região bela, não apenas um lugar. A região montanhosa do Espírito Santo chega a 1.500 metros de altitude, ainda temos um pouco de Mata Atlântica, o que torna mais acolhedora nossa paisagem. O clima é um outro atrativo, pois a 40 km das praias já temos uma temperatura média de 19 graus centígrados. Em alguns dias do inverno chega a dar uma leve camada de geada, trazendo turistas que gostam de curtir o frio.
A colonização italiana atrai. Nela encontramos cultura, tradição, afazeres cotidianos, grupo homogêneo e diferenciado. Com o surgimento do agroturismo os grupos culturais estão se desenvolvendo e tentando resgatar parte da história que havia sido perdida. Hoje, todos querem manter sua tradições, isso porque estão sendo criadas oportunidades.
A festa da Polenta de Venda Nova do Imigrante está conseguindo resgatar valores e tradições. É o maior evento da cultura italiana no Espírito Santo. Hoje temos vários grupos que cantam canções italianas, há anos atrás só existia o Coral Santa Cecília. Estes grupos são animados porque a comunidade apóia a iniciativa, colocando-os nas programações das festas. Quando uma criança vai apresentar algo, temos atrás dela os pais, os tios, padrinhos, avós, amigos, enfim uma porção de pessoas que irão tornar a festa mais animada.
Ao programar as festas da comunidade é interessante deixar um espaço para os organizados. Já vi comunidades colocarem na programação só gente de fora, o que fica muito caro e leva todo o dinheiro. E o que é pior, as pessoas do lugar passam a não ir na sua própria festa. O atrativo local é importante, é ele que difere uma localidade da outra. Sem dúvida vai ser um atrativo diferente. Nesse aspecto devemos manter nossas diferenças e deixar de copiar, para que não saia tudo igual.
A agricultura no nosso caso é um forte atrativo, daí o nome agroturismo. Quanto mais diversificada e quanto se usa um bom nível de tecnologia, melhor. Na região predomina a pequena propriedade de 20 a 30 hectares. Por serem pequenas se vêem obrigadas a trabalhar com culturas que tenham alta produtividade, pois é daí que sai o sustento. Nossas terras são bem aproveitadas com plantios, proporcionando aos olhos dos turistas belas paisagens. Certamente a receita será diversificada e bem distribuída, o que faz a economia ser mais sólida.
O turista observa o aspecto social. A produção é transformada. Aqui entra a agroindústria com matéria prima natural e de boa qualidade. Aproveitamos parte da produção que às vezes era jogada fora por ser fruto pequeno, transformando-os em produtos deliciosos e apreciados pelos turistas. Esses produtos formam um atrativo turístico. Recebemos pessoas do Brasil inteiro e até de outros países para adquirir esses produtos.
As flores atraem. As orquídeas nativas e variedades de espécies são encontradas na região. É importante manter as vias públicas e fachadas das casas com jardins floridos. Sem falar nas roseiras que são cultivadas em estufas para a comercialização. É prazeroso ao turista levar para sua casa flores ou mudas delas.
Os atrativos naturais também somam, temos pequenas cachoeiras de águas cristalinas que, bem trabalhadas, tornam-se pontos turísticos. As trilhas atraem e levam a lugares pitorescos e panorâmicos.
A estrutura de um lugar pode ser um atrativo. O nosso turista é exigente com relação a isto. Hoje a região tem hotéis atraindo um público de alto poder aquisitivo. Junto surgem restaurantes, adegas, casas de chá, pesque e pague e pousadas rurais. Esta última forma de hospedagem é muito procurada. Além de ser mais barata, atinge outro tipo de público que não é o do hotel. Neste tipo de hospedagem não podemos confundir rusticidade com falta de conforto. As pessoas querem participar da vida do campo, comendo, bebendo e se sentindo à vontade. O atrativo como águas, flores e florestas devem ser abundantes.
