quinta-feira, 9 de março de 2017

CACHOEIRENSES QUE BRILHAM Sérgio Bermudes. texto de Helena Machado



              O escolhido para inaugurar esta série é o cachoeirense, Advogado de renome, Sérgio Bermudes. O texto a seguir, embora extenso, é o resumo das matérias pesquisadas. 

              Sérgio Bermudes nasceu em Cachoeiro de Itapemirim. Era meu vizinho na Rua 25 de Março, Centro. Filho de Dona Elba e o Professor Ailton Bermudes que foi meu professor no Liceu. Começou a trabalhar aos 12 anos como office-boy no escritório de advocacia do pai. Primogênito de seis irmãos, foi para o Rio cursar direito e depois continuou os estudos nos EUA. Foi casado sem papel passado por 20 anos ­— ele só se refere à ex como “aquela senhora” e se recusa a dar qualquer detalhe a seu respeito — tem um filho adotivo de 44 anos, que é psicanalista. Chega a trabalhar dezoito horas por dia. Entre os clientes, o ex-bilionário Eike Batista que foi à bancarrota, aliás, já pagou ao escritório 6 milhões de reais, como parte das custas do processo.

             Católico praticante, do tipo que se confessa uma vez por mês, o advogado atende gratuitamente a Cúria do Rio e mantém um capelão que, a cada quinze dias, reza missa em seu escritório para os funcionários. Dotado de uma memória prodigiosa, autor de dezoito livros da área jurídica e professor da PUC há 35 anos, Bermudes tem um currículo invejável. Entre outros feitos, foi o autor da petição inicial do caso Vladimir Herzog, jornalista torturado e morto nos anos 70. Vinte anos depois, integrou a comissão de advogados que redigiu o pedido de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Sua oratória na tribuna, recheada de tiradas sarcásticas e irônicas, é considerada um verdadeiro show. Ele representa uma rara combinação das qualidades necessárias para forjar grandes advogados e conseguiu construir um time de primeira linha. Escreve primorosamente. O advogado Sergio Bermudes defende as empresas mais poderosas do país.

               Nas folgas, o jurista combativo e cheio de manias arruma briga com gente como o magnata Donald Trump, pré-candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, hoje Presidente dos EUA. A confusão aconteceu em um dos endereços mais opulentos de Nova York, a Trump Tower, localizada na 5a Avenida. Em uma de suas estadas na cidade, o advogado Sergio Bermudes, dono de um apartamento no 54º andar do arranha-céu, avaliado em 4 milhões de dólares, foi surpreendido pelo alerta de incêndio. Assustado, ligou para a recepção, instalada no suntuoso lobby enfeitado com mármore rosa e painéis dourados, e foi orientado a descer até o térreo pelas escadas. “Não seria mais fácil subir e esperar por socorro na cobertura?”, questionou o advogado, que estava a catorze andares do topo do prédio. Diante da negativa, seguiu a orientação a contragosto, até que, em meio à descida, ouviu pelos alto-falantes do edifício — famoso por ter entre seus moradores celebridades como o ator Bruce Willis, o cantora Beyoncé e o jogador Cristiano Ronaldo — que se tratava de um alarme falso. Mais tarde, descobriu o motivo que o impediu de subir: seu vizinho mais ilustre, Donald Trump, dono da imensa penthouse que coroa a construção, havia trancado o acesso ao terraço porque não queria intrusos no seu jardim. Furioso, Bermudes enviou duas cartas endereçadas ao magnata solicitando que liberasse a passagem, por motivo de segurança. Nada de resposta. Só foi atendido quando ameaçou denunciar o caso aos bombeiros. Ainda não se dando por satisfeito, ao cruzar com o polêmico político em um dos elevadores, fez questão de confrontá-lo dizendo que o americano havia posto a sua vida em risco. Surpreso com a abordagem, Trump acabou contemporizando e, bem-humorado, alegou tratar-se de um incidente menor.
O episódio revela o temperamento combativo do jurista. Apesar da aparência inofensiva e franzina (76 quilos distribuídos por 1,69 metro de altura), Bermudes, de 70 anos, gosta mesmo é de briga — e das grandes.

