07/11/2010 -
A GAZETA
Você tem consciência do que é estar longe da tua terra e ouvir falar de uma pessoa muito querida e com representatividade na sua vida? É uma situação quase que indescritível, uma sensação única de muita emoção concentrada. Pois é, eu vivi este momento na cidade de La Paz, Bolivia, no último dia 27 de outubro.
Vamos fazer uma viagem no tempo, vamos atrasar o nosso calendário em 46 anos, para chegarmos ao movimento militar e também civil que derrubou o presidente eleito João Goulart em 1964. Nesta época, muitos brasileiros tiveram como única opção, de sobrevivência financeira e de permanecer vivo, sair do Brasil.
Como este texto foi registrado nos dias em que estive na Bolívia, mais uma vez farei uso do texto de José Maria Rabelo e Theresa Rabelo, no livro "Diápora - Os longos caminhos do exílio". Por pressão do regime militar, o governo da Bolivia colocou guardas na república denominada e conhecida com o Solar dos Zezinhos, em espanhol, El Solar de los Pepitos, por ali residirem o José Maria, José Serra e Jose Neiva Moreira. Com este nome "se tornou conhecida, até mesmo dos policiais que nos espionavam a mando da embaixada".
A residência ficava por coincidência ao lado da Embaixada brasileira, que pressionou o governo boliviano a vigiá-los. Como tinham condições para impedir a vigilância, não ficaram parados esperando o que iria acontecer. O texto abaixo mostra a criatividade dos exilados.
- Posto o esquema a funcionar, logo estabelecemos uma convivência amigável com os dois policiais. Durante a noite, quando a temperatura em La Paz comumente chega a menos de zero grau, nós os convidávamos para entrar e dormir em nosso apartamento, oferecendo-lhes sempre um lanche reforçado. Em compensação e por iniciativa deles, passaram a informar-nos sobre tudo o que acontecia na embaixada, pois tinham contato permanente com os seguranças de lá..."
Neste tempo de exílio fazia parte do grupo o educador Paulo Freire, que na época tinha 43 anos de idade, teve problemas respiratórios nos primeiros dias em função da altitude de La Paz, 3.600 metros. Paulo Freire, por sua competência de educador, trabalhou no Ministério de Educação da Bolívia. É justamente sobre ele que fala o início deste texto.
Participando do Encontro Internacional de Educação Alternativa e Especial, o brasileiro Pedro Pontual, falou sobre Educação Popular e Paulo Freire. A platéia ficava em clímax ao ouvir citações de textos de Paulo Freire. Era o reconhecimento do trabalho de