Os atrativos de aventura (asa delta, alpinismo, rally, parapente e canoagem) são procurados por um público que gosta de muita adrenalina e emoções. Nossa região é propícia e traz um expressivo número de turistas. As belas trilhas íngremes e sinuosas são desafios cobiçados. Estes são atrativos que estamos começando a explorar. Temos muito por fazer. Devemos fazer sempre a partir do que está dando certo e depois ir introduzindo novidades. Lembramos que uma comunidade unida é que faz ser ou não turística. No nosso caso esse é o melhor atrativo, mas eles mudam de região para região. Cada lugar deve descobrir o seu potencial turístico e trabalhá-lo. Todo lugar tem algum atrativo.
PERFIL DO TURISTA
GOSTA DO CONTATO COM A NATUREZA
A natureza atrai. Ao longo destes anos observamos o encontro do turista com a natureza. Ele tem preferência por propriedade onde haja uma biodiversidade. Ter uma propriedade preservada é importante. A prática agrícola é um complemento necessário e torna mais atrativa quando é diversificada. É mais bonito ver um campo plantado com várias culturas do que a monocultura. A pequena propriedade é uma característica da região. O turista gosta de estar com os animais, respirar ar puro, estar em contato com águas límpidas de cachoeiras, andar por vales e trilhas, colher frutos no pé. Há uma grande procura de informações sobre a flora e fauna. O Espírito Santo possui uma enorme variedade de orquídeas e plantas raras como cedro, peroba, jequitibá e canela.
EVITA GRANDES AGLOMERAÇÕES
Procura a área rural onde o número de habitantes é menor, não tendo tumultos humanos como em determinados pontos turísticos que conhecemos. Busca ambiente que oferece lazer, paz e sossego. O meio rural oferece isto tudo.
BUSCA HOSPITALIDE FAMILIAR
O visitante vem procurar algo mais do que uma simples amizade. Vem em busca daquilo que o grande centro urbano não tem para oferecer: a acolhida, a hospitalidade e o gastar tempo com conversas. Busca uma identidade, procurar tornar-se parte da família. Existe uma enorme busca pela cultura e pelo passado da família. Temos fotos de cinco gerações, a árvore genealógica e uma pequena história escrita. Isto é uma atração. As histórias bem contadas e floridas que não acabam nunca sempre agradam. Meu pai e minha tia Victória, gostam de estar juntos com os turistas. Temos de preservar a cultura, não deixando influências de fora tomar conta e perdermos nossa identidade.
DESEJO DE RETORNAR ÀS ORIGENS
Encontramos pessoas que vêem a necessidade de retornar ao passado. Neste grupo estão os que já tiveram uma terra ou pertencem à família cujos pais ou avós foram fazendeiros. Outros tiveram a má sorte de ouvir de seus pais a frase: filho meu não vai ter esta vida de cão, não1 E assim foi estudas na cidade grande e lá permaneceu. Com o tempo dá saudade do campo. Vem para matar a saudade e satisfazer o desejo de familiares que nunca tiveram contato com a terra.
Essa procura é grande pelo fato de que nas cidades a qualidade de vida não é muito boa. Lembra como o seu pai vivia bem e vem para o campo trazendo sua família. Nestes dez anos de agroturismo constatamos que isto também é atrativo.
QUER CULINÁRIA E PRODUTO LOCAL
Foi neste ponto que descobrimos que agroturismo seria um bom negócio. Os primeiros que nos visitavam vinham também para comprar produtos feito por nós. Quem faz turismo adora compras, principalmente por poder acompanhar a produção. Recebemos pessoas interessadas em adquirir produtos, por serem uma particularidade da região ou da família, que só encontramos aqui. Também são procurados por serem naturais e terem aquele gostinho do meio rural. A comida rural quebra a rotina do meio que ele vive. Talvez por ser feita em fogão a lenha e panela de ferro. No meio rural o ambiente é diferente, a natureza é exuberante, clima agradável, convidativo a apreciar um bom vinho da região, massas e muitas outras iguarias. O turista rodeado deste clima fica eufórico e satisfeito.
Em relação aos produtos que aqui degustam, muitos dizem que são mais gostosos do que aqueles que levam para casa. É verdade, aqui as pessoas estão num meio onde tudo é diferente do seu cotidiano, assim tudo fica mais saboroso.
