Um grande monumento em concreto na chegada a Aley, a principal cidade da região de Btater, tem um mapa-múndi no qual o Oriente Médio é um recorte redondo vazado. Dependendo do lugar do espectador, o vazio é completo pelo horizonte que se estende até o mar – estamos ainda no alto da montanha –, por alguns edifícios desocupados desde a guerra civil ou pela cúpula e minarete de uma mesquita.
Esse preenchimento do olhar pelos símbolos religiosos acontece todo o tempo em Beirute, onde minaretes islâmicos e campanários católicos são elementos recorrentes da paisagem e parecem querer lembrar não só aos passantes mas especialmente um ao outro que este é um país dividido.
A Mesquita Mohammad Al-Amin, inaugurada em 2008, preenche o ponto de fuga durante todo o percurso pela Rue Gouraud, no bairro majoritariamente católico, mas plural e universal, de Gemmayzeh, enquanto sinos tocam a cada hora e adolescentes circulam na entrada de um liceu francês.
São dias solitários em que duas frases banais com o garçom do restaurante é tudo o que se diz e quando sair à noite é beber algumas cervejas encostado em um carro na frente dos bares em Mar Mikhael, apenas ouvindo a música que toca alto. Mas é empolgante estar em meio a essa juventude libanesa que se beija na rua, tem cabelo grande e dialoga com o estrangeiro. Aliás, do hotel onde estou vejo os navios atracados no Porto, paisagem que me é tão familiar.
É saudosa, apesar de recente, a memória quase sufocante das refeições em comum, de mãos molhadas de azeite, em torno de uma mesa baixa montada em frente aos sofás, alguém sempre tentando colocar mais comida no prato e mais chá no copo. Foi assim que nos despedimos brevemente na sexta-feira pela manhã, antes que partisse para seis dias na capital.
Sei que meus esforços em não ser um viajante convencional mas, ao contrário, tentar me integrar à rotina da casa, da família e da vila é cruel com aqueles que me hospedam. Na última noite em que estivemos todos juntos, a família reunida na varanda assistindo à lua cheia que crescia atrás das montanhas a leste, o Maher me perguntou se eu sentiria falta daquilo.
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