sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CONILLON UM POUCO DE HISTÓRIA

E se não fosse o café conilon, o que seria do nosso Espírito Santo. Esta questão sempre me bate na cabeça, principalmente quando ando pelo interior e vejo os plantios de café, as casas nas propriedades e as pequenas vilas e cidades capixabas. Nas terras baixas e quentes o conilon predomina e toma conta da paisagem. Lavouras bem cuidadas que garante trabalho e renda. Mas nem sempre foi assim.
A grande realidade é que o conilon que aqui chegou há 100 anos, ainda é muito jovem. Mas mesmo assim ele tem muita história para contar. A sua importância muitas vezes não é vista como um todo e como o grande vetor da nossa economia rural. Mas o conilon faz parte de uma cadeia econômica que vai dando dinamismo ao interior capixaba. Geração de renda e trabalho é com ele.
Uma pessoa de grande destaque na história do café conilon, foi Eduardo Glazar, que inclusive fez um bom relato pessoal no seu livro Brava Gente Polonesa, na realidade com está registrado na capa: memórias de um imigrante, formação histórica de São Gabriel da Palha e expansão do café conilon no Espírito Santo.
Faço questão de registrar cinco parágrafos do livro seu Eduardo Glazar, onde ele é um marco importante fase inicial em que o conilon surge como opção e estancamento do êxodo rural, quase sempre cruel e perverso com os menos favorecidos.
1
- Em 1963, época em que eu era cafeicultor, pecuarista e também comprador de café, tomei conhecimento, por meio de caçadores, da existência de uma derrubada abandonada no Córrego Dumas, do outro lado do rio São José, então município de Colatina, e que lá se encontrava um viveiro com muitas mudas de café, que não era arábica. Pela discrição de alguém, as folhas eram um pouco diferentes, e as árvores mais curtas do que as do arábica. O conilon, após o seu desenvolvimento, apresentava-se com vários caules, enquanto o arábica é uma planta de apenas um caule, e o fruto do conilon normalmente é menor do que o do arábiva. Além disso, o conilon possui maior teor de cafeína.
2
- Por curiosidade, chamei dois empregados e fomos a cavalo, com mais dois burros com cangalha e balaios. Chegando lá na derrubada vimos uma casinha abandonada e uma árvore. A casinha era feita de estuque e coberta com tabuinhas, e estava abandonada há uns dois anos. Embaixo da árvore é que estavam as mudas de café, ainda por plantar. Não sei como apareceram lá, é uma interrogação até hoje. Esse terreno era devoluto. Depois foi ocupado por famílias. Eu já ouvira diz que, em outras partes do Espírito Santo, se cultivava um pouco de conilon.
3
- Então tiramos as mudas, colocamos nos balaios e viemos embora. Nesse período, eu estava preparando terreno, na Cachoeira da Cobra, para a formação de uma nova lavoura cafeeira do arábica. Resolvi plantar ao seu lado, como experiência, quatro mil plantas do então cafeeiro desconhecido, tiradas da derrubada. Posteriormente, ficamos sabendo que se tratava do conilon.
4
- Fiquei sabendo, por intermédio de amigos, depois de já ter escrito esta informação sobre o conilon, que o Sr. Ernesto Caetano, que residia no Córrego Dourado, também já tinha trazido sementes de café conilon do sul do Estado. Ele produzia e estava satisfeito com a produção do conilon.
5
- No decorrer de quatro anos vimos que o conilon levava grande vantagem sobre o arábica, pois iniciava a produção com idade menor, alcançava maior produção por pé e por área, chegando a 40%, além de ser resistente à ferrugem. Porém, em virtude de ser desconhecido, não encontrava mercado. Como nossa produção era muito pequena, misturávamos uma pequena proporção ao arábica, para vendê-lo.
O que está descrito nas palavras de Eduardo Glazar, nos cinco parágrafos acima é o marco inicial da nova caminhada do café conilon, como sendo uma cultura destinada a trazer tranqüilidade a milhares de capixabas em termos de trabalho e renda. Para mim, a história terá sempre de reconhecer a ação, visão e busca permanente de Eduardo Glazar no sentido de se evitar a migração das populações. Ele próprio foi vítima da migração, já que veio da Polonia, em 1931, ainda menino, com 10 anos de idade certamente que tangido pela falta de perspectiva de futuro na Europa.
A verdade histórica tem de ser colocada para a sociedade de hoje e principalmente para a sociedade do futuro. Nada do que temos hoje em termos de café conilon foi dado de graça ou por decreto de governo, tudo teve lutas e embates, onde órgãos públicos e pessoas também tiveram participação efetiva. Mas este assunto nós poderemos abordar mais adiante.
Neste ponto, ao ser redescoberto por Eduardo Glazar, considero como o momento que o café conilon dizer que além de estar presente, passava a ter uma proteção especial para o seu pleno desenvolvimento e mostrar de fato o que podia realizar pela comunidade rural capixaba. A História do conilon prossegue e vamos mostrá-la aqui neste espaço. A valorização do conilon passa pela pesquisa, pelo manejo das lavouras, pela colheita bem feita, pelo pós colheita de qualidade e também por sua História, que é construída todos os dias.

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