segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ES-379, Castelo, Muniz Freire e Iúna Por Herbert Soares Caçador


    “E sonhos não envelhecem”, assim diz Milton Nascimento em “Clube da Esquina II”.

A escolha dessa frase para iniciar o texto não é por acaso, ela diz muito sobre a

história da famosa ES-379, que interliga Castelo, Muniz Freire e Iúna.

    Primeiro, a boa notícia do presente, o jornal A Gazeta, no dia 02 de maio noticiou o

lançamento do edital para asfaltamento do primeiro trecho, entre Castelo e Muniz

Freire. Ao que parece, finalmente, a obra esperada por décadas, vai sair do papel.

Quem tiver a oportunidade de trafegar por essa estrada asfaltada, será uma pessoa

mais do que privilegiada. Para explicar esse futuro privilégio, voltemos ao século

passado, mais especificamente para as décadas de 10 e 20, para entendermos, o

quanto essa obra será um marco na história do estado.

    Agora estamos em 07 de abril de 1915, dia importantíssimo para a história de Muniz

Freire. De acordo com as mensagens de governo apresentadas pelo presidente do

estado ao Congresso Legislativo, o então presidente, Marcondes Alves de Souza (na

época Governador era chamado de Presidente) visitou Muniz Freire. Esse presidente

descreve a sua chegada à cidade assim: “A manifestação do povo por ocasião a

minha chegada a vila, foi uma verdadeira apoteose: todas as ruas e frentes de casa

estavam ricamente ornamentadas”. Depois, destaca a maior necessidade do

município: “Presentemente, a maior necessidade do município é a terminação de 12

kilometros que faltam para a conclusão da estrada para o Castelo, suspensa pelas

dificuldades financeiras emergentes”. O presidente então propõe uma parceria com o

município: “Não podendo actualmente o governo concluir a estrada, fiz um apelo ao

município afim de que ele tomasse o encargo da construção, dando o governo do

Estado um auxílio de dez contos de reis e as ferramentas que lhe pertenciam e que se

achavam em poder do Sr. Senna. Minha proposta foi aceita e espero que a referida

estrada fique concluída antes do término do meu governo”.

    Pulando para 12 de outubro de 1916, vemos outro presidente, agora Bernardino de

Souza Monteiro, discorrendo sobre a importância da construção de estradas: “Merece

minha especial atenção, o problema de transporte no intuito de diminuir o custo da

produção”. Veja agora, qual era uma das prioridades do seu governo: “De uma rápida

inspecção na carta geral do Estado concluir-se-á que as primeiras estradas geraes a

serem construídas nas condições determinadas, serão as que liguem: a) O município

de Afonso Cláudio á E.F. Leopoldina; b) Rio Pardo (Iúna) á Villa do Alegre ou

    Passados quatro anos, o relatório final do seu mandato em 23 de maio de 1920,

confirma que a obra não foi realizada de forma completa. Bernardino escreve sobre a

ES-379, mostrando que promessas não cumpridas é rotina desde o início do século

passado: “Rio Pardo se comunica com o exterior por Espírito Santo do Rio Pardo

(Muniz Freire) e Castello. Apesar dos grandes melhoramentos da estrada entre estas

duas últimas localidades, ainda são muito precárias as condições de transporte de

mercadorias entre Rio Pardo e Castello”. Depois, Bernardino diz por que é difícil

concluir a obra, uma das prioridades de seu governo, dividindo a culpa com a

natureza: “Será economicamente impossível realizar-se uma estrada carroçável,

substituindo a actual de cargueiros, tal as grandes diferenças de nível a vencer em

percursos relativamente curtos, em terrenos extraordinariamente acidentados”.

    Mais quatro anos e a população de Muniz Freire nos anos 20 ganha mais melhorias

nessa estrada, mas não uma obra completa. É o que diz o relatório de governo de

outro presidente, Nestor Gomes, onde ele cita as obras feitas em todo o estado

durante o seu mandato. O relatório de 23 de maio de 1924 é revelador: “Construção

de uma Estrada de Automóveis (alguns trechos ainda carecem de retoques) ligando a

sede do município á Estação do Castello, com 17 kilometros de construção nova e 19

kilometros reconstruídos”. Esse trecho é interessante porque mostra um aspecto da

política brasileira que ainda se mantém que é o de contar obra pronta àquelas que

ainda não foram concluídas. Mais uma vez o sonho ficou pela metade.