Quem deseja explorar este mercado precisa ter criatividade e pesquisar. Fazer o que o turista gosta, sem perder a originalidade. Devemos tomar o cuidado para que sejam produtos típicos. Acredito que o campo de maior procura seja os de alimentos de origem italiana, como os pratos do Agriturismo na Itália. Um exemplo é o queijo. Quais tipos de queijos poderíamos fazer? Isso dá uma idéia do quanto podemos avançar, estamos no início e temos um enorme caminho a percorrer.
TEM ATRAÇÃO E INTERESSE POR MANIFESTAÇÕES POPULARES
Um local torna-se atrativo quando tem organização em suas manifestações populares. Uma festa com o lucro revertido em benefício da própria comunidade será uma atração diferente das demais. Temos um grupo que sempre está junto para manifestações culturais e de entretenimento. Eles ganharam o apelido de Grupo da Missa das 10, pois se reúnem no pátio de Igreja após a missa verdadeira das 9 horas e cantam canções típicas acompanhadas de um bom vinho. Este espírito lembra o ditado italiano: quem bebe dorme, quem dorme não faz pecado, quem não faz pecado vai para o paraíso, então vamos beber.
GOSTA DE CONHECER REALIDADES DIFERENTES
O turista quer algo diferente do seu dia a dia. Sua vontade é esquecer tudo por uns dias. O ser humano tem necessidade de dar uma parada para sair da rotina. Podemos oferecer um local aprazível e singelo, sem confundir rusticidade com falta de conforto e higiene. Podemos oferecer esta quebra. A comida, o tipo de lazer, a natureza, a tranqüilidade, a paz, contribuem para a um relax. No campo as pessoas são diferentes daquelas que ele convive, talvez menos individualistas e com maior disponibilidade para ouvir, o que é difícil na cidade.
É URBANO
A maioria dos turistas que recebemos vem da cidade. É preciso conhecê-los para termos êxito na atividade. Temos de tratá-los como pessoas que tem o seu jeito de ser e de agir.
Devemos ter cuidado nas caminhadas. Ao passarmos por animais, que para nós são familiares, mas para eles não, podem ficar com medo e até se assustarem, causando transtorno. É bom falar sobre o animal, seu modo de vida, sua alimentação e seu habitat. Recomendamos que tenha sempre uma pessoa para acompanhá-los e que o grupo não ultrapasse 25 pessoas.
Numa visita a uma agroindústria ou plantação, o grupo pode atingir até 50 pessoas por guia. Ninguém é sabido, ou seja, detentor de todo o conhecimento. Acontece do homem do campo estranhar o elevador e ser motivo de risada para o urbano. No meio rural quando recebemos o urbano também temos motivos para achar graça, muitos não conhecem nosso meio, vêem uma vaca e fala que é um boi, o feijão vira café e assim por diante. O desconhecimento dos dois é que faz estas brincadeiras.
É comum falarem que vivemos no melhor lugar do mundo. Dizem isto devido a valorização que o homem do campo está conquistando. Quando nos visitam acompanham a produção e a transformação dos produtos. Neste momento todo cuidado com a higiene é pouco, sabemos dos riscos da contaminação devido ao trânsito das pessoas. As precauções devem ser tomadas.
EXIGE AMBIENTE SADIO, GENUÍNO E  LIMPO.
Manter tudo o mais natural possível. Rústico combina com conforto. Numa cachoeira não devemos colocar cimento em tudo. Podemos usar pedras e troncos que normalmente são abundantes, é uma questão de bom gosto arrumá-los adequadamente. Aproveitar o máximo a vegetação natural. Caso esteja extinta, devemos reflorestar com árvores nativas.
Devemos estar atentos para a arrumação em volta das casas, tulhas, estábulos, galinheiros, pocilgas, armazéns, equipamento e máquinas. Eles devem estar em harmonia. Resto de embalagens e lixo merece uma atenção especial. Onde há lixo não existe turista. Quem não tem organização, certamente não terá êxito no agroturismo.
