segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O café e o Espírito Santo

Ronald Mansur

17/01/2011 - 20h54 - Atualizado em 17/01/2011 - 20h54
A Gazeta
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A colheita de café neste ano no Estado vai atingir a faixa de 10,5 milhões de sacas, sendo que o conilon ficará com 7,5 milhões de sacas. Esta produção é um indicador de que milhares de empregos estão garantidos e que o café continua com grande peso na nossa vida econômica e social. Neste cenário, temos dois pontos interessantes a serem comentados. O primeiro é de como chegamos a esta situação e como nós a entendemos. Na realidade, os dois pontos convergem para um mesmo ponto: damos o devido valor e importância à nossa cafeicultura?

Do ponto de vista da produção, quando olhamos o café arábica vemos que ele foi o responsável pela abertura de muitas fazendas e também pela aceleração do fim de grande parte da floresta tropical. O café arábica foi plantado em terras novas, onde antes eram florestas, e o resultado se traduziu em produção, trabalho e riqueza. Gerou riquezas e avanços nas matas. Na época faltou espaço para a população, que tomou rumo para novas áreas. O arábica impulsionou a migração interna, do Sul para o Norte, e ajudou a colocar as florestas no chão. Mas o sonho durou um tempo menor do que foi a ocupação no Sul.

Não demorou muito. Foi erradicado pelo poder público na década de 60. Um projeto sem uma visão de conjunto, que jogou milhares de pessoas nas estradas do êxodo rural. As consequências nós a conhecemos hoje nas periferias das cidades e nas estatísticas da violência. É bom dizer que se a erradicação feita pelo governo federal não ocorresse, as péssimas condições das lavouras e a baixa produtividade iriam se encarregar de fazer uma autoerradicação. A atividade seria inviabilizada economicamente.

É neste tempo citado acima que o conilon começa a aparecer nas estatísticas da produção. Em 1975, eram 200 mil sacas. Um volume considerado pequeno se levarmos em conta as últimas safras.

Mas é interessante registrar que o conilon é imigrante jovem se levarmos em conta a nossa Hiistória. Ele chegou ao Estado pelas mãos do governador Jerônimo Monteiro, guiado pela sua visão de administrador competente, no início do século XX. O conilon chegou em 1911, ele é capixaba com 100 anos morando aqui. Hibernou por décadas, sendo que a sua aparição como realidade econômica aparece com a crise da erradicação das lavouras de arábica. Não custa citar a visão de Eduardo Glazar e Dario Martinelli, que agiram como deve agir um administrador público. Eles foram prefeitos em São Gabriel da Palha e incentivaram a produção de mudas e o plantio do conilon.

O grande passo do conilon foi dado pelos pesquisadores do setor público estadual, levando o Estado a ser destaque no mundo. Uma gente que trabalhou duro e ganhou prestígio internacional, mas o ganho real para os técnicos da pesquisa e extensão não foi proporcional. É hora de celebrarmos a competência dos técnicos. O conilon faz parte da identidade e da realidade capixaba. Comemorar os 100 anos da chegada do conilon e os 25 anos que o Espírito Santo está na pesquisa agronômica, é dever do governo do Estado. Sem o conilon a nossa agricultura seria de segunda classe. Fica a sugestão ao governador Renato Casagrande, que conhece o setor por formação acadêmica, por ter sido secretário da Agricultura de Castelo, na administração Paulo Galvão, e do Estado, quando era vice-governador de Vitor Buaiz.

Ronald Mansur é jornalista. E-mail: ronaldmansur@gmail.com

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