Voninha era o apelido da minha irmã, um ano mais velha do que eu. Maria Ivone era seu nome. Ela casou aos 28 anos, tarde para os padrões da época. Antes ela tratou do seu lado profissional, fazendo curso de laboratorista, depois telegrafista. Era muito estudiosa. Viveu vinte anos em Cachoeiro, o bastante para amar essa terra. Casou-se com um paulista, e foi morar em Birigui, são Paulo. La teve seus quatro filhos, duas mulheres e dois homens. Todos os anos passava o Natal e as férias em Cachoeiro, com a família. Nas vésperas de viajar para mais um Natal, levou seus dois filhos ao especialista. Ambos apresentavam problemas na locomoção e não melhoravam com uso de botas ortopédicas. Diagnóstico: – Distrofia Muscular de Duchenne (DMD): doença genética que causa fraqueza muscular progressiva a partir dos 3 anos de idade. Inicialmente, as crianças apresentam quedas frequentes, dificuldade para correr, subir escadas e levantar-se do chão. Diagnóstico sombrio. A doença é progressiva, não tem cura e previsto falecimento na segunda década de vida. Minha irmã ficou sabendo assim, sem meias palavras. Guardou pra si essa notícia dolorosa. Não queria atrapalhar o Natal da família. Após os festejos de fim de ano, soubemos. Logo ficamos sabendo que precisavam de duas cadeiras motorizadas e que, na ocasião, eles não tinham recursos para comprar as duas. Juntamos o necessário e eles puderam comprar. Precisavam de piscina e ajudamos a construí-la. Minha irmã deixou de lado seus sonhos profissionais e se dedicou, inteiramente, ao seus filhos. Lembre-se que a distrofia muscular de meus sobrinhos era progressiva e aos poucos já não sustentavam a cabeça. Apesar disso o mais velho, Luiz Carlos, namorou, noivou e casou-se com uma linda moça. Ele tinha um escritório de contabilidade e ela foi trabalhar com ele. Inteligente, prendada e apaixonada por ele. Em 1994 eu fui mais uma vez visitá-los e fiquei sabendo que a minha irmã tinha leucemia. Ela nunca ficou sabendo. Estava cada vez mais difícil cuidar do segundo filho e meu afilhado Wagner. O Luiz Carlos estava independente dela. Era cuidado por um jovem rapaz, Geraldo, e sua dedicada esposa, Eliane. Voltei pra casa em profunda tristeza. Minha irmã Beth foi me substituir. Não chegou a tempo em vê-la com vida. Era 22 de Novembro de 1994. Três meses após falecimento da mãe, em Fevereiro, meu afilhado foi internado. Eu conversava com ele ao telefone quando ele, também, se foi. Em menos de um ano todos se foram. Penso que minha irmã os antecedeu para esperá-los do lado de lá e continuar cuidando deles. Ela foi Anjo na vida de seus filhos.
Abraços Fraternos,
Helena
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