quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Escola da Vida: pessoas em situação de rua sonham voltar ao trabalho

André Sobral
Escola da Vida
Pessoas em situação têm aulas de informática e outros cursos na Escola da Vida(Ampliar imagem)
André Sobral
Escola da Vida
Alexandre Henrique Silva é um dos atendidos na Escola da Vida e sonha em conquistar um emprego e uma moradia fixa(Ampliar imagem)
Tarde de quarta-feira. O local, um prédio no bairro São José, na Grande São Pedro: a Escola da Vida. Num dos andares, a sala de informática possui computadores e datashow para diferentes conhecimentos, mas as pessoas que lá estão não têm aulas apenas para usar programas de textos, planilhas e internet. Elas estão recebendo orientações de como fazer seu currículo a partir das experiências que vivenciaram até agora.
Os alunos que participam desse curso e de outras oficinas oferecidas são pessoas em situação de rua que estão tendo uma nova oportunidade de retornar à sociedade e ao mercado de trabalho por meio da Escola da Vida, recém-inaugurada pela Prefeitura, numa parceria entre as secretarias municipais de Turismo, Trabalho e Renda (Semmtre), Assistência Social (Semas), Saúde (Semus) e Gestão Estratégica (Seges).
Nesse espaço, que foi planejado para ser um ambiente descontraído e com uma nova proposta metodológica, essas pessoas contam também com dinâmicas e oficinas, realizadas nos períodos da manhã e da tarde, visando à melhoria da autoestima, à formação empreendedora e ao atendimento individualizado para orientações sobre assuntos voltados para o dia a dia delas.

Sonho

Alexandre Henrique Silva, de 49 anos, é um dos participantes da Escola da Vida. Ele espera, muito em breve, poder voltar a ter um emprego com Carteira de Trabalho e também uma moradia fixa. "Ter uma moradia fixa é o meu maior sonho. O trabalho, com certeza, vai vir depois. Aqui, eu vejo uma nova oportunidade, uma chance muito grande lá na frente de eu conseguir isso e continuar a tocar a minha vida", contou.
Ele e outros participantes estavam na aula de informática para aprender a fazer um currículo, nesta última quarta-feira (5). "De certa forma, eu sei fazer um currículo. A dificuldade que vejo é a minha apresentação. Já cheguei a enviar alguns para várias empresas, mas, quando chega a hora da entrevista e eles perguntam onde eu moro, aí fica difícil por não ter moradia fixa. Isso que é o empecilho", destacou Alexandre.

Esperança

Há seis anos, ele veio do Rio de Janeiro para Vitória por causa de uma proposta de trabalho que não se confirmou e fez com que ele fosse para nas ruas, recebendo a ajuda de um dos serviços da rede municipal de assistência social: Albergue Noturno para Migrantes. Na capital carioca, chegou a trabalhar numa escola de samba, a Estácio de Sá, na comunidade de São Carlos. Lá, fazia de tudo um pouco, desde ajudar na solda até nas artes manuais.
"A equipe do Albergue me ajudou bastante, conseguindo, por meio deles, um trabalho avulso no porto como arrumador. Nesse período de trabalho temporário, consegui até me manter até um certo tempo. Aluguei um quartinho, mas dois, três meses depois, voltava pra rua. Quando o Fundap acabou, terminou também o trabalho. E isso fez com que, novamente, voltasse para as ruas. Hoje, estou no abrigo não porque eu quero, mas minha condição é essa. Eu não tenho parentes E não tenho contato com a minha família, que mora em São Paulo", disse.
André Sobral
Escola da Vida
Participantes da Escola da Vida têm atendimento individualizado para que se tornem capazes de ser protagonistas da própria vida(Ampliar imagem)
André Sobral
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Jocimar de Oliveira Marçal destacou que os ensinamentos adquiridos na Escola da Vida são importantes para conquistar os seus objetivos(Ampliar imagem)

Meta

Assim como Alexandre, Jocimar de Oliveira Marçal, de 30 anos, também está em busca da realização do seu grande sonho. "Agora, mais uma porta se abriu para mim com a Escola da Vida. Aqui, quero mudar minha vida, ter um novo rumo. O que quero é trabalhar como soldador, e planejo fazer um curso nessa área. Sei que, com esse novo projeto, posso conseguir alcançar minha meta. Estou correndo atrás para isso. Com as oficinas e aulas, a partir da nossa experiência de vida, a Escola da Vida vai nos ensinando algo todo dia. E todo dia aprendemos algo novo que vamos levar pra sempre".
Jocimar é nascido em Vitória e foi criado no bairro Maria Ortiz. Teve desavenças familiares e, por esse motivo e por não ter tido o apoio deles, acabou indo morar na rua, onde ficou por 15 anos – metade da vida dele -, e se envolvendo com pessoas erradas, como diz. Sabe ler e escrever porque cursou até a segunda série do ensino fundamental. "Há oito anos, surgiu uma oportunidade para frequentar o Centro Pop. Agarrei e continuo lá até hoje. A equipe me ajuda e me apoia muito", enfatiza, lembrando que, como tem prática de cabelereiro, é ele quem corta o cabelo dos colegas no abrigo municipal.
Tanto Alexandre quanto Jocimar mandam um recado para quem precisa sair das ruas e quer realizar seu sonho. "Na Escola da Vida, eles estão nos dando autoestima. Vale a pena tentar, vale a pena mudar. A Escola da Vida está aí para mudar a vida de todo mundo", apontam.

Escola da Vida

Espaço de atendimento às pessoas em situação de rua na capital, a Escola da Vida atua de forma articulada com os demais projetos do programa Onde Anda Você?, como acolhimento, tratamento de saúde, educação básica, aluguel social, atividades esportivas e culturais. Atende cerca de 30 pessoas a cada seis meses com acompanhamento efetivo dentro do projeto e outros três meses de monitoramento.
É um espaço de retaguarda e referência para identificar, desenvolver e fortalecer as habilidades empreendedoras das pessoas em situação de risco social com idade mínima de 14 anos atendidas pela rede de serviços da Assistência Social (Serviço de Abordagem, Centro Pop, Abrigo e Casa Lar) e da Saúde (Centro de Atendimento Psicossocial de Álcool e Drogas e Consultório na Rua), prioritariamente os usuários de substâncias químicas, objetivando a (re) inserção social, comunitária e no mundo do trabalho, tornando-os capazes de serem protagonistas de suas vidas.
André Sobral
Escola da Vida
Atendidos aprendem a fazer um currículo durante as aulas de informática(Ampliar imagem)
Douglas Schneider
Prédio com placa
Escola da Vida é um espaço de atendimento às pessoas em situação de rua na capital

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