                 Seu escritório, cuja sede se espraia por dois andares no antigo prédio da Bolsa de Valores no Rio, é apontado como o mais importante do Brasil no setor e um dos dez mais renomados do mundo, segundo a revista inglesa Chambers, especializada em direito. Em meio à lista atual, alinham-se clientes que vão do ex-bilionário Eike Batista, a empresas encrencadas do perfil da Sete Brasil, criada pela Petrobras para administrar as sondas do pré-sal e envolvida na Operação Lava­Jato. Entre as 42 000 causas em andamento, há a ação em que representa a Vale, uma das donas da mineradora Samarco, no caso do rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, e ainda disputas jurídicas em que responde por potentados como Bradesco, Citibank e Ambev e pelas construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão. Ele é o tipo de advogado que gera medo no tribunal. Tem talento e cultura jurídica invejáveis.
Amigo íntimo de juízes, desembargadores, ministros e políticos, o advogado não faz segredo de suas relações com poderosos. A proximidade com alguns dos membros da cúpula da Justiça brasileira, no entanto, já rendeu problemas para ambos os lados. Em seu escritório no Rio, trabalha a advogada Marianna Fux, filha do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que já foi criticado por julgar casos ligados à banca do amigo. Em 2013, o falatório em torno de uma festa em comemoração dos 60 anos de Fux, que seria realizada no apartamento de 700 metros quadrados do advogado, na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, acabou cancelada. Na ocasião, comentava-se que o evento promoveria a candidatura de Marianna à vaga de desembargadora no Tribunal de Justiça do Rio — hoje, ela está na lista sêxtupla de candidatos encaminhada pela seção fluminense da OAB ao TJ. Em Brasília, o escritório é chefiado por Guiomar Mendes, casada com o ministro do STF, Gilmar Mendes. A proximidade entre ambos é tamanha que o advogado chama o ministro de irmão. E foi Guiomar quem sugeriu a contratação de Ivete Sangalo para a celebração de 45 anos da firma, comemorada em 2014 com um festão para 3 000 convidados no Copacabana Palace — estima-se que só o cachê da cantora baiana ficou em 600 000 reais. 
                 Bermudes não esconde nem disfarça a aversão que nutre pelo ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, relator do mensalão.“Barbosa é um embuste, uma fraude, um engodo. Não sabe nada de direito, é extremamente ignorante". Bermudes é peremptório: “Em 47 anos de advocacia, nunca corrompi ninguém. Crio simpatia, admiração, e também temor.”
                   Bermudes só veste ternos do alfaiate Luigi Crincoli (a partir de 8 000 reais), de São Paulo, e roupas esportivas da grife Salvatore Ferragamo. Embora sinta pavor de estrada e prefira o uso de helicóptero, possui três carros blindados na garagem — um Mercedes S 63 AMG, um Ranger Rover Sport HSE Supercharged e um Mitsubishi Outlander. Só dispensa o motorista aos domingos, quando vai à missa na Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. O hábito de ir à igreja não é abandonado nem quando ele está no exterior. Fã do que chama de circuito Elizabeth Arden (a rota Nova York-Paris-Londres), ele viaja para fora pelo menos uma vez a cada dois meses. Só voa na primeira classe e hospeda-se em hotéis luxuosos, como o Bristol na capital francesa e o The Connaught na Inglaterra. A exceção é Nova York, onde fica no seu apartamento da Trump Tower. Suas escapadas mais exóticas incluem as Ilhas Maldivas e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Já esteve seis vezes no icônico cinco-estrelas Burj Al Arab. Por onde passa, é conhecido pelas polpudas gorjetas (50 dólares), que dá a cada funcionário que se aproxima. “Deus tem várias razões para me condenar, mas, se ele levar algo em consideração, será meu espírito de solidariedade com os humildes”, filosofa. Conseguir uma vaga em sua equipe — 76 advogados e 103 estagiários, no Rio — é o sonho de muitos estudantes de direito. Uma vez aceito, é preciso familiarizar-se com algumas regras da empresa. Lá, é costume que todos os colaboradores, homens e mulheres, se cumprimentem com um beijo no rosto, ou na careca, no caso do chefão. Atualmente, o Escritório De Advocacia Sergio Bermudes conta com trezentos integrantes, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, aos quais se incorpora uma rede de correspondentes no Brasil e no exterior. 
             Sergio Bermudes foi Cachoeirense Ausente em 1978.
           Abraços Fraternos,        

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