11 de agosto de 1969, lá se vão 40 anos e uma marca importante na minha vida e dos companheiros da Casa do Estudante de Cachoeiro de Itapemirim. Neste dia bem cedo fizemos uma viagem até Vitória a convite da Policia Federal, que andava em busca dos elementos subversivos.
No ano de 1968 havia terminado o segundo grau em Castelo e passado no vestibular na Ufes para cursar Geografia. Como o dinheiro estava curto, acompanhei minha família para Cachoeiro. Daí para a Casa do Estudante foi um caminho curto. Lá fui Tesoureiro, sendo que o presidente era Roberto Valadão. A CECI como é conhecida, sempre foi um ponto de encontro de pessoas incomodas com as condições e com a situação política brasileira.
Um recuo no tempo é bom lembrar que em 1969 os militares estavam no poder e davam as cartas em toda Nação. É bom dizer que muitos, mas muitos civis, também participavam do Poder – eram parceiros e sócios dos militares. Na época na legalidade tínhamos dois partidos. A Aliança Renovadora Nacional, Arena, comandando e dando as cartas. Na oposição consentida, o Movimento Democrático Brasileiro, MDB, montado para encenar o jogo de “democracia”.
Voltando a Casa do Estudante. Lá a gente fazia de tudo para manter a dignidade e a indignação com relação a situação política brasileira. Estávamos mantendo a tradição dos que nos antecederam e sempre mantiveram os ideais democráticos. Estávamos cumprindo a nossa obrigação.
Mas em agosto a temida Policia Federal deixou convites para que comparecêssemos em Vitoria para prestar esclarecimentos. Eles queriam saber a movimentação política que acontecia. Presidente, Tesoureiro, o Secretario Glauco Oliveira, os dois jovens estudantes que lá moravam (Jose Carlos de Carvalho e Jose Alerte Francischeto) e Saint Clair Lopes, que por lá circulava, todos convidados. Nesta época o vice presidente, Francisco Assis Borges, já estava vivendo na clandestinidade no Rio de Janeiro.
De posse dos convites fui com Roberto Valadão até o prefeito Nello Borelli, que nos forneceu uma Kombi para o deslocamento até a capital. Fomos até o Juiz Pedro Borges de Rezende, já que no grupo havia um convidado menor de idade. Lembro que o Juiz falou: Valadão, vou mandar um Oficial de Justiça com vocês, não se o que pode acontecer. Tem muita coisa estranha acontecendo por este Brasil afora.” Sabíamos o que ele estava falando, um irmão de Valadão, Arildo, já vivia na clandestinidade e a caminho da Guerrilha do Araguaia, onde mais tarde foi assassinado.
Rumo a Vitória. Prestamos depoimentos e ficamos sabendo que tudo estava fundamentado no produto de um roubo no arquivo da Casa do Estudante e de lá levaram uma carta a população datada de anos e anos passados. O aparelho policial queria nos intimidar.
O tempo passou e é preciso começar a contar a História. Mas quem deve contá-la? Os que a viveram? Estudiosos que não viveram aquele tempo? Creio que todos, senão corremos o risco de vê-la ser contada e mostrada por algozes, gente que jogava do outro lado. Precisamos registrar o que passou e o que aconteceu.
A Policia Federal não foi muito adiante naquele 11 de agosto. Mas nos dias subseqüentes a pressão, a espionagem e a intimidação foram rotinas. Quem viveu a Historia tem de contá-la, para que a nossa memória não fique vazia. Hoje, 40 anos depois o Brasil pode não ser o Brasil ideal, mas é melhor do que o Brasil do passado. Os que na Casa do Estudante atuavam, deram a sua contribuiçãoronaldmansur@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário