quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

JOÃO DE DEUS MADUREIRA FILHO me acolheu, como fazia com todos.

                           

                     Sempre que vou a Cachoeiro de Itapemirim faço duas viagens.
                             A primeira é física, um deslocamento na faixa de 130 quilômetros, como passageiro de um veículo. Fácil. Como saio de Vila Velha, no trajeto costumo aturar algum engarrafamento quando vamos nos aproximando de Iconha, já virou rotina.
                             A segunda viagem é no tempo, quando no início de 1969 ali cheguei vindo de Castelo, com 20 anos de idade e com o sonho de ir para Vitória fazer o Curso de Geografia.
                             A circunstância da vida me fez adiar o sonho e fazer um estágio em Cachoeiro.
                             Nesta segunda viagem sempre me lembro de JOÃO DE DEUS MADUREIRA FILHO, médico por formação, professor por competência e um acolhedor de gente por vocação. No ano de 1969 fui ser Tesoureiro da Casa do Estudante (CECI). Nesta época passei a frequentar a casa do DOUTOR JOÃO, como todos se referiam a ele.
                              Na sua casa, olhando com uma lente de 2014, é fácil perceber que ali era território livre para as pessoas que pensavam e agiam diferente do período negro da DITADURA CIVIL MILITAR que muito infelicitou o Brasil. Eu não fui o único frequentador, o portão e a porta da casa era franca e aberta todos.
                              É fácil lembrar o Mestre falando de suas experiências de vida e distribuindo ironias para todos os lados. Era uma escola real e verdadeira, bebi na fonte. O público era variado, as o papel sobre a mesa e o Mestre explicando os seus pontos de vista sempre fazendo em forma de desenhos. Sempre era servido um cafezinho e entrávamos madrugada adentro. Se era dezembro, sempre aparecia uma deliciosa rabanada, aliás ali era uma casa de ascendência portuguesa.
                               Neste tempo todos sabiam quem era quem e quem denunciava ao aparelho repressivo da DITADURA CIVIL MILITAR.
                               No ano de 1970 saí de Cachoeiro rumo a Vitória para cursar Geografia, mas nos finais de semana que retornava, ia sempre na casa do Mestre.                     Em 1971 retornei para Cachoeiro, para ser o Revisor no jornal da Prefeitura, O MOMENTO, o que me facilitou a voltar a frequentar com mais assiduidade as aulas do Mestre MADUREIRA.
                               Em 1972 voltei definitivamente para Vitória para trabalhar no jornal O DIÁRIO. Até 1983 fui aluno do Mestre, quando ele partiu.
                               Me lembro que o Mestre sempre me perguntava sobre o CAFÉ ECOLÓGICO, denominação que ele dava ao Café Conilon que estava saindo da clandestinidade imposta pelo mercado. Neste tempo, 1974 fui ser repórter de Agricultura no jornal A Gazeta e posteriormente no jornal A Tribuna. MADUREIRA sabia de toda história da chegada do Conilon no Espírito Santo em 1911, pelas mãos do Governador Jeronymo de Souza Monteiro.
                               Hoje fico pensando se ainda existe gente que acolhe os mais jovens, os mais curiosos e os inquietos, como fazia JOÃO DE DEUS MADUREIRA FILHO? Eu sempre tentei imitar a ação da qual fui beneficiários, acolher. Eu sei que o Mestre está me olhando e querendo me dizer, como sempre me falava:
                              - E aí Mansurzinho?
               JOÃO DE DEUS MADUREIRA FILHO me acolheu, como fazia com todos.

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