VITOR GRAIZE NO LÍBANO 6

• Hoje é dia de casamento em Btater. O ritual começa pela manhã, quando a família da noiva sai em carreata até o coração da vila e faz uma pequena queima de fogos em frente ao local da festa. Ao retornar à casa, o pai saca seu fuzil, possivelmente um Kalashnikov, guardado sabe-se lá desde quando, e satisfeito aponta para o céu disparando uma rajada que dura menos de cinco segundos, tempo suficiente para eu arregalar os olhos enquanto todo mundo continua bebendo mate tranquilamente na varanda.

  Não parece a mesma família que na quinta-feira me assustava enumerando os perigos de Beirute, afirmando que definitivamente eu não deveria andar sozinho por lá. Cheguei a ficar realmente preocupado, como um montanhês assustado que desce à cidade grande pela primeira vez. Seria já efeito dos sete dias isolado aqui, lidando com questões tão rurais como o ciclo da azeitona e a qualidade de algumas plantas medicinais?

  Às 5h de sexta eu estava de pé e menos de uma hora depois pegava com o Ali uma carona até Bhamdoun. Na estrada, embarcamos no primeiro service, como chamam as vans, bestas, micro-ônibus ou táxis que fazem o trajeto entre Beirute e as cidades vizinhas, geralmente por duas mil liras libanesas, algo como um dólar e vinte e cinco centavos. Ela nos deixou na entrada de Beirute e de lá embarcamos em outra até Downtown.

  O Ali é sócio de uma lanchonete no bairro da moda em Beirute, Gemmayzeh, com seus restaurantes caros, bistrôs descolados e ateliês ocupando os mesmos prédios antigos nos quais estão antiquários e lojas de peças automotivas. Andei sozinho enquanto o Ali cuidava da lanchonete mas precisei dele quando fomos de ônibus até Bourj Hammoud, um bairro armênio no nordeste de Beirute, em busca de uma oficina para consertar a Edixa Flex que comprei em Paris e está travada desde terça-feira.

  As vantagens do transporte público em Beirute, ao custo de mil liras: motoristas param em qualquer lugar, trafegam com a porta aberta, o que ameniza o calor, e desembarcam ao gosto do cliente, contanto que não se importe de descer na faixa da esquerda enquanto interrompem o trânsito de uma avenida de quatro pistas.

  Como avisa um guia com o mapa de todas as 15 linhas da cidade, “buses will stop at any point in route… Just make yourself elegantly  noticeable”.

  • ABRIL 13, 2013 (4:26 PM)