sexta-feira, 17 de abril de 2015

Médico cubano do Programa Mais Médicos em Viana, no Espírito Santo, enfatiza a necessidade de medicina humanista no Brasil

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Viana é uma cidade da região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, a 22 km da capital, com 65 mil habitantes¹. No início de 2013, Viana contava com apenas 39 médicos para atendimentos em todo o seu território. Desde então, o município mais que triplicou o número de profissionais, sendo 21 deles oriundos do Programa Mais Médicos, e, dentre estes, 14 cubanos. A Unidade Básica e Especializada de Saúde de Viana, mais conhecida como Viana Sede, recebeu um grande reforço na sua equipe: foram dois médicos argentinos e dois médicos cubanos do Programa Mais Médicos. Além dos quatro estrangeiros, a unidade conta ainda com dois médicos brasileiros oriundos do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica, o Provab.
“Antes a gente tinha as equipes mas faltavam os médicos, e a gente tentava fazer o que podia com enfermeiros, agentes de saúde e técnicos de enfermagem. Mas a gente não conseguia dar conta, porque nem sempre tinha médico disponível na unidade. Com a chegada do Programa Mais Médicos nós diminuímos muito o número do pronto atendimento, porque agora podemos agendar as consultas e fazer um planejamento. Isso foi bom demais para nós”, conta Roseny Peixoto Bragato, gerente da unidade.

O cubano Rafael Matos Medina chegou ao Brasil em novembro de 2013 e é um médico apaixonado por sua profissão. “Nós trabalhamos em equipe, e estamos aqui para qualquer paciente que apareça, seja urgência, consulta agendada, o que for. Fazemos reuniões, debatemos os casos, e ter várias nacionalidades é bom por causa da troca de experiências. Os médicos brasileiros nos ajudam muito. Nós nunca entramos em discussão por diferenças ideológicas ou de formação. Quando interatuamos é a favor do atendimento, da melhoria dos pacientes. Nossa relação é ótima e isso fortalece o grupo”, diz ele.

Os médicos do Programa chegam na unidade entre 7h e 8h e permanecem atendendo até 16h ou 17h, dependendo da escala. Há dias na semana em que alguns médicos chegam às 11h e saem às 19h, para consultar as pessoas que saem do trabalho e que só podem ser atendidas após o horário comercial. “O médico também tem que estar disponível para essas pessoas que estão o dia todo no trabalho. A medicina tem que ser baseada no humanismo, na solidariedade, essa é a realidade do médico”, afirma Rafael.

O cubano destaca a formação humanista da medicina em seu país e diz que o Brasil precisa fortalecer esse aspecto. “A formação em medicina aqui custa muito caro, e em Cuba é de graça. Ernesto Che Guevara era médico. E uma das causas de que ele pegasse em armas naquele tempo foi que ele foi testemunha da desigualdade e da insalubridade a que era submetido o povo na América Latina. Hoje a esquerda radical não existe mais. Todo mundo quer viver bem, ter desenvolvimento econômico e uma vida boa. Mas ainda há muitos necessitados no mundo precisando de um médico que lhes dê a mão, que lhes examine, que lhes escute. O povo não precisa de um médico especialista em medicina nuclear. Precisa de um médico para fazer pré-natal, assegurar que as crianças tenham um desenvolvimento com boa saúde, cuidar dos diabéticos, dos hipertensos. A medicina tem que ter como foco a pessoa, a sociedade e a justiça social.”

Vale lembrar que o Programa Mais Médicos não se limita ao componente de mobilização de médicos para lugares que necessitam de provimento – provavelmente, o componente que tem recebido maior divulgação. O programa tem um alcance mais abrangente: o incremento e a melhoria da infraestrutura dos serviços de saúde, o aumento da formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde e as alterações no currículo acadêmico de formação em medicina, que passará a ter maior orientação para a atenção básica de saúde.

Das 4 mil novas vagas anunciadas para 2015, 91% foram preenchidas por médicos brasileiros

A demanda de 91% dos municípios que aderiram ao novo edital do Programa Mais Médicos foi integralmente atendida já com a primeira chamada de médicos com CRM Brasil. Dentre as 1.294 cidades, 1.181 conseguiram atrair profissionais para suprir 100% das vagas disponíveis no novo edital, lançado em janeiro deste ano. Outras 46 tiveram a solicitação parcialmente atendida e 67 municípios ainda não conseguiram atrair nenhum médico.

