sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A safra 2016 e 2017 do conilon no ES e Sul da Bahia



Por Ms Wander R. Gomes¹; Gilberto M. Tessaro²; Ms Jeferson P. Ferreria²; Ramon Calixto.²
¹- Engenheiro Agrônomo e Gerente da Assistência Técnica Cooabriel
² – Engenheiros Agrônomos da Cooabriel


No Brasil a crise econômica e política é muito evidente e toda a sociedade está consciente dessa situação. Entretanto, na agricultura capixaba e sul-baiana, o desafio é ainda maior, a falta de chuva. Os cafeicultores que amargaram grandes prejuízos na safra 2015, agora enfrentam uma situação ainda pior para a safra de 2016, e já está sacramentada a perda para 2017 também, pelo baixo índice pluviométrico nos últimos anos.

Foto: Café Editora
Região sofre com seca e produtores encaram volume de chuva muito abaixo do necessário para reabastecer o lençol freático e suprir os mananciais

O histórico de precipitação pluviométrica dos últimos quatro anos foi bem menor que média histórica em praticamente todos os municípios produtores de café onde a Cooabriel atua. No município de Nova Venécia (ES), segundo dados levantados pelo Incaper, de janeiro de 2012 a 20 de dezembro 2015, tem-se um déficit de 435 mm/ano, totalizando no período 1.740 mm. Comparando somente os dois últimos anos (jan/2014 a 20 dez/2015), a situação é ainda pior, pois dos 1.156 mm/ano previsto choveu apenas 507mm/ano, totalizando um déficit de 1.298 mm em função da média histórica para o biênio 2014/2015. Portanto, estamos com o volume de chuva muito abaixo do necessário para reabastecer o lençol freático e suprir os mananciais.

A Cooabriel, visando desenvolver e aplicar tecnologias que reduzam os impactos ambientais e tornem cafeicultura mais rentável a seus associados, desenvolve programas de assistência técnica em toda a região Noroeste e parte da região Norte do Espírito Santo e na região do Sul da Bahia indo até Camacã.

No ano de 2015, nossa equipe técnica acompanhou de perto o dia a dia de 2.510 produtores, que juntos totalizam uma área de 16.272 há de café, e verificaram uma situação nada animadora. Dentre todos os fatores que comprometerão a safra de 2016 podemos listar os mais críticos, tais como:

1º – As copas na florada: desenvolveram-se pouco devido a no ano safra 2014/2015 ter chovido bem abaixo da média, portanto o crescimento de ramos foi menor que o natural.

Foto: Café Editora

2º – A florada: Nessa fase ocorreram boas floradas proporcionadas por algumas chuvas de pequena intensidade que caíram no período e por irrigações feitas pontualmente, não comprometendo até então a safra de 2016. O problema veio com as floradas mais tardias (aquelas das pontas das varetas que originaram as rosetas finais), pois nestas as perdas foram bem mais intensas devido à alta intensidade de luz e a temperatura mais elevada dos últimos meses.

As lavouras não irrigadas ou ainda pouco irrigadas tiveram grandes floradas até o mês de novembro, este fato essencialmente incomum para o conilon fará com que as últimas floradas também sejam perdidas, pois não haverá tempo para uma boa formação de grãos até a colheita.

3º – Os reservatórios:
 Com o baixo índice pluviométrico nos últimos quatro anos, alguns produtores estão sem água desde agosto, mas o problema foi realmente intensificado a partir no mês de outubro, pois as chuvas não vieram com volume suficiente para reabastecer os reservatórios. Com as temperaturas mais elevadas, a água armazenada nas represas, nos córregos, rios e riachos secaram, e a crise hídrica mostrou a sua cara e veio trazendo prejuízos, que possivelmente serão mais intensos em 2017.

4º – Crescimento de grãos: normalmente iniciado a partir de outubro até meados de dezembro, esta fase foi prejudicada, pois sem água da chuva ou de irrigação a planta não consegue proporcionar um bom crescimento para seus grãos. Algumas lavouras ainda estão com os grãos ou boa parte deles na fase de chumbinho, principalmente lavouras irrigadas por sistemas localizados em galhos de primeira safra e ou lavouras de primeira safra.

5º – Enchimento dos grãos: Essa fase geralmente começa em meados de dezembro e vai até fevereiro. Com a falta de água, a granação ficou prejudicada, resultando na melhor das hipóteses em grãos leves ou mal formados ou em piores situações grãos chochos. A alta temperatura e insolação direta prejudicam na granação normal do grão e ou ainda queda destes.

 
Foto: Café Editora

6º – Pragas: O ataque da lagarta da roseta foi generalizado e muito intenso. Provavelmente ocorreu devido à proteção das flores estarem aderidas por um período maior nos ramos, esse ataque restringiu a uma perda considerável em algumas lavouras. A cochonilha da roseta apareceu mais tarde, no final de novembro e dezembro, pelo maior tempo dos grãos nas fases de chumbinho e início de algumas chuvas. Essas duas pragas contribuíram para reduzir significativamente a quantidade de grãos na planta, e diminuir assim a produtividade.

Foto: Arquivo pessoal/ Fotos Eu no Campo
Registro feito pelo produtor Ray Santana mostra lagarta que atacaram lavouras na sua região, no Espírito Santo


7º – As chuvas: Alguns produtores realizam as medições em suas propriedades, e segundo os relatos dos mesmos a nossos técnicos de campo, existe uma grande discrepância na distribuição das chuvas entre as localidades. Temos locais em que as chuvas de novembro foram superiores a 200mm, e propriedades localizadas a apenas 40 km de distância que o volume foi inferior a 10mm até o dia 30/12/2015. Portanto está muito desuniforme de chuvas, o que ocasiona um prejuízo difícil de ser mensurado.

Em resumo já sabemos que a safra do conilon, em virtude de todo o histórico citado acima, vai ser menor que a expectativa levantada em agosto de 2015. Apesar de cedo, estimamos uma perda de aproximadamente entre 20% e 25% até o dia 30/12/2015, para a safra de 2016 dos produtores associados à Cooabriel. Entretanto, a maior severidade do problema hídrico será sentida agora no enchimento de grãos que ocorre nos meses janeiro e fevereiro. Como estamos sem água para irrigar, isso realmente nos preocupa muito, pois estaremos à mercê das chuvas e de outras condições ambientais, para que possamos salvar os grãos que ainda estão na planta. Já é evidente que o desenvolvimento de copa para produção na safra de 2017 foi afetado, e a perda será maior que 30% e, em algumas lavouras, maior que 70%, segundo nossos consultores técnicos de campo.

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