A organização não depende só de um belo jardim, mas de um todo organizado, cada coisa no seu lugar. É normal que o confinamento de animais gere mau cheiro devido a matéria orgânica. O que devemos fazer é coletar os restos da matéria orgânica.
Devemos fazer produtos naturais e de qualidade. A embalagem pode ser simples, mas que seja de bom gosto. Quando o turista compra, a higiene e a organização contam.
PROCURA FÉRIAS BREVES E FREQUENTES.
As pessoas estão tirando férias mais rápidas e bem distribuídas, querem aproveitar tudo ao máximo. E o conjunto das possibilidades turísticas  pode oferecer esta diversidade. O turista de praia está passando alguns dias nas montanhas. Ele está ficando a cada dia mais elétrico. Quer coisa diferente, com maior intensidade, principalmente o jovem e a criança. Temos turista de toda idade e classe social, durante o ano inteiro
TRAZ NOVIDADES AO CAMPO.
É normal o turista tornar-se amigo e querer nos ajudar. Trazer novidades, algo que viu em determinado lugar e que achou interessante para nos ajudar em nosso negócio. Já aconteceu de começarmos a fazer um determinado tipo de queijo por sugestão de um turista. Tem gente que procura mercado para nossos produtos, indicando locais de venda. Há os que fazem questão de dizer que trouxeram outras pessoas para visitar-nos. Falam do nosso trabalho. Percebemos que participam conosco principalmente por estarmos criando emprego no meio rural.
COMO RECEBER O TURISTA E O QUE ELE QUER SABER.
Parte do sucesso do agroturismo é porque percebemos desde o início que, atender bem e com personalidade era o segredo. No início ninguém fez curso para atender. Fomos recebendo e aprendendo.
Outro fato importante foi todos falarem o que as outras propriedades ofereciam. Isso fez crescer o verdadeiro associativismo. Quando todos divulgam os produtos, todos ganham e crescem juntos.
Na propriedade quem recebe  o turista é o dono, é com ele que querem conversar. Para isso é preciso que ele more e trabalhe na propriedade. O agroturismo é uma atividade da família rural.
Tudo o que temos pode ser um atrativo. O visitante gosta de saber o que você faz. Quer até saber de sua família. Não precisamos ter receio, faz parte de sua curiosidade, é o momento de estar a vontade.
Devemos passar informações sobre: história da família, de que país imigrou e ano, quanto tempo mora na propriedade, quantas famílias trabalham na terra e onde seus filhos estudam. Irá vê-los e conversar com eles, que se não estiverem bem irão passar uma imagem ruim, mostrando justamente o oposto daquilo que o dono está dizendo.
A FAZENDA E A FAMÍLIA.
Posso citar agora os membros da minha família. Meu pai, Domingos Carnielli e minha mãe, Enedina Zorzal Carnielli tiveram dez filhos, cinco dos quais residem na propriedade e os demais em outras cidades. Nossa atividade é essencialmente agrícola, vivemos da agricultura.
Distribuir as responsabilidades foi fator decisivo no desempenho das atividades. Tivemos de descobrir o que cada um gostava de fazer e a ele confiar a tarefa. Dos cinco irmãos que residem na propriedade, o Camilo ocupa uma posição muito especial junto a todos. Por portar uma deficiência mental é muito querido por todos e traz muitas alegrias aos turistas. Danilo, o caçula, é o responsável pela fábrica de queijos, o atendimento diário aos turistas e a venda dos produtos na propriedade.
O Antonio acompanha os funcionários que trabalham no campo e é responsável pelo estábulo, na lida com os animais. Pedro é agrônomo e está diretamente ligado às técnicas de plantio, de produção e administração da propriedade. Eu, Leandro, por ser o filho que primeiro ficou na propriedade, sempre gostei de mexer com construções, ocupo-me na administração e seus números. Montei um banco de dados e com ajuda de Pedro colocamos tudo no computador. A mim coube a divulgaççao e a venda dos produtos na capital.
