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Encontrei Sahag Bastajian
no seu estúdio, em uma avenida movimentada de Bhamdoun. A porta de vidro estava
apenas encostada e quando entrei um senhor elegante veio dos fundos com um
sorriso simpático, tirando os óculos que ficaram pendurados ao pescoço por uma
cordinha preta. Perguntei por Bastajian e ele me respondeu com um sim interrogativo.
Expliquei que havia conversado com George por email e foi ele quem sugeriu que
o procurasse aqui. Digo que estou feliz por tê-lo encontrado.
Ele já me esperava e pergunta da minha família
e da viagem. Explica que o estúdio Sahag só funciona no verão, enquanto durante
o resto do ano ele e o filho trabalham em Adonis, no litoral, a norte de
Beirute. Tiro da mochila a pasta com as fotografias que trouxe de Manhuaçu e
que me levaram a procurá-lo. São duas: em uma delas o o carimbo da loja foi aplicado
no verso, com um endereço de Beirute; a outra traz o nome do estúdio na cor
branca sobre a imagem, no canto inferior esquerdo.
Sahag segura as imagens com delicadeza e
atenção. Diz que se lembra das fotografias e daquelas pessoas, que tinha alguns
bons amigos na minha família. Lembra do estúdio que manteve em Beirute entre
1957 e 1967, no qual havia feito um daqueles retratos. Fala da Síria, para onde
se viu obrigado a migrar, levando pouca coisa além das suas câmeras Leica,
quando a guerra civil estourou e era impossível trabalhar. Nessa época, contou
com a generosidade de muita gente, como o Tufic, de quem se lembra ter sido
presenteado com biscoitos. Voltou a Bhamdoun apenas no início dos anos 90 e
encontrou todo seu acervo de negativos e impressões destruído. Recomeçou e
ainda hoje fotografa.
Ele parece se sensibilizar quando eu digo que
esperava encontrar entre seus negativos outras fotografias da família que
possivelmente foram enviadas ao Brasil e se perderam.
Saímos da pequena sala e subimos alguns metros
até um cômodo ao lado, na mesma rua. Na parede, em preto e branco, segurando
uma câmera de médio formato com um flash muito grande, o jovem Sahag sorri
otimista. Essa sala está desorganizada, com caixas espalhadas pelo chão e,
sobre as cadeiras, sacolas de plástico com câmeras automáticas. Em um canto,
repousam diversos postais empoeirados que possivelmente jamais serão vendidos.
Peço indicações sobre onde consertar a câmera
alemã com a qual penso fotografar a família. Ele me desestimula a resolver o
problema em Beirute e diz que é melhor mandar para a Alemanha ou levar de volta
para a França. Por último, me convida para conhecer o estúdio, agora digital,
em Adonis. Eu digo que voltarei com a câmera não mais quebrada para
fotografá-lo.
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