A rampa de voo livre de Cachoeira Alta, em Alfredo Chaves, foi palco da concretização do sonho de um índio ianomami, às vésperas do Dia do Índio. Matake Terany, 70 anos, conseguiu realizar seu maior desejo: voar como os pássaros. O piloto alfredense, Rodolpho Cavalini, com experiência há 20 anos em voo de parapente, foi quem proporcionou a aventura.
Segundo Terany, como muitos membros da sua tribo, ele sempre observava os pássaros e pensava como conseguir realizar a fascinante emoção de voar. “Muitos subiam em morros e se jogavam, tentando incorporar os espíritos das aves, e acabavam morrendo, mas eu nunca me arrisquei”, declarou.
Matake, que viajou cerca de cinco mil quilômetros para realizar a vontade de voar, é da tribo ianomami, no estado de Roraima, onde vivem milhares de índios da mesma tribo. Lá ele é considerado como uma espécie de conselheiro tribal e curandeiro.
O sonho de voar tornou-se mais real quando de passagem por Búzios (RJ), o índio conheceu o brasileiro Magno de Barros, que mora nos Estados Unidos da América e é filho de índios. Magno tem um projeto de intercâmbio com as tribos brasileiras. Depois de Terany relatar seu maior sonho, foi trazido para a rampa de Cachoeira Alta, considerada uma das melhores do país para prática do esporte.
“Escolhi a rampa de Cachoeira Alta por ser muito famosa e recomendada por grandes pilotos brasileiros e internacionais. Lembrei do Rodolpho e de sua experiência, então decidimos onde seria realmente concretizado o sonho de Matake”, disse Barros.
Segundo Cavalini, proprietário da escola de voo livre Fora do Ar, o voo foi emocionante e ocorreu no final da tarde de segunda (13) com duração de 20 minutos. “Fiquei emocionado com o grande sentimento do índio. Foi incrível. Nosso trabalho é realizar sonhos e quando vemos que esse sonho é maior que todos os interesses pessoais, ficamos ainda mais empolgados. Fui apenas um instrumento para proporcionar a realização de um desejo, com segurança e emoção”, disse o instrutor.
A rampa de Cachoeira Alta fica a 5 km da sede do município e tem 465 metros de altitude. Devido a sua geografia, ela é excelente para voo de parapente e asa delta. Lá, diversos pilotos, como Cavalini, oferecem voo duplo para quem deseja realizar um sonho como o do ianomami.
Sobre os ianomami
Os ianomami formam uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta tropical do Norte da Amazônia cujo contato com a sociedade nacional é, na maior parte do seu território, relativamente recente. Seu território cobre, aproximadamente, 192.000 km², situados em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela na região do interflúvio Orinoco - Amazonas (afluentes da margem direita do rio Branco e esquerda do rio Negro). Constituem um conjunto cultural e lingüístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos adjacentes que falam línguas da mesma família (Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam). A população total dos Yanomami, no Brasil e na Venezuela, é hoje estimada em cerca de 26.000 pessoas. (Fonte:http://pib. socioambiental.org/pt/povo/ yanomami)
Índio percorre o Brasil em busca de ajuda
Terany vem percorrendo todo o Brasil para conseguir ajuda para sua tribo e para realizar integração com outros índios e aldeias. Sua vinda ao Espírito Santo, além de realizar o sonho de voar, tem outro motivo: ajudar aos índios Guaranis de Aracruz, Norte do Estado.
Em Alfredo Chaves, o indígena realizou rezas na vila de Cachoeira Alta onde fez o voo, a fim de pedir chuva para a região, visitou escolas do município e ainda fez chás para pessoas doentes da comunidade.
De acordo com o conselheiro tribal, ele deveria voltar para a tribo em setembro, obedecendo ao chamado do pajé que enviou mensagem pelas estrelas, mas de acordo com ele, só voltará no final do ano, após ajudar os índios Guaranis e conseguir um barco com motor para sua tribo, que necessita para transportar alimentos pelo rio.
“Vivemos no meio da floresta, e um barco a motor nos ajudará muito”, disse o ianomami, que segue para Aracruz neste final de semana.
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