Está divisão de tarefas foi acontecendo aos poucos e ajudou muito, pois cada um se aprofunda na sua área. Percebe-se que cada um já tem uma boa bagagem de informação onde colabora em muito para o gerenciamento da propriedade. Uma irmã, a Inês, está na Itália, outras duas, Vera Lúcia e Gloriete, juntamente com o irmão Aloisio, residem em Vitória. O mais velho dos irmãos, Francisco Joel, infelizmente não está mais entre nós. Partiu para a eternidade deixando em Franca (SP) três filhas e esposa. Todos quando estão na propriedade, ajudam no atendimento e afazeres, principalmente nos finais de semana.
Na propriedade residem em torno de 100 pessoas. Temos um número de funcionários em torno de 35 pessoas, todos com vínculo empregatício. Nos tornamos uma pequena empresa e é assim que a tratamos.
Nossas propriedade tem 260 hectares, dos quais 40 por cento estão em reservas. Nas áreas agricultáveis, trabalhamos com as culturas de café, abacate, milho, feijão, reflorestamento e o confinamento de animais de leite da raça holandesa. Estes últimos são um atrativo para os turistas por serem animais muito dóceis.
Cada atividade é por si só um tema que podemos desenvolver e que os turistas acompanham todo processo. E é disto que falamos aos turistas, falamos o que fazemos. Neste hora que temos de mostrar que somos bons no que fazemos. Cada propriedade deve preocupar-se em ter um atrativo diferente da outra.
O PRODUTO A SER COMERCIALIZADO
No meio rural normalmente não descobrimos nossas potencialidades, achamos que não somos capazes de fazer nada além de preparar a terra, plantar e colher. O agroturismo nasceu da nescessidade de fazer um produto de qualidade. Por isso que temos de mudar a forma de pensar, de ver e de agir. Já encontrei agricultores em vários lugares do Brasil que tem vergonha de dizer aquilo que fazem e não têm coragem de dizer que aquele produto é seu. Isto não deve e não pode acontecer, o primeiro a dizer que o produto é bom, é quem o fez. Dizer de forma empolgante, com satisfação, com alegria, deixando transparecer a de didcação e o carinho que teve no seu preparo.
Tem gente que tem vergonha de vender o que produz. Fica revestido de uma modéstia desnecessária. As grandes marcas não têm um produto peculiar como o nosso, mas investem fortunas em divulgação. Desta forma eles crescem ganhando espaço no mercado. Eles não se acanham em falar para os outros o que possuem para oferecer. Temos que mudar nosso comportamento. O que produzimos é fruto do trabalho, portanto, devemos buscar espaço e ocupá-lo. Ele existe, devemos conquistá-lo.
Quando colocamos o que fazemos para os outros é preciso que estejamos cobertos de conhecimentos, que a qualidade do produto seja incontestável e garantirmos a continuidade da produção. Este último é um dos problemas da agroindústria. Quem compra quer ter a certeza da continuidade. Para isso funcionar temos de ir produzindo aos poucos, de acordo com a nossa capacidade. É preferível ir devagar e sempre, sem precipitação, conquistando espaço. Se acontecer uma queda ela será menor.
O agroturismo é uma escola para quem quer entrar no mundo dos negócios. O bom vendedor deve saber o que o seu cliente deseja antes que ele pergunte. Estar atendo a detalhes é um bom passo.
Não devemos esperar o cliente no meio rural. Um jeito bom de divulgação é levar o produto até o consumidor, em pontos de venda onde ele poderá comprá-los diariamente. Não vendemos só para turista, mas para quem passa na propriedade. Temos uma localização privilegiada, bem como as demais propreidades do agroturismo. Estamos situados à margem da Rodovia Pedro Cola, que liga a BR 262  Castelo.
Nos pontos de vendas deve existir parceria e conhecimento entre o comerciante e o produtor, de tal modo que ao comprar o cliente sinta uma continuidade do que ele presenciou na fazenda. Ocorre uma diferença quando os produtos são postos em estabelecimentos que não têm parceria. Ele passa a fazer parte do rol das mercadorias, confundindo com as demais embalagens, perde identidade. Ali certamente não terá uma pessoa como na propriedade para falar do produto. A agroindústria pode ser a solução para pequenas propriedades que trabalham no regime de economia familiar.
