segunda-feira, 20 de julho de 2015

O Café no Paraná 40 anos depois da geada de 1975 - texto Sérgio Marqueze



No amanhecer de 18 de julho de 1975 a tragédia se abateu sobre o Paraná. Uma forte geada, das mais intensas do século passado, dizimou todas as lavouras de café do Estado. Uma das conseqüências – talvez a pior - foi o êxodo, com cerca de 2,6 milhões de pessoas deixando o meio rural. O Paraná nunca mais foi o mesmo. Aquela manhã gelada de 40 anos atrás, aliada a outros fatos ocorridos na mesma época, disparou uma série de transformações econômicas e demográficas que fizeram do Estado o que ele é hoje.
A dimensão do estrago pode ser medida pelas estatísticas. Na safra de 1975, cuja colheita havia terminado pouco antes da geada, foram colhidos 10,2 milhões de sacas de café, o equivalente a 48% da produção brasileira. O Paraná era o líder mundial nessa cultura e tinha uma produtividade superior à média nacional. No ano seguinte, a produção foi de 3,8 mil sacas. Nenhum grão de café chegou a ser exportado e a participação paranaense na produção brasileira caiu para 0,1%.
O prognóstico dos especialistas era de que o prejuízo chegaria a Cr$ 600 milhões (pela cotação da época US$ 75 milhões) apenas na cultura do café. O trigo também sofreu perda importante, de mais de 50%. Mas era o café que sustentava a economia do Paraná. Uma situação que mudaria logo em seguida, já que os cafeicultores nunca mais se recuperariam do impacto.
Cerca de uma década antes daquele trágico acontecimento, em 1962, a cafeicultura tomava conta de 9% da área do Paraná, equivalente a 1,8 milhão de hectares (por causa do clima mais quente e da fertilidade do solo, o parque  cafeeiro se constitui nas regiões norte e noroeste do Estado). Porém, 40 anos depois da geada que destruiu os cafezais, o Paraná amarga a menor área cafeeira da história, com 52.900 ha, ou seja, 0,3% de sua área territorial.
A atividade cafeeira é desenvolvida por cerca de 12 mil produtores em uma área de 128 mil há, distribuídos em 210 municípios, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e o IBGE. Substituídas por culturas temporárias como soja, trigo e milho, as grandes áreas de cafezais praticamente deixaram de existir. A produção está concentrada nas pequenas propriedades com tamanhos entre cinco e 10 ha, representando mais de 70% delas.
Em 2013, novas geadas, seguidas de seca, levaram empresas beneficiadoras e de comércio de café a fecharem ou mudarem para São Paulo e Minas Gerais, gerando ainda mais desemprego no setor e reduzindo a representatividade do Paraná no âmbito de exportação e negócios cafeeiro.
Os desafios se tornam cada vez maiores para os cafeicultores paranaenses que teimam em permanecer na atividade. A comercialização é pressionada pelos altos custos da escassa mão de obra e pelos insumos que acompanham as altas na cotação do dólar.
A perspectiva para 2015 é de retomada da produção após dois anos muito ruins. Porém, com a safra cheia, pois o clima ajudou na formação dos grãos de café, os preços podem ser mais baixos devido a maior oferta no mercado.
O que deve dar uma sobrevida à cafeicultura paranaense é o café especial, ou café fino, produzido no Norte Pioneiro do Estado e que recebeu a certificação de Indicação Geográfica Procedência (IGP) do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual INPI). A região se juntou ao Cerrado Mineiro e a Serra da Mantiqueira, ambas em Minas Gerais - as únicas três regiões do país com o registro oficial na produção de grãos especiais.
A conquista beneficiou 7,5 mil cafeicultores de 45 municípios. Destes, 85% são produtores familiares. Com apoio do Sebrae-PR, Emater-PR e Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), entraram num mercado que cresce entre 10% e 15% ao ano, segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais, enquanto o segmento de cafés tradicionais cresce apenas 3% ao ano.
O que torna um café especial são as condições climáticas, solo fértil, manejo cuidadoso e a mínima utilização de produtos químicos. Desenvolver um padrão capaz de repetir a qualidade ao longo dos anos é o desafio de agora.

Sérgio Marqueze
Jornalista .
Obs- Este texto me foi enviado por Sérgio Marqueze, jornalista paranaense com quem trabalhei por muitos anos na TV Gazeta e em especial no Jornal do Campo na década de 80. 

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