Em Cachoeiro de Itapemirim o recém fundado Instituto Newton Braga está lançado o segundo volume da Coleção Personagens de Nossa História. Agora o personagem é Bernardo Horta de Araújo, que estaria completando 150 anos no dia 20 de fevereiro. Esta mesma data marca 99 anos de sua morte. A publicação que lembra no formato literatura de cordel nordestina tem 40 páginas tem nove textos curtos, mas que nos dá uma dimensão de quem foi Bernardo Horta de Araújo. Quando terminamos de ler a publicação fica uma interrogação. Falta alguma coisa, ou mesmo muita coisa, no nosso cenário cultural que não vê e não enxerga os seus personagens históricos.
A obra não tem autor escrito na sua capa, mas nos indica que é uma obra coletiva e que foi feita para cobrir a lacuna existente na bibliografia da história de Cachoeiro de Itapemirim.
Logo na abertura uma citação do homenageado, que parece ser uma mensagem feita hoje e para toda sociedade do ano 2012 e também dos anos que vão seguir. Confira abaixo:
-Todos devem ficar convencidos de que a República não foi proclamada para ser explorada por grupos especiais que, assenhoreando-se dos postos de mando, julgam-se os únicos capazes de engrandecê-los e felicitá-la. Esses grupos não representam ideal algum político e sim a seita dos exclusivistas, quer para o exercício das diversas funções públicas, quer no reconhecimento das qualidades cívicas e morais dos contrários.
Nada mais atual.
A publicação segue e justifica a homenagem, texto Higner Mansur.
- Está homenagem simples à maior figura de Cachoeiro de Itapemirim, esperamos possa, no mínimo, despertar nossas responsabilidades. Os que não merecem homenagens, que continuem a ser homenageados à larga, como estão sendo, até com propaganda pagas por eles mesmos, como é costume dos nossos tempos; mas deveriam ser homenageadas figuras da estatura moral de Bernardo Horta.
Maria Elvira Tavares Costa indaga sobre o homenageado, ao perguntar:
Quem foi esse homem, assim tão importante, a ponto de merecer ter seu nome eternizado numa grande avenida? Afinal, quem foi Bernardo Horta?
Um passeio é feito sobre a vida de Bernardo Horta, nos dá um pouco de sua dimensão e sua presença na sociedade de Cachoeiro. Um homem muito ligado a temas nacionais, mas que realizou uma competente administração quando dirigiu o município.
Na sequencia dois textos datados de 1919 lembram Bernardo Horta de Araujo. O primeiro de autoria de Júlio Pereira Leite, que na sua abertura diz:
-Li algures que o melhor meio de julgar da cultura e do sentimento de um povo era estudar o apreço que ele ligava à memória de seus mortos queridos.
O segundo texto, também de 1919, retirado da revista Argos coloca Bernardo Horte de Araújo como:
- O continuador da obra de Domingos Martins, filho de Itapemirim como ele, terá a sua sepultura carinhosamente guardada pela família cachoeirense, em cujo seio ele viveu e exercitou suas energias de paladino da grande causa da liberdade.
Newton Braga é convocado a dar o seu depoimento e é categórico:
-Quem estuda a História de Cachoeiro sente, a cada passo, a presença desse homem, sem dúvida nenhuma a figura mais expressiva de suas páginas.
Evandro Moreira, conhecedor da História do município, lembra que:
- Por muitos anos militou no jornalismo e na política, elegendo-se várias vezes à Câmara Municipal e ao Congresso Nacional, sendo, afinal, abandonado pelos correligionários. Afastou-se da política em 1911, quando terminou o seu mandato de deputado federal, traído em roubado pelos “amigos” de sua própria agremiação partidária.
Mais adiante o professor Adilson Silva Santos lembra:
A maior realização da administração de Bernardo Horta é a implantação de uma usina hidrelétrica, elevando a cidade de Cachoeiro de Itapemirim à categoria da primeira cidade do estado a ter o fornecimento de energia elétrica.
Higner volta e diz que:
- Simples, idealista, honesto, sonhador e grande orador, como define Evandro Moreira, seus predicados foram sua glória e martírio.
O professor volta e provoca a memória histórica, quando pergunta:
Quem foi Bernardo Horta de Araújo? Em Cachoeiro, sabe-se pouco dele e de sua atuação política. Essa indagação, entre outros fatores, levou-me a pesquisar a carreira desse político capixaba desde a criação do primeiro clube republicano do Espírito Santo por protagonismo seu, de Joaquim Pires de Amorim e Antonio Aguirre, em 23 de maio de 1887, até o seu suicido em 1913- Adilson Silva Santos.
Já Francisco Aurélio Ribeiro e Thelma Maria Azevedo falam da política.
-Eleito deputado sofreu a primeira das grandes decepções de vida. Legítimo defensor dos idéias republicanos, dos quais fora propagandista ardoroso, teve seu diploma contestado. Seus amigos de Cachoeiro de Itapemirim, contudo, em reconhecimento a seus grandes méritos, decidiram reparar a injustiça e o elegeram, então, para o governo da cidade. Francisco Aurelio e Thelma Maria Azevedo.
Fechando a publicação Higner Mansur lembra da relação de Bernardo Horta de Araújo com a Maçonaria, citando a ata de sua iniciação:
- O respeito que voto à Maçonaria é tão grande, que as minhas próprias convicções políticas ficam esquecidas, quando dentro deste recitou estou.
Mas antes de terminar este texto fico imaginando, será que estamos ficando mais ignorante com relação a nossa história e nossas coisas? O desconhecimento das coisas de valor parece ser uma unanimidade geral. Infelizmente eu estou certo.
A publicação poderá ser comprada na loja do Hortifruti da Praia da Costa e eu tenho alguns exemplares, por três reais.
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