Das 4.146 opções disponíveis para os médicos, 3.936 já foram ocupadas. Ao todo, 1.227 cidades e 12 Distritos Indígenas atraíram médicos para ocupar integral ou parcialmente as vagas nas unidades básicas de saúde. Cerca de 50% (605) dos municípios escolhidos estão dentro do critério de vulnerabilidade social e econômico, como as cidades com 20% de sua população em extrema pobreza, com IDH baixo e muito baixo, localizadas no semiárido, Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Ribeira e nas periferias de capitais e regiões metropolitanas. Também foi garantida expansão para os distritos indígenas. O ministro da Saúde, Arthur Chioro, avalia que os excelentes números de inscrição dos médicos e escolha de municípios demonstram a efetividade do Programa. “O Mais Médicos de fato está tendo uma resposta de credibilidade da população e dos gestores, que avaliam positivamente, além dos médicos que participam do Programa. Todos demonstram uma satisfação muito grande com o Mais Médicos”, comemorou².
O médico cubano Rafael endossa a aceitação do Programa. “O SUS tem muita coisa boa, e muita organização. Nós estamos aqui para reforçar essas equipes de saúde, para que não falte um médico, para que se chegue uma criança, um adulto, uma pessoa para ser atendida, que não espere nas filas intermináveis que havia, aqui mesmo neste posto de saúde, e que hoje não existem mais. Agora temos muitos médicos aqui, graças ao Programa Mais Médicos, que é uma conquista para o Brasil.”
Série Mais Médicos – Vídeo
A OPAS/OMS no Brasil estruturou uma série de reportagens sobre o Programa de Cooperação Técnica Mais Médicos. A cada edição, será apresentado um vídeo mostrando a experiência do programa em algumas regiões do país.

O objetivo dos vídeos é refletir, em linhas gerais, o andamento da cooperação, desde a chegada dos médicos cubanos, o processo de formação, a integração com outros profissionais, a percepção da população, os resultados obtidos, os avanços, os processos de inovação e a troca de experiências.

Neste décimo quinto episódio, Viana – ES, o vídeo mostra a análise da gerente da Unidade de Saúde, o depoimento do médico cubano em exercício, a opinião de uma paciente e o relato de uma agente comunitária de Saúde.

Unidade Básica e Especializada de Saúde de Viana

A Unidade Básica e Especializada de Saúde de Viana (CNES 2486210)³ atende a uma população de aproximadamente 2,5 mil pessoas, conta com 2 equipes de saúde da família e 50 funcionários, entre médicos, administrativos e profissionais de saúde. Presta atendimento ambulatorial e demanda espontânea, além de realizar visitas domiciliares. Funciona de segunda a sexta.

O Programa Mais Médicos

O Mais Médicos é um Programa de saúde lançado em 08 de julho de 2013 pelo Governo Federal, cujo objetivo é suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do Brasil.

Médicos brasileiros tiveram prioridade em preencher as vagas do programa. As vagas remanescentes foram oferecidas primeiramente a brasileiros formados em universidades no exterior e em seguida a médicos estrangeiros, que trabalham sob uma autorização temporária para praticar medicina, limitada à provisão de atenção básica de saúde e restrita às regiões onde serão direcionados pelo Programa.

A OPAS/OMS no Brasil e o Ministério de Saúde assinaram um Termo de Cooperação para colaborar na expansão do acesso da população brasileira à atenção básica de saúde. O termo inclui diversas linhas de ação, desde documentar, disseminar informação a prover aconselhamento técnico e apoio à capacitação e treinamento continuado aos médicos selecionados, seguindo as recomendações do Código Global de Práticas em Recrutamento Internacional de Pessoal de Saúde da OMS. A OPAS/OMS também assinou um Acordo de Cooperação de natureza similar com o Ministério de Saúde Pública de Cuba.

Os médicos cubanos vão trabalhar nos municípios que não foram selecionados por nenhum médico (brasileiros ou estrangeiros) nas primeiras rodadas de recrutamento. A maioria destes municípios tem 20% ou mais da população vivendo em extrema pobreza, a maioria está nas regiões Norte e Nordeste do país. Todos os médicos fazem um treinamento de 3 semanas de duração, uma semana de acolhimento nos estados aos quais serão destinados e um módulo de avaliação.


Referências
¹Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Acessado em: 13/02/2015.
²Ministério da Saúde. Blog da Saúde. Acessado em: 12/02/2015.
³Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Acessado em: 12/02/2015

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