Publicada em 02/09/2014, às 15h21
André Sobral
Apresentação de João Victor, que tem paralisia cerebral, emocionou plateia na Emef Mauro Braga
Será que estamos todos cegos? Segundo Platão, a caverna é uma metáfora para o fato de que somos prisioneiros de um mundo que não representa a realidade. Para conhecer de verdade essa realidade, nós precisamos nos libertar das influências culturais e sociais, ou seja, sair da caverna. João Victor prova que isso é possível e leva muita gente com ele.
Cadeirante, com paralisia cerebral, João Victor Correa de Souza tem 11 anos e, no ano passado, protagonizou na escola onde estuda, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Mauro Braga, no bairro Santa Teresa, o espetáculo “A Ostra”, numa analogia à beleza que se encontra no interior do molusco quando ele se abre. Até ganhou elogio do jornalista e formador de opinião Heródoto Barbeiro, em nível nacional. A pérola que encantou todos na época agora influencia outros, como o garoto Felipe, de 9 anos, que tem Síndrome de Down.
Juntos, eles integram o espetáculo de dança contemporânea "A Caverna" e quebram preconceitos, surpreendem e encantam. A peça foi encenada nesta segunda-feira (1º), na Emef Mauro Braga.
O idealizador, Marcos Pitanga, que é professor e coreógrafo, cumpre bem o seu papel de educador. Assim, esse módulo do projeto "Cidadão Dançante" é a continuação da trilogia "A Ostra (2013), A Caverna (2014) e A Barca (2015)", que busca, por meio do emprego desse corpo aparentemente frágil, romper com a ideia de que a pessoa com deficiência é incapaz, prisioneira de uma sociedade que tem dificuldade de mudança.
"É preciso se afastar, olhar para dentro, encontrar a porta de saída e seguir o percurso com sabedoria e respeitando as diferenças. Esse estudo constitui-se de elementos para reavaliar nossos preconceitos e pensar na deficiência como uma potencialidade a ser desenvolvida, e não estigmatizada", avaliou Marcos Pitanga.
Incentivo
"É importante frisar que as artes têm a mesma importância na escola como a Matemática e o Português. Victor e Felipe hoje dão o melhor de si para os espectadores. A ideia é incentivar que os demais a saiam da zona de conforto e realizem algo diferente. Sair da caverna é preciso", recomendou.
"Foi muito diferente. Achei lindo. Eles nos ensinaram a sair da caverna, porque a gente não pode se isolar do mundo. Nós precisamos aprender coisas novas para podermos crescer sempre", disse a aluna Sara Marcos, de apenas 10 anos.
Famílias
A tia Samira Correa de Souza foi conferir a apresentação de João Victor. "Parar não é uma opção. João este ano estava um pouco indeciso, mas decidiu que o show deve continuar. Agora, ele também está engajado nas aulas de robótica e é uma felicidade vê-lo aproveitar os recursos que escolhe, por mais que sejam impensáveis por nós. Ele está se integrando cada vez mais na sociedade, se desenvolvendo e adquirindo cada vez mais autoconfiança. É só motivo de orgulho para nós", disse Samira.
Na plateia de Felipe, estavam o pai, Antônio Carlos Levoni de Aragão, a mãe, Gorete Levoni, e as duas avós, Alaíde e Odete. "Eu já sabia do que ele é capaz, mas confesso que fiquei surpreso com tamanho comprometimento do Felipe com o projeto e a desenvoltura dele na apresentação de hoje. Ele é uma criança tímida, mas hoje superou esse fator e realizou a coreografia na frente de uma plateia grande. Felizmente me enganei, a apresentação foi emocionante", relatou o pai do aluno Felipe, Antônio Carlos Levoni de Aragão
"Felipe é muito tímido. Cheguei a cogitar que na última hora ele fosse desistir de se apresentar. Fiquei surpresa! Ele dançou como se ninguém estivesse assistindo. Ele se soltou e estava muito feliz. Tem coisas que a ciência a medicina não fazem. Mas a arte transforma. Olha meu filho aí. E foi maravilhoso, Estou emocionada até agora”, contou a mãe Gorete.
Informações à imprensa:
Carmem Tristão (ctristao@vitoria.es.gov.br) | Tel(s).: 3135-1000 / 98889-6140 / 98139-7097
Com edição de Matheus Thebaldi
Com colaboração de Janaína Zambelli
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