AUGUSTO RUSCHI, O MAIOR E O MAIS IMPORTANTE CAPIXABA.

No dia 12 de dezembro de 1915, certamente a Natureza pediu silencio. O motivo: estava vindo ao Mundo uma pessoa que seria o maior e o mais importante capixaba de todos os tempos. O silencio pedido era como uma salva de palmas para receber um indivíduo único e que mais adiante se destacaria na sua defesa.

HISTÓRIAS

1- Visitando uma propriedade rural no interior de Santa Teresa Augusto Ruschi na hora do almoço evitou educadamente a vasilha onde estava o tomate. O proprietário percebendo o fato convidou Ruschi para ir até a varanda. Apontou para o plantio de tomate e disse: esta parte é o que plantamos para vender, já naquele canto é o que plantamos para comer aqui em casa, não uso nenhum produto.

Esta história me foi contada por Ruschi, mas não me lembro se ele após voltar para a mesa, após ouvir a estratégia do produtor, ele teria comido  tomate.

2- A publicação Fitogeografia do Espírito Santo, editada pelo Museu Mello Leitão, é um depositário de centenas de informações sobre o meio ambiente capixaba, frutos e anos e anos de pesquisas. Ruschi deu de presente para muitos governadores do Espírito Santo. Ruschi me afirmou categoricamente que tinha absoluta certeza que nenhum dos presenteados havia lido o seu trabalho. A certeza vinha acompanhada:

- SE TIVESSEM LIDO TERIAM TOMADO UMA ATITUDE CONTRA A DEVASTAÇÃO IMPIEDOSA E CRUEL DE NOSSAS FLORESTAS.

3- Os estudantes da Faculdade Engenharia da Universidade Federal do Espírito Santo todo ano faziam um grande encontro denominado Semana da Engenharia. No início da década de 70 os palestrantes convidados foram Augusto Ruschi e o Deputado Federal por São Paulo  José Roberto Faria Lima, que era da Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação do Governo. As palestras seriam sobre meio ambiente, mas uma determinação da Reitoria proibiu que os dois de falarem.

Certamente que iriam falar dos problemas ambientais que a localização errada do complexo industrial  de Tubarão iria causar.

           Nesta época eu já conhecia Augusto Ruschi e fui com Carlos Perim, José Fernando Destefani dos Santos e Domingos Perim, para comunicar a proibição. Na varanda de sua casa, Ruschi nos ouviu atentamente e com os olhos cheios de lágrimas e emocionado falou:

           -ESTOU SENDO PROIBIDO DE FALAR NA MINHA TERRA, NO MEU ESTADO, PARA A SUA JUVENTUDE.

4- Um ex-governante capixaba um dia teria dito que as críticas que Ruschi fazia com relação ao plantio de eucalipto e a localização do complexo siderúrgico na região de Carapina, onde os ventos predominantes joga as partículas em suspensão no ar –poluentes - em direção a Vitória era apenas curiosidade do cientista’’. Me lembro que em toda palestra Ruschi relatava os desastres ecológicos, ambientais, econômicos e humanos que o progresso sempre anunciado pelos políticos e donatários capixabas que estava trazendo para o Espírito Santo. Para fechar a conversa ele dizia: e ainda tem gente que fala que tudo isto é curiosidade de cientista.

5- Quando Ruschi estava internado no Hospital São José, em junho de 1986, ele recebeu a visita do médico Laélio Lucas. Ruschi me apresentou dizendo que eu era um dos responsáveis pela chegada da agricultura orgânica e sem veneno para o Espírito Santo. A conversa seguia e passava por vários temas e assuntos.  Num determinado momento Laélio disse: Ruschi tem duas categorias que devemos tomar muito cuidado com elas- policial e jornalista. Imagino que Laélio imaginou que eu era agrônomo .

Hoje, 12 de dezembro de 2012, vou fazer vários momentos de profundo silencio para homenagear o maior e mais importante capixaba. Augusto Ruschi bradou aos quatro cantos do Espírito Santo e  pelo Brasil e Mundo afora sobre a violência da eliminação das florestas e das ações criminosas de pessoas que colocaram indústrias em locais errados, mas que lhes renderam postos e cargos nestas empresas.

As palavras de Augusto Ruschi foram profecias e estão vivas, disto eu não tenho a menor dúvida.

Logo após a morte de Augusto Ruschi, fiz um texto que quero registrar mais uma vez:

TRIBUTO A AUGUSTO RUSCHI

COM QUE OLHOS VAMOS VER O FUTURO?
COMO IREMOS EM FRENTE, SEM FAROL E SEM LUZ?
HOJE APENAS  NOS SONHOS NOS REENCONTRAMOS.
VOLTAM AS CONVERSAS E VOLTAM AS LÁGRIMAS.
SONHANDO SABEMOS DA REALIDADE,

MEU CARO MESTRE,
MEU GRANDE AMIGO.
AINDA SENTIMOS A TUA PRESENÇA.
HOJE DESCANSAS NA FLORESTA.
HOJE AINDA CHORAMOS.
HOJE SABEMOS COMO É DURO VIVER A AUSENCIA DE QUEM AMAMOS,

 AUGUSTO RUSCHI

Texto encerrado às 23 horas e 4 minutos do dia 11 de dezembro de 2012.