segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

LICEU MUNIZ FREIRE. texto de Helena Machado

            LICEU MUNIZ FREIRE

          A maior parte da população adulta de Cachoeiro estudou na Escola Estadual Muniz Freire, nosso querido Liceu. Construído em 1936, ele ocupa todo um quarteirão. Muitos de seus alunos vinham do interior e moravam em república ou pensões. O Liceu Muniz Freire fez parte da vida de diversas gerações e continua fazendo história na vida dos estudantes. Essa escola foi criada para dar oportunidade aos cachoeirenses que não podiam pagar uma escola particular naquela época. Era motivo de orgulho ser aluno do Liceu. Um corpo docente da mais alta qualidade, ministrando conhecimento aos alunos do Ginásio, Científico e do curso Normal, que formavam professoras. Os rapazes depois do Ginásio, passavam a fazer o científico. As moças, em sua maioria, seguiam o curso Normal, que as credenciavam a ser professoras. Eu fui normalista. Para os saudosistas, vamos lembrar alguns nomes, a começar pelo Catiquinha, porteiro, que dava sempre "uma colher de chá" aos atrasados. O Joênio Dessaune, inspetor de alunos, era bravo. Dona Herta Athaide, professora de francês, excelente, mas muito brava, também; o inesquecível e saudoso Professor Deusdedth Batista, de Inglês, era "arroz de festa" em todas as solenidades; Dr. Wilson Resende, professor de História e diretor da instituição; Dr. João de Deus Madureira filho e Dona Adir - ele lecionava Geografia e ela ginástica - boa gente; Professor Haddad, lecionava Latim - era alto, forte, usava roupas claras, óculos preto e sapato de sola de borracha para o terror dos alunos. Eu tinha tanto medo dele que procurava sentar nas últimas carteiras. Certo dia ele me chamou para ser sabatinada. Eu me encolhia atrás de algum aluno mais alto. Ele atingiu meu "calcanhar de alquiles" quando me chamou: é você aí, sua nanica...quase morri de vergonha e medo. Eu tinha, apenas, treze anos. O professor Haddad faleceu durante uma caçada, em seu dia de folga, e quem deu a notícia na nossa classe foi o Professor Ailton Bermudes. Apesar do tipo que ele fazia, aterrorizando alunos, foi comoção geral. Nesse dia eu o perdoei. Professor Ovídio, de Português; professor Athair Cagnim, ciência; Professor Ávila e Dona Glorinha ele lecionava matemática e ela, artes. Diziam que ele queria ser médico e desistiu porque seu pai morreu ao tomar injeção administrada por ele. Dr.Elísio Imperial foi meu professor no curso Normal; Dr. Albino Moreira; professor Xavier, Matemática; Evanir Ribeiro, professora de canto; Dr. Delta Madureira, professor de ciência; professor Michel Mameri, morava em Rio Novo e tinha uma namorada linda; Professor Eliezer Santos, era deficiente físico, lecionava desenho. Professor Angelo Garcia; Prof. Virgílio Milanez, lecionava Português; professora Stelinha Caiado, linda e chique; Osires Lopes de Azevedo, professor de física; Rage Miguel lecionava química - me pegou colando e, cavalheiro como era, disse aos alunos: fiquem quietos como a Helena; Isabel Cúrsio, professora de artes e trabalhos manuais, sem esquecer a Professora Geny Cúrcio criadora das graciosas balizas do Liceu. Era um show ver as balizas abrirem os desfiles. A professora Geny Cúrcio, que ainda se encontra entre nós, acaba de fazer 100 anos! Tenho ótimas lembranças de todos eles.
          Na hora do recreio, corríamos à Cantina da Dona Alzira para disputarmos os seus famosos "pãozinho de minuto" recheados de goiabada. Depois, descíamos para o pátio, onde formávamos grupinhos de amigas e paquerávamos os rapazes do científico. Quando os rapazes do ginásio chegavam ao científico, passavam a usar um casaco azul que lhes acrescentava um charme e nos fascinava. Modéstia a parte, eu fui uma jovem bonita, embora não me reconhecesse como tal. Eu não gostava de fazer ginástica. Para gazetear essa aula, eu vestia, como todas, o uniforme, entrava na fila, respondia presente na chamada e saíamos para o pátio - a fila era por tamanho, portanto, eu era a última. Seguindo a professora, eu ia ficando pra trás, entrava no banheiro e só saia quando a aula terminava. Não notavam a minha falta.

          No tempo que eu estudava no Liceu, os alunos ficavam em forma, na frente e laterais da escadaria que dava acesso ao prédio, cantávamos o Hino Nacional e o Hino à Bandeira antes das aulas. Lindo!
          No último ano do Curso Normal, tínhamos que preparar uma aula para alunos do segundo ano primário. Esta aula foi no meio do ano e era para nota e serviria de passaporte para uma excursão a cidade de Belo Horizonte. Quando foi a minha vez de dar a aula, fiquei inibida em dar a aula preparada para alunos do primário e ao invés de alunos eram nossos colegas representando os alunos. Uma banca examinadora de notáveis, me deu nota 0,5 - isso para não me dar zero, disseram. Um vexame. Eu disse aos examinadores que eu não tinha dom para atriz. Saí muito contrariada.
          No final do ano, prova prática que aprovava ou reprovava. Eu preparei a mesma aula que havia preparado no meio do ano. Desta vez a classe estava com alunos, de verdade, do segundo ano primário, vindos do Grupo Escolar Bernardino Monteiro. Eu obtive a maior nota da classe. Nota dez com louvores. Fui muito elogiada e aplaudida. Havia muitos anos que a banca examinadora não dava um 10. 

          Ao nosso querido Liceu, minha gratidão. Aos professores, nosso respeito. O melhor tempo da minha juventude foi lá, dentro daqueles muros. Com seus erros e acertos, ali se fez jovens preparados para a vida.
Abraços Fraternos,
Helena💕

Um comentário:

  1. O Liceu igualmente fez parte da minha história. Também fui normalista. Mas numa época mais a frente da Helena. Fui da década de 80. Tenho recordações maravilhosas também. Tive grandes professores, dentre eles David Los diretor de, Marília Bressam com olhos tão azuis que ofuscavam. A querida tia Neuza, tão calma e serena... Zuleica, divertidíssima. Maria Lúcia séria, compenetrada professora de didática. Professor Péricles, Dalton, Vera De pra, e tantos outros... A cantina era do Sr Acrísio e os filhos ajudavam, flertei algumas vezes com um dele kkk
    Meu primeiro ano no Liceu era da sala 1 F noturno. Tinha como amigos: Catarina Pesca, Elcione Sartório, alguns não lembro o sobre nome... PP Pedro Paulo, preta, Luciano, Leonel, Márcio,
    Seria maravilhoso revê-los...

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