A IMPRENSA
Por ser um assunto novo é importante a participação dos meios de comunicação no que toca ao conceito, com funciona, que regiões trabalham com esta modalidade do turismo e que produtos são explorados.
No início tivemos equívocos por parte de alguns meios de comunicação, mas poucos em relação ao grande número de reportagens feitas. Depois passamos a falar a mesma língua, tornando o agroturismo conceituado e conhecido. O sucesso chegou mais rápido que esperávamos. Tivemos espaços na imprensa estadual. A repercussão foi ótima. Viramos notícia. Valorizou-se o simples, o natural, a união da comunidade e o trabalho familiar.
As matérias devem acontecer com a imprensa no local. Isso faz com que a notícia retrate a realidade. Lutamos para que isso acontecesse. Quando procurados levamos o jornalista para sentir e conhecer a vida, as tradições, a natureza preservada, o manuseio com os animasi e até a fabricação dos quitutes.
Destaco a disponibilidade das pessoas com a imprensa. Receber virou marca e rotina. Aconteceu de matérias para a televisão gastarem horas, mas todos colaboravam.
Descobrimos que nossos atrativos eram bons e fortes. Mas o registro da imprensa aumenta a credibilidade e mostra o que temos de verdade. Faço registro com relação à Rede Gazeta que sempre nos apoiou.
OPINIÃO
Nestes anos muito podemos falar do contato com os turistas. Em sua maioria, 80 por cento vêm da Grande Vitória, que fica a 100 km, 20 por cento vem de todo Brasil. Recebemos turistas do exterior. O que nos leva a concluir: temos um grande mercado para trabalhar. Temos temporadas com mais turistas e outras com menos, mas os temos sempre, daí o slogan:
AGROTURISMO O ANO TODO.
Faz parte do negócio a insistência e a dedicação. A nossa temporada é no inverno. Mas nos meses de verão acontece um bom fluxo. Nesta época recebemos o maior número de turistas das partes mais distantes do Brasil. Este número é crescente e deve-se ao fato da mudança que está acorrendo com turistas que procuram a montanha, não ficando somente na praia.
Na propriedade passam em média 500 pessoas por semana, 20 por cento são de visitas técnicas de agricultores que querem conhecer o que fazemos. Recebemos estudantes que monitorados conhecem as culturas e o trato com os animais. Viramos ponto de referência, fazendo com que busquemos inovações e tecnologias.
Receber pessoas  nos levar a observar mais e mais. Tomamos decisão com maior rapidez nas mudanças que se fazem necessárias. As pessoas que nos visitam nos ajudam a caminhar em frente, sem desanimar.
Uma mudança deve ocorrer com a organização ao redor da casa. Uma pessoa ao levantar e olhar ao seu redor, verificar que tudo está em ordem e belo, terá muito mais ânimo para encarar aquele dia.
Um fato chama a atenção: o turista fica encantado com a nossa alegria e satisfação. Isso porque como agricultores nos sentimos valorizados, conseqüência do trabalho e da venda dos produtos de nossas agroindústria, tornando-a sustentável e agregadora.
Sustentabilidade é o que devemos buscar, a terra deve ser preservada e ao mesmo tempo servir para tirar o nosso sustento. A propriedade tem de passar por um projeto de adequação de uso, que deve ser com a cultura mais conveniente. Não creio na monocultura, creio na agricultura diversificada, onde podemos dividir a terras em vários pedaços de culturas diferentes, plantadas de acordo com o que melhor desenvolver naquele lugar.
Temos de reflorestar as áreas destruídas. Plantamos eucalipto para o próprio consumo. Usamos eucalipto para lenha e madeira, não havendo necessidade de desmatar novas áreas. Temos de preservar o meio ambiente, pois dele depende o equilíbrio das cadeias alimentares existentes na natureza. Assim conseguimos controlar as pragas com mais facilidade.
