Cristiano Zaia | Brasília
Depois de voltar atrás na decisão de autorizar a importação de café arábica verde do Peru em maio deste ano, o Ministério da Agricultura se debruça novamente sobre o assunto e deve decidir em breve se permite ou não a compra do grão da Etiópia. O país africano é um importante produtor da espécie arábica, com cerca de 6,5 milhões de sacas anuais.
Já está sobre a mesa do secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Décio Coutinho, um pedido da multinacional suíça Nestlé para aprovar a importação de café verde da Etiópia, que seria a primeira autorizada pelo governo brasileiro.
A ministra da Agricultura Kátia Abreu aguarda apenas a definição da área técnica do ministério - que faz a análise de risco de pragas do grão etíope - para assinar uma Instrução Normativa autorizando ou não a importação, segundo o Valor apurou. Fiscais agropecuários da pasta estão empenhados neste momento sobre essa análise, na qual também está envolvida a área internacional do ministério.
A entrada do café verde etíope no país atenderia a uma demanda da indústria brasileira, que atua no segmento de cápsulas (monodoses) e pretende usar diferentes variedades nos blends do produto. Entre elas, a Nestlé, que vai inaugurar em meados de dezembro uma fábrica em Montes Claros (MG), com capacidade estimada para produzir 350 milhões de cápsulas de café por ano, e portanto pretende importar grãos de outros países.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Nestlé confirmou que solicitou ao ministério a liberação da importação de café verde da Etiópia, e acrescentou que o pedido de autorização é pleiteado por representantes da indústria brasileira desde 2008. Observou ainda que "o planejamento é que a importação do café da Etiópia, responsável por menos de 5% do volume utilizado nos blends de suas cápsulas, seja feita em caráter temporário".
"Para a Nestlé, o objetivo é o de viabilizar a composição de blends e atender à demanda existente no mercado interno, bem como dos mercados aos quais os seus produtos são e serão exportados", disse a empresa em nota. A companhia também disse estar investindo em pesquisa e já identificou fornecedores de café conilon e arábica no Brasil para produzir cápsulas com matéria-prima 100% nacional.
Uma eventual liberação da importação pelo Ministério da Agricultura deve gerar nova reação de cafeicultores de Minas Gerais e Espírito Santo, Estados líderes na produção do grão no país. O deputado capixaba Evair de Melo (PV), que também integra o Conselho Nacional do Café (CNC), pediu à ministra nos últimos dias que arquive o pedido da Nestlé e desconsidere todos os outros que chegarem ao ministério tratando sobre o mesmo assunto.
"A importação de café torrado e moído é permitida, mas a de café em grão coloca em risco os investimentos em pesquisa e extensão rural e o trabalho de milhares famílias que se dedicam a melhorar a cada dia a qualidade do nosso café", argumentou o deputado.
O ministério confirmou que há um pedido da Nestlé para importação de café verde da Etiópia, mas informou que não há prazo determinado para a conclusão de análise de risco de pragas em amostras do produto.
Apesar de não haver pedidos formais para importação de café verde de outros países, há indicativos que novas demandas podem surgir. Uma ata de reunião do CNC, de 16 de maio de 2014, ao qual o Valor teve acesso, fruto de audiência com executivos da Nestlé, registra que à época a empresa já manifestava interesse em importar pequenas quantidades do Quênia e da Colômbia apenas num primeiro momento de implementação de sua fábrica em Montes Claros.
Fonte: Valor Online - São Paulo/SP via ABIC
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