Quando crianças, Maher e Bassel foram de táxi visitar os avós maternos na Síria. Eles se lembram da viagem como a mais demorada de suas vidas. O motorista era o Raul, de quem eu cresci ouvindo o nome, sobrinho do vô Amim. Nos anos 50 ele foi para o Brasil trabalhar e acabou sendo padrinho de batismo da minha mãe. O Raul morreu há três meses, muito pouco tempo antes que eu chegasse.
Acredito que, por aqui – há o Tio Salmen no Brasil –, era um dos últimos elos da família com Manhuaçu, alguém que conviveu com meu bisavô e poderia contar algumas histórias.
Da ligação estreita que durante algumas décadas manteve a família daí e de cá unidas, ainda há o Ramiz, que nos anos 40 escreveu algumas cartas para minha vó falando em casamento – gesto que o Tio Salmen avalia como um esforço de reunir novamente toda a família em Btater, casando com a filha e trazendo, inevitavelmente, o pai, a mãe e a irmã mais nova. Foi a intervenção da minha bisavó que interrompeu a comunicação e manteve os destinos em caminhos diferentes.
Hoje o Ramiz, filho mais velho da Tia Sada, vive entre Beirute e Btater. Aqui construiu uma vila, como eles chamam as casas mais modernas, embora em estilo antigo, erguidas em grandes terrenos cercados de área verde. As vilas estão a maior parte do tempo desocupadas, algumas são usadas nos finais de semana por quem vive na capital e sobe as montanhas para descansar, outras, apenas no inverno. O Maher trabalha cuidando de duas dessas vilas que ficam no topo de um morro. O Nemer, pai do Rawad, é caseiro em outra na entrada da cidade. A maior parte das mansões é de milionários sauditas ou do Qatar, sem qualquer laço familiar com a região.
Como o casamento planejado pelo Ramiz não deu certo, imagino que ele esteve com meu bisavô apenas quando ainda muito criança e por isso não deve guardar muitas lembranças para além do que falaram em cartas. Essas, por sua vez, me contam ter sido destruídas em 1983 quando um incêndio causado por uma bomba destruiu o imóvel que fora do meu tataravô, levando também as fotografias que possivelmente foram enviadas de Manhuaçu pra cá.
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