terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Duas famílias sob o mesmo teto no interior de Alfredo Chaves






Eles sempre viveram sob o mesmo teto. Para muitos, a situação vivida pela família Pin, em São Roque de Maravilha, no interior de Alfredo Chaves, é um pouco inusitada. Há quase cinquenta anos os irmãos Arci Pin, 74 anos e Waldemar Pin, 72, conheceram as irmãs Fardin, Laurita e Geni, hoje com 71 e 69 anos. Desde então foi amor à primeira vista, casaram e formaram suas famílias sob o mesmo teto, onde vivem dessa forma até hoje.

Arci e Valdemar nasceram e foram criados na região pela mãe em companhia de mais três irmãos. O pai faleceu quando eles ainda eram bem pequenos e não conseguem lembrar para descrever as características do patriarca da família.

Arci foi o primeiro a se casar. Conheceu Laurita na região e durante quatro anos frequentou sua casa em finais de semanas alternados, no interior de Conceição do Castelo, região serrana do Estado. Depois de três anos Waldemar casou-se com Geni, na mesma igreja, na cidade natal das noivas. Os agricultores eram bem tratados pelo pai das futuras esposas, que ainda é vivo, com 98 anos. Mas mesmo com a benção do sogro, eles conduziam o namoro como mandava à tradição na época.

“Sempre com muito respeito íamos a cada quinze dias na casa delas. Era muito longe e quase não tinha estrada de carro”, contam. Até certo ponto o trajeto era feito a cavalo, depois os irmãos precisam pegar um ônibus e andar um pequeno trajeto a pé.

Logo após o casamento chegaram a morar na mesma casa onde vivia a mãe e os outros irmãos. Arci e Waldemar contam que chegaram a morar em dez pessoas na mesma casa. “Morávamos todos juntos no casarão, tudo era normal e se dávamos bem”, explica Arci.

Algum tempo depois resolveram se mudar para outra casa. Só depois de dez anos que construíram uma nova residência, onde moram até hoje. Nesse lar, criaram cinco filhas. Arci teve três filhas com Laurita, já Waldemar e Geni tiveram duas. “Criamos nossas filhas juntas. Nossas sobrinhas são consideradas também como filhas”, conta Arci, recordando que antes da nova casa o banho era no rio. “A iluminação era de lamparina e banho era no rio que passa aqui perto”, lembra.

Na atual casa, como nas anteriores, tudo é em comum, menos o quarto dos casais. Banheiro, cozinha e sala sempre foram utilizados pelos nove membros das duas famílias, assim como as tarefas diárias, que eram divididas de forma aleatória, sem cobranças. “Cada um tinha seu quarto, mas as outras dependências eram em conjunto. Comíamos e trabalhávamos todos juntos”, explica Waldemar.

E essa cooperação ainda é presente na vida das famílias-irmãs. Hoje as filhas casaram e somente uma mora com os agricultores. “Moro ainda com eles, mas as minhas outras irmãs e primas sempre vêm ajudar. Estamos sempre juntos”, conta Edinéia Pin.
O segredo dessa união, conta os irmãos Pin, foi sempre muito trabalho, confiança e paciência. “Acordávamos muito cedo para cuidar da lavoura de café. Só chegávamos a noite em casa. As tarefas eram feitas em conjunto, confiando um ao outro, sem precisar prestar contas, como fazemos até hoje”, disse Waldemar.

Elas cuidam da casa, dos animais e dão suporte na mercearia

Laurita e Geni até hoje cuidam da casa e dos animais. Tiram leite, fabricam queijo e outros produtos que são vendidos em uma mercearia da família, ao lado da casa, onde comercializam de tudo, desde lamparina a produtos alimentícios. Popularmente conhecido na região como ‘Carrefour da Roça’, o estabelecimento comercial da família surgiu há cerca de 40 anos, como uma forma de atender aos meeiros da localidade.
Mas antes de vender, a família fazia escambo, trocava o que produzia por outros produtos essenciais ao dia a dia. “Fabricávamos farinha, pó de café e queijo e trocávamos por outros alimentos que necessitávamos”, conta Laurita.

A comercialização de produtos veio depois. “Aqui na região tinha muita gente que precisava de farinha, querosene e diversos utensílios. Vimos a necessidade de atender melhor os nossos clientes, foi ai que criamos essa mercearia, que preservamos até hoje em dia”, conta Arci.
Na casa, tudo ainda é preservado e cuidado como antes. Exceto o quarto dos casais, os demais cômodos, utensílios e móveis são divididos por todos. “Compartilhamos os afazeres e problemas, resolvemos tudo juntos”, disse Geni.

A família de Waldemar gerou três netas, já a de Arci, um casal. “Todos nos chamam de avôs”, disseram. A jovem Micaela Pin Fornazier, 15, neta de Arci, explica que acha muito bom a convivência entre as duas famílias. “Para a gente é normal, é muito legal viver dessa forma, todos juntos, como se fossemos uma única família. Considero todos quatro como meus avôs e as primas de minha mãe, como tias”, disse.

Outro caso na localidade
Por ser um município colonizado por italianos, Alfredo Chaves tem grande influência dessa cultura, além dos hábitos alimentares e religiosos, há também costumes das famílias conhecidas estreitarem ainda mais o relacionamento casando seus filhos.
É o caso também das irmãs Márcia e Rosangela Sartori, que casaram com dois irmãos, os agricultores, Carlos e Valdir Zucolotto. Márcia é casada há cerca de 36 anos, e Rosangela, há 30.
O exemplo de Márcia estendeu às suas gerações. Ela e o esposo tiveram três filhos, dois homens e uma mulher. E seus dois filhos também seguiram o exemplo dos pais, casaram com duas irmãs, com Carolina e Rafaela Grillo Pereira, que moravam na localidade Carolina, próximo a São Roque de Maravilha.
Ela conta que as famílias foram sempre unidas. Agricultora e dona de uma pousada na localidade de São Roque de Maravilha, a empreendedora sempre criou os filhos próximos aos primos-irmãos. “Sempre vivemos juntos, um ajudando ao outro”, disse.

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