sábado, 28 de fevereiro de 2015

QUEM VAI LER JORNAL DAQUI A 10 ANOS?

Quando o meu neto Rihan tinha 9 anos de idade, em 2011, eu fiz um texto no jornal A Gazeta, com o título- MEU NETO MINHA NETA.
Na época eu lhe perguntei se ele havia lido.
Como resposta: vovô, você acha que menino lê jornal, menino vai para a internet.

No final do ano 2014 ele me mandou um email e dizia, '''' vovô, olha o que eu achie na Internet.


Meu neto e minha neta

Ronald Mansur

08/05/2011 - 20h46 - Atualizado em 08/05/2011 - 20h46
A Gazeta
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Outro dia fazendo um mergulho no passado notei que convivi pouco com meus avós. Do lado paterno apenas me lembro de minha avó Teresa e uma história que ela sempre contava. O meu avô libanês - que eu nem cheguei a conhecer -, Chico Turco, morreu 17 anos antes do meu nascimento. Já pelo materno tenho na memória o meu avô Heraclides, que foi professor de muitos em Muniz Freire. Já a vovó Laureta, lembro que ela era pequena e usava roupa de tom escuro. No lado materno a convivência foi maior do que do lado paterno, mas um tempo curto.

Lamento que a falta de uma maior convivência com meus avós deixou uma grande lacuna. Quanto maior a distância e menor a convivência, maior parece ser a carência. Deve ser por isso que hoje na condição de avô de Rihan, 9 anos, e Yasmin, 3, não perco uma oportunidade de estar com eles. Uns dizem que estou ajudando, mas tem gente que fala o contrário.

No caminho entre a creche de Yasmin e a minha casa, a gente sempre para numa loja de alimentos na Praia da Costa. Outro dia a minha neta Yasmin pediu para ir ao banheiro. Como bom conhecedor das condições dos banheiros utilizados pelos homens, fui direto ao banheiro feminino. Já na chegada recebi uma indagação direta. "Vovô, menino pode entrar aqui?" Falei que sim e expliquei que o banheiro das meninas era mais limpo que os dos meninos.

Daí para frente foi o ritual normal em qualquer banheiro. Depois de fazer o procedimento higiênico, recebi de volta uma segunda indagação: "Vovô, por que você jogou o papel higiênico no vazo e deu descarga? Por que não jogou na lixeira?" Dei uma explicação meio marota e seguimos pra casa.

Um mês após aconteceu um fato que imaginei que havia chegada a hora de empatar a partida. Minha esposa Eliane, brincando com Yasmin na sala, pediu que ela fosse até o lavabo para limpar o nariz. Logo em seguida ouvi o barulho da descarga. Imaginei, agora é minha vez, na volta entro em ação. Quando ela chegou fui logo perguntando: "Por que você deu descarga?" Como resposta recebi um convite, "Vovô, vem ver". Seguimos para o lavabo e ela me falou: "Olha, aqui não tem lixeira".

Com Rihan tenho duas histórias. Nas nossas caminhadas pelas ruas da Praia da Costa encontramos um grande número de pombos embaixo do vão da Terceira Ponte. Fiz uma sugestão: "Vamos correr atrás dos pombos?" Para a minha proposta recebi uma lição: "Vovô, eu já falei para os meus colegas que a gente não deve maltratar os animais".

Na minha casa sempre tivemos apenas um aparelho de TV. Como os interesses são diferentes e diversificados, a opção às vezes causa pequenos conflitos familiares. Mas o horário do noticiário é sagrado. Quem não gosta é o Rihan, que depois de muita discussão cede, mas sem antes reclamar muito. Um dia na sua casa eu cheguei e liguei o televisor e não demorou ele ao meu lado falou baixinho: "Vovô, aqui em casa quem comanda o controle da televisão sou eu". Eu estava num outro território, onde o dono havia delimitado o seu domínio.

Terminando este texto irei cumprir a missão e o sagrado compromisso que assumi, de forma vitalícia, encontrar-me com Rihan e Yasmin. Somente quem tem a oportunidade de conviver com neto e/ou neta pode medir e dizer com alegria infinita: vale a pena!

Ronald Mansur é jornalista.
E-mail: ronaldmannsur@gmail.com

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