28-05-2012
No ano de 2005 fui fazer uma matéria em Guarapari, sobre a produção de mudas de seringueira de uma cooperativa de produtores. No final perguntei ao técnico que nos acompanhava quem era o proprietário da fazenda.
Como resposta:
Márcio Aboudib Camargo.
Pensei baixinho, mais uma pista para a minha pesquisa sobre Pedro José Aboudib, o libanês que em 1889 com 16 anos deixou a sua aldeia no Norte do Líbano, Zgharta, para vir tentar a vida no Brasil, mais precisamente no Espírito Santo. Peguei o telefone do Márcio e pensei, quando chegar a Vila Velha, vou ligar. Foi o que fiz. Me apresentei e falei que possuía um depoimento que Pedro José Aboudib havia feito em 1945, para Indá Soares Casanva e publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, de 1997, número 48.
Como o depoimento é um texto maravilhoso e cativante, foi fácil passar para Márcio a minha emoção. O depoimento que começa no Líbano e é um roteiro de cinema. Um convite a imaginar a vida do imigrante. Nele eu viajei até as montanhas de Zgharta e imaginei meu avô, que também veio de Zgharta. Depois de falar sobre o texto perguntei a Márcio qual era o seu parentesco com o Pedro José Aboudib.
Como resposta:
Sobrinho neto.
Márcio ficou interessado e me solicitou uma cópia, no que concordei de pronto. Combinamos o local e o dia da entrega e lá foi o documento. Fiz uma dedicatória falando do orgulho que ele deveria ter por ter um tio avô do valor de Pedro, que era da mesma cidade do meu avô, Francisco Marolino Mansur, que chegou ao Brasil em 1883.
Dois dias depois Márcio retorna a ligação dizendo que estava agradecido e que ele passaria o depoimento para sua mãe, que estava naqueles dias completando 95 anos, “vai ser o maior presente que ela vai ganhar. Inclusive gostaria de te convidar para a festa.” Infelizmente não pude atender ao convive, no que lamento profundamente.
Os anos passaram e esporadicamente conversávamos ao telefone. Agora no início do mês de maio Marcio me telefona solicitando uma segunda cópia. No dia 24, eu e meu filho Augusto fomos até a sua casa e por duas horas conversamos sobre as nossas histórias familiares e sobre o nosso orgulho de ter o sangue libanês correndo nas veias. Foram momentos inesquecíveis, principalmente quando Marcio disse: “estamos nos vendo pela primeira vez, mas parece que nós nos conhecemos há anos”. Pura e cristalina verdade. Mas isto tem uma explicação, temos uma parte de nós que veio do Norte do Líbano, das montanhas da eterna Zgharta, de lá vieram nossos avós.
No encontro fiz questão de ir com uma camisa onde está registrada a frase que criei: LÍBANO, MINHA ALMA VEIO DE LÁ. Está camisa me foi presenteada no final do ano 2011, pela brima publicitária Monica Debbane e eu estava procurando um momento ideal para vesti-la pela primeira vez. O dia 24 de maio foi o escolhido. Eu entrei com a frase e a Monica com a arte e com a camisa.
Assim que cheguei em casa o celular me avisou, às 21:52, que havia uma mensagem, com o texto que segue.
Meu prezado amigo.
A sua presença, acompanhado do seu filho na minha casa encheu-me de alegria e reforçou a convicção que sempre tive: que privilégio temos em comum, ao constatar que nossas almas nasceram no Líbano. Obrigado por tudo, abraços. Márcio.
Em tempo: eu carrego várias cópias do depoimento de Pedro José Aboudib na minha bolsa e sempre vou fazendo outras cópias. Me sinto feliz sendo o mascate de Pedro José Aboudib.
Marcio, um abraço libanês, cheio de acolhimento.
LÍBANO. MINHA ALMA VEIO DE LÁ. Aliás, as nossas.
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