sexta-feira, 26 de abril de 2013

VITOR GRAIZE ESTÁ NO LÍBANO 13


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·       O trajeto de Beirute a Saida, primeiro por uma ampla rodovia pelos subúrbios e o aeroporto internacional, depois por uma estrada à beira-mar cruzando a zona urbana de pequenas cidades que alternam plantações de legumes e pequenos resorts, poderia ser feito em menos de quarenta minutos. Mas o microônibus que sai de Cola, uma estação improvisada sob um viaduto, leva pelo menos uma hora e meia em um ritmo lento constantemente interrompido para que passageiros embarquem e desembarquem ao longo do percurso.
O motorista é um tipo tranquilo que prefere trafegar com a porta aberta e não vê problemas em encostar o carro no acostamento para comprar um café. Ele me sorri quando desliga o motor num grande pátio onde estão estacionadas dezenas de vans. É a estação de Saida, balneário ao sul da capital e reduto majoritariamente sunita.
Era o fim da tarde de sexta-feira quando desci ali pela primeira vez. O comércio estava quase todo fechado e os alto-falantes de uma mesquita ecoavam orações e cânticos. Precisei da ajuda de um funcionário de uma casa de câmbio que me indicou sumariamente o caminho até o Studio Najun e escreveu em árabe o endereço. Antes de partir, me mostrou uma antiga câmera de vídeo JVC que não tinha o visor.
Um guarda de trânsito a quem mostrei o papel corrigiu meu caminho com dois gestos de braço e, quando finalmente encontrei o estúdio, um homem e um adolescente puxavam a porta de metal até o chão. Tirei a câmera do bolso da jaqueta e citei o nome de Khalil Abdalah. O homem entendeu e o garoto me perguntou em inglês se ele havia dito que eu deixasse ali. Confirmei e peguei seu telefone.
Quando retornei, quatro dias depois, Khalil me esperava ao lado de um jipe Cherokee vinho. Vestia uma calça jeans apertada, tinha um pequeno bigode e sua aparência não condizia com a imagem que eu havia criado de alguém interessado em consertar velhos equipamentos de fotografia.
Foi um certo Abou Basheir, de Hamra, quem havia me passado seu contato. Antes, todos os estúdios e fotógrafos de Beirute que consultei sugeriram que eu enviasse a câmera para a Alemanha ou levasse de volta ao Brasil. O Sr. Vartan, um armênio de Bourj Hammoud a quem primeiro recorri, apesar de bem-intencionado lamentou não ter as ferramentas adequadas.
O desafio mobilizou meus esforços enquanto ninguém entendia porquê gastar dinheiro e arriscar a vida em aventuras solitárias de microônibus apenas para consertar uma câmera fotográfica antiga.
O Khalil me entregou um cartão e, em um blefe, falei que poderia divulgar seu serviços a outros interessados, mas ele continuou irredutível quanto ao preço do conserto – e fez muito bem, já que conheço apenas duas pessoas de um grupo de fotógrafos de rua que me passaram, por email, algumas indicações. Paguei e pedi que ele me ajudasse a colocar o filme – é sempre uma operação delicada pra mim e gosto de olhar como os outros fazem. Depois quis testar a câmera e sugeri que ele se postasse diante do Studio Najun. Ele fez uma pose qualquer e eu apertei o botão sem pensar muito.
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