    Em 04 de maio de 1925, um novo presidente, agora Florentino Avidos, mostra em

suas mensagens de governo, vários projetos, entre eles “completar a estrada de Muniz

Freire a Castello”. No mapa das estradas capixabas, a descrição do estado da ES-

379, em 1925 não é muito diferente da condição da mesma nos dias de hoje: “Castello

á Muniz Freire em mau estado, precisa de reconstrução, alargamento e obras de

drenagem”. Quantas promessas, quantos reparos, mas nada de uma obra completa. E

segue o sonho.

    No dia 15 de abril de 1926, um novo relatório de governo mostra o descaso que os

governantes tiveram com a estrada, vale especial atenção para esse relatório, pois se

vê que durante anos, o dinheiro foi mal gasto e o problema não foi resolvido: “Por ter

sido mal estudada, há necessidade de alteração do traçado e isso motivou demora na

execução dos indispensáveis reparos que se têm de fazer. É de imperiosa

necessidade e está sendo objeto de toda a atenção da Secretaria”. Mais promessas e

nada de se concretizar o sonho.

    Temos a informação passada de forma oral por alguns muniz-freirenses, de que a

estrada foi aberta a mão, e não por máquinas. Na mensagem de governo, em 30 de

abril de 1927, Florentino Avidos fala das dificuldades econômicas do estado em

concluir a obra e apresenta como solução conceder a execução da obra ao

engenheiro Augusto Seabra, onde o mesmo contrataria capitães da própria região, e

depois teria o direito de explorar a estrada. O prazo de concessão a esse engenheiro

seria de 30 anos, além de o governo ter ditado a taxa a ser cobrada por transporte na

rodovia. A mensagem se encerra assim: “O concessionário tem o prazo de 27 meses

para abrir ao tráfego a estrada de Castello a Moniz Freire”. Não se sabe ao certo se

esse prazo foi cumprido, ou se a estrada foi construída com qualidade.

    Segundo Agostino Lazzaro, em “Nella Terra Dei Padrone, Os italianos em Muniz

Freire”, a estrada foi “viabilizada somente a partir do final da década de 20 como

estrada de rodagem, seguindo praticamente a antiga trilha das tropas”. Outro escritor,

Carlos Brahim Bazzarella em “A História de Muniz Freire”, informa que a inauguração

oficial da estrada para tráfego de carros se deu em 1930. O mesmo autor traz a

informação de que em 1936, os ex-deputados, “filhos dessa terra”, Augusto Lins e

Attílio Vivacqua, apresentaram projetos na câmara para melhorias na estrada, e o

mesmo Attílio Vivacqua, já senador, no ano de 1957, apresentou emendas visando

investir na estrada, no que foi rejeitada pela câmara em 1958.

    Depois de toda essa viagem no tempo, de tantos percalços, tantas dificuldades, de

sonhos realizados pela metade ou não realizados e de falsas promessas, voltemos

aos dias de hoje e a frase que inicia o texto, “E sonhos não envelhecem”. Está mais do

que claro que o sonho de Muniz Freire, de Castelo e também de Iúna não envelheceu,

eles se renovam a cada dia e agora que o governador deu um passo importante para

o início das obras, não custa lembrarmos os fracassos e decepções de mais de um

século. São mais de cem anos de espera, muitas gerações sonharam em ver essa

estrada com boa qualidade, e agora aqui estamos, novamente sonhando, mas pela

primeira vez, a certeza de que ele será realizado aparece nas palavras do governador

Renato Casagrande, a quem depositamos as nossas esperanças e os nossos sonhos

de ver essa obra concluída. Que o atual governador possa ao fim do seu mandato

escrever em sua mensagem de governo que concluiu o asfaltamento da ES-379. Faça

história governador, três cidades inteiras esperam e sonham por isso.

http://www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial/esp%C3%ADrito_santo

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