quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

AGRICULTOR DE VILA PAVÃO SENTE-SE INJUSTIÇADO PELA FISCALIZAÇÃO POR PRODUZIR ÁGUA - texto de Jorge Kuster Jacob


O agricultor familiar Nivaldo Bruno, morador do Córrego São Sebastião, a
6 quilômetros da sede de Vila Pavão, no norte do Espírito Santo,
proprietário de 3 alqueires de terra, casado com Lindaura Jacob Bruno e pai
de 3 filhos: Aline, Lucas e Arieli pode ser considerado também um
produtor de água. A grande seca que assola o norte do Estado vem trazendo
sérios problemas no déficit hídrico. Em muitos lugares já não temos água
para o consumo humano. Bombas de irrigação já foram lacradas pelo poder
público, inclusivo a bomba de água do Nivaldo Bruno.

No Córrego São Sebastião não é diferente. Quando saímos de Vila Pavão
saímos da nascente do córrego em direção o desaguar no Rio Cricaré
(próximo ao patrimônio de São Gonçalo, distrito de Nova Venécia). Este
afluente do Rio Cricaré desde a cabeceira podemos perceber o seu penar.

Açudes secos ou em alguns lugares o córrego já não tem água. Ninguém
mais irriga café ou pasto ou outras plantações. Até a horta da família Bruno
(que deveria ser Brunow) não existe mais.

Mas quando chegamos à propriedade do Sr. Nivaldo Bruno e damos de
cara com 3 pequenos açudes ecologicamente tratados e com as margens
com vegetação parece um pequeno paraíso no meio de um deserto.Paramos
para fotografar, Foi quando o senhor Bruno descia da roça com a camisa e
calça toda molhada de suor. Descobrimos que em cima de apenas 3
alqueires a família Bruno preserva 5 nascentes o que faz com que ele ainda
tenha muita água nos seus três açudes.

“-Durante 20 anos que moro aqui sempre procurei ajuda do Poder Público.

Se quis ter um açude tive que construir com meu irmão a mão e carregando
a terra com tobata. Se quis uma “caixa seca” tiver que construir uma
quando poderia ter 50. Se quis mudas nativas para reflorestar tive que
produzir sozinho. Temos de tudo um pouco aqui: gado, porcos, galinhas,
peixes, banana, frutas, horta, cana, café, manga, coco, jaca, romã, acerola,
maracujá, entre outras coisas de uma agricultura familiar. Sempre fomos
contra aprofundar o leito do córrego como a maioria faz. E por isso hoje
temos água até para ajudar os vizinhos”. - disse com ar de revolta, Nivaldo
Bruno.

 Todo mundo que passa ali na estrada percebe a abundância de água nos
seus açudes.  O que deixa a família revoltada é que fizeram o “exercício de
casa” e os outros deixaram a desejar. E hoje ele “pago o pato” por isso.

Dizendo melhor, Nivaldo é penalizado por ter preservado, ou melhor,
produzido água e inclusive teve a sua bomba lacrada. Quando quem
deveriam ser penalizados são os que abaixaram o leito do córrego,
desmataram e deixaram sem proteção verde suas nascentes mas foram
pisoteadas pelo gado e hoje nem água para beber tem.

Nivaldo inclusive acha que deve contribuir com o desespero da
comunidade por falta de água. Mas ele se pergunta: O que vai ser feito com
aqueles que destruíram suas nascentes e fizeram tudo o contrário desde
nossa colonização. E o que ele vai receber do Poder Público que nunca fez
algo que pediu da “porteira pra dentro” por ter produzido água.

Nivaldo acha que já está contribuindo com as comunidades vizinhas
quando construiu seus açudes e protege suas nascentes e o leito do córrego
dentro das leis ecológicas e que essa ação abastece inclusive as nascentes
vizinhas e seus açudes, cobertura morta e viva contribui com todo esse
processo. “Eu levo todas as folhas secas, inclusive de coco e bananas para
jogar na lavoura e ser vir de protetor da terra e segurar umidade na terra.”

Nivaldo ainda lembra que durante estes 20 anos recebia orientação para
fazer a coisa certa. “- Obedeci. E hoje eu sou o penalizado? Pergunto: por
que os que destruíram não fizeram o mesmo? Por que temos que ser
penalizados em função deles?”

Ainda hoje assistimos a irrigação de pastagens e lavouras de café e
ninguém aparece para fiscalizar. É tremendamente contraditório.

“Enxergam, ameaçam e lacram a bomba de quem durante 20 anos fez a
coisa certa e não enxergam quem durante esses mesmos 20 anos fez a coisa
errada”. Será que quem tem mais terra, é fazendeiro, tem monocultura e faz
estragos profundos na preservação dos nossos recursos hídricos corrompeu
quem deveria justamente fiscalizar? E agora mais uma vez o pequeno e
equilibrado agricultor familiar e produtor de água que deveria receber pela
água produzida ou receber royalties pela água produzida. Ou até mesmos
receber ajuda técnica e material tipo uma irrigação por gotejamento do
poder público que nada pode fazer da “Porteira para dentro” mas agora
precisa de algo que vale ouro que este mesmo produtor sem a mínima
ajuda produz da “porteira para dentro” graças a sua iniciativa particular.

Nivaldo Bruno e família desmotivada já pensam em mudar de Vila Pavão.

Vender seus 3 alqueires com muita água  e comparar 300 em Rondônia ou
Mato Grosso é animador. Na década de 1970, Vila Pavão, inclusive
parentes da família Bruno emigraram para Rondônia e no último ano
(2015) alguns parentes de Nivaldo venderam suas propriedades e
emigraram para Mato Grosso.





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