sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O QUILOMBO DOS BRANCOS – Jorge Kuster Jacob

A história oficial brasileira não registra ou descreve a parte que só interessa a elite. Mas, nós imigrantes europeus, necessitamos resgatar o massacre dos Mucker, que aconteceu em 1873, no Morro Ferrabrás, município de Sapiranga, no interior do Rio Grande do Sul. Lá se isolaram pobres imigrantes alemães que, sem assistência educacional e técnica de nossas autoridades políticas e sem assistência religiosa de nossa igreja oficial, passaram a desenvolver uma comunidade subversiva política e religiosamente. Para complicar a sociedade machista a líder era uma mulher, Jacobina Mentz Maurer que fazia reflexões e sermões religiosos. Seu marido, João Maurer, era considerado um curandeiro, chamado de “médico fabuloso”. Usava chás e rezas.
Discriminados e perseguidos pelo Império na época e pela nossa sociedade puritana, os Mucker passavam também a ser cada vez mais radicais e contra tudo aquilo que era considerado oficial. Temos por obrigação analisar o abandono político, religioso, educacional, comercial, social e cultural e até mesmo geográfico para que não comentasse uma injustiça ainda maior hoje contra aqueles pobres imigrantes que procuravam um pedaço de terra para plantar e outras razões para viver.
Aliás, a história camponesa brasileira está recheada dessas injustiças cometidas pelas nossas autoridades políticas e religiosas em nome dos coronéis e mais recentemente dos fazendeiros deste imenso país. Esses massacres que irrigaram de sangue esse grande solo brasileiro porque queriam um pedacinho de terra para viver podemos e devemos citar os Massacres dos Tamoios (Rio de Janeiro), de Palmares (Alagoas), de Canudos (interior baiano), Cangaço (todo interior nordestino), Contestado (Santa Catarina), Monges Barbudos (Rio Grande do Sul), Cotaxé (Espírito Santo), Ligas Camponesas (nordeste), Araguaia (Pará) e mais recentemente o massacre de Curumbiara (Rondônia) e Carajás (Pará). Todos esses massacres porque queriam implantar nesses lugares a agricultura familiar (a mais ecológica, produtiva, diversificada e justa socialmente).
Como podemos ver. Foram exterminadas nações inteiras de indígenas, negros, caboclos, europeus. Pobres. Tudo em nome do latifúndio e do grande capital. Infelizmente esse massacre nacional sempre contou com o apoio do Estado e da Igreja Oficial. Hoje temos o Movimento dos Sem Terra/MST. Considerado o movimento mais organizado e justo a nível mundial. Elogiado pelo papa, mas tão perseguido e discriminado pela elite, por igrejas ditas neopentecostais e pelos detentores de terras improdutivas, terras indígenas e terras quilombolas.  
As grandes cidades brasileiras continuam inchadas dessa população excluída, vivendo nos morros, favelas e na marginalidade trazendo sérios problemas sociais como o desemprego, tráfico de drogas e a criminalidade.  Enquanto a sociedade brasileira não perceber que os campos deste grande território brasileiro necessita passar por uma profunda reformulação agrária como garante a Constituição Federal  que regulamenta a função social da terra viveremos nesse país com taxas altas de desempregos e criminalidade. A nossa constituição define claramente a função social da terra em 4 dimensões: função produtiva, trabalhista, ecológica e social. O dia que as autoridades conseguirem cumprir a lei e fazer com que a terra ou qualquer outra empresa cumpra suas 4 funções sociais com certeza seremos o maior país do mundo em todos os sentidos porque riquezas minerais, animais, vegetais, clima e dimensões temos para isso. O desemprego e a criminalidade é fruto da ganância do povo brasileira e da incompetência político, religiosa, cultural e educacional desta nossa grande e idolatrada e amada pátria brasileira.

 Jorge Kuster Jacob é sociólogo e professor de História do Centro Estadual Integrado de Educação Rural/CEIER de Vila Pavão (ES).

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