Quando usamos técnicas adequadas e vendemos nossos produtos, temos a oportunidade de tornar a terra sustentável. Para isso é necessário não interromper o ciclo da vida. Plantar feijão, colher, vender e obter uma receita é o que todos fazem. Mas ao usar a palha do feijão para alimentar o gado, ele por sua vez a transformará em matéria orgânica, é o que a terra necessita para produzir com produtividade, tornando a sustentabilidade um fato real.
A sustentabilidade ocorre ao agregarmos valor. Agregar não é fácil, exige mudanças que nem sempre percebemos que de fazem necessárias, perceber o que os outros não perceberam. É descobrir o que é diferente, mas característico. Agregar é começar a cada dia, tudo de novo, o que há anos já fazemos. Agregar é fazer produto de qualidade, fazer cursos e buscar mercado. Agregar é tudo isso e mais: ouvir, estar atento para o que não pode sabemos fazer e observar. Agregar não é igual para todos. Cada um tem o seu modo de realizá-lo.
Para ter êxito o primeiro passo é buscar a sustentabilidade. Isto exige um bom tempo. Não podemos dar passos maiores do que as pernas. Devagar agregamos valores. Está análise deve ser feita em cada atividade, nunca devemos fazer só porque o vizinho fez e deu certo. Ver o que temos em comum e adaptar à realidade é o melhor caminho.
UMA BREVE ANÁLISE
Nestes anos percebi alguns problemas que o turismo enfrenta. O espírito egoísta de muitos. Considerando-se auto-suficiente e pensando que pode resolver tudo só. É normal pensar em uma solução que atenda a si e ao seu individualismo. Não crescemos por falta do espírito de parceria.
Não devemos omitir a qualidade que os outros têm. Com isso ofereceremos muitas opções ao turista. Ele retornará e todos ganharão. Quando deixamos de receber um turista, todos perdem. Temos de mudar a forma de trabalhar, ou seja, precisamos virar o saco pelo avesso.
É comum dizermos: falta apoio do governo, não temos estrutura, enfim, só falta, falta.. Temos estrutura, não temos organização. Não fazemos análise do problema, levantando as suas origens.
Não é certo querer resolver todos os problemas de uma vez. Dizemos que não caminhamos por falta de dinheiro. Pode ser que o dinheiro seja mal empregado. Está na hora de vermos o que cada um pode oferecer e fazer para a atividade caminhar.
O turismo não encontrou o seu devido espaço. O Brasil possui um dos maiores potenciais do mundo.  Temos que despertá-los. Esta tarefa é nossa. Se o turismo não atrai devidamente é porque oferece pouco. É preciso ter opções. Na montanha não é só agroturismo. Hotéis de luxo, pousadas rurais de menor custo, enfim, temos diversas modalidades para atender a todos. Com mais atrativos, melhor desempenho. Devemos manter as características da região.
CONCLUSÃO
Gostaria de exigir mais da sensibilidade dos governantes em relação ao meio rural. Não conseguem ver que o Estado torna-se um empecilho e não um parceiro para o homem do campo.
Temos de acreditar em nosso potencial e exigir mudanças para termos êxito. Temos dificuldade em nos organizarmos para mobilizações e reivindicações em busca de soluções para problemas comuns. Quando agrupamos devemos buscar soluções que sirvam a todos. Normalmente queremos ajuda que atenda a nossa dificuldade particular e nunca a solução coletiva. Quando unimos forças e pedimos um bem comum é mais fácil de alcançá-lo. Devemos trabalhar melhor.
O agroturismo é uma modalidade de turismo rural que tem características próprias e bem definidas, nasceu com uma particularidade, a espontaneidade. Não imitou formas e fórmulas já existentes. Nasceu numa comunidade agrícola, com fortes traços culturais e um meio ambiente propício. Criou mais uma opção, um novo nicho de mercado. É uma atividade que veio para a família rural como renda extra e complementar. Atendeu a uma parcela da sociedade que busca a tranqüilidade do campo, sua vida simples, suas tradições e culinária.
O
AGROTURISMO
AJUDA
A
RESGATAR
OS
VALORES
E
FIXAR
A
FAMÍLIA
RURAL
NO
CAMPO.

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