segunda-feira, 27 de maio de 2013

As histórias e o artesanato que Viana reserva


Texto: Nayara Miranda / Foto: Nayara Miranda
27/05/2013 - 15:05 h

A pauta inicial parecia simples. Uma mulher, moradora do Bairro Jucu, em Viana, que realiza um trabalho artesanal por meio da confecção bolsas. Legal, não é? Exatamente assim que pensei no caminho para a casa de Dona Olinda dos Santos Kirmse. Ao chegar, me deparei com uma mulher morena, bonita e com um sorriso e uma receptividade de dar inveja a qualquer jornalista ou assessor que vai realizar qualquer tipo de entrevista. Naquele momento percebi que a pauta corria um sério risco de desviar do eixo principal e se transformar em algo muito maior.
Adianto que, da pauta bacana sobre as bolsas artesanais, descobri uma história que intitulo de, no mínimo, excepcional. Olinda adora ser chamada de artesã, e durante a conversa, quando falávamos descontraidamente sobre a marca dela e uma possível etiqueta, ela já corre para me mostrar: “Costumo escrever dentro das bolsas assim ‘Olinda Bolsas’, mas prefiro ‘Olinda Artesã’, é mais chique e eu amo ser artesã”, finaliza a frase com uma boa gargalhada, daquelas gostosas de ouvir.
A alegria de Olinda me encantou desde o primeiro instante, o sentimento era de estar em casa, mesmo sendo àquela a primeira vez que via e ia até a residência dessa encantadora mulher. A pauta se transformou em uma conversa e um café da tarde. Olinda havia preparado um bolo mesclado e um suco de cajá especialmente para ‘o pessoal da prefeitura’! Mas voltando às bolsas, acho que não preciso nem dizer o quanto são lindas. E mais que isso, o amor que ela demonstra a cada momento que fala do trabalho, dar um tamanho muito maior a um artesanato que, por si só, já é admirável.
Olinda tem 58 anos, e há 38 anos mora em Jucu e diz com toda certeza, “não troco aqui por outro lugar”. E foi nesse momento que, ao completar a frase, que eu descobri o ‘algo mais’ que enxerguei nela quando a vi. “Meu marido quis ir embora daqui quando perdemos nosso filho, mas disse a ele, a dor vai nos acompanhar aonde a gente for. Não adianta ir embora”. A sabedoria e a força de uma mulher que perdeu o filho de 28 anos, há aproximadamente cinco anos, em um acidente de moto. Aí entra o apego de Dona Olinda pelas bolsas.DSCN9505.JPG
Ao perder o filho, Olinda entrou em depressão, e foi no trabalho que já realizava há 3 anos que encontrou espaço para se adequar à nova realidade. “No mesmo ano que perdi meu filho comecei o curso de artesanato em bolsas, para aprimorar o que eu já sabia. Lá eu ria, conversava, e continuava a fazer o que eu amava, minhas bolsas. No início era um hobby, depois aos poucos comecei a vender, e com a perda do meu filho, o trabalho se transformou na minha cura. Isso que me ajudou a levantar novamente”, conta.
As palavras de Dona Olinda se transformaram em uma retrospectiva de vida. A sobrinha, Maria Rosana da Silva, também estava na casa e me mostrava com todo o carinho as bolsas e disse que aprendeu com Olinda a fazer o trabalho, e hoje, além de ajudá-la na confecção, também vende as bolsas, que custam, em média, entre 20 e 45 reais. Dona Olinda também me mostrou algumas almofadas e mantas de bebê que também faz. Mas logo diz: “Meu foco são as bolsas, elas que amo fazer”.
Com toda propriedade, Olinda me explica o processo para fazer cada bolsa, e diz com propriedade os nomes técnicos deste tipo de artesanato, chamados de patchwork, patch aplique e pintura com bordado. Antes de ir, ela me mostrou várias fotos da família, contou sobre a mãe que vai completar 90 anos, dos churrascos que gosta de fazer no quintal (inclusive pegou meu telefone para me convidar para o próximo), e da filha de 32 anos que está planejando o casamento, e isso regado a um bolo e um suco de cajá natural, de dar água na boca só de lembrar.
Ao me despedir de Dona Olinda, dei-lhe um abraço forte e só consegui desejar-lhe muita paz e agradecer pela oportunidade de poder conhecer uma pessoa minimamente surpreendente. Sorrisos assim, corações puros mesmo depois de tanto sofrer e uma fé inabalável, se tivermos sorte, encontramos pouco mais de 3 ou 4 vezes na vida. E eu tive!

Para quem quiser conferir o trabalho de Dona Olinda, o telefone para contato é: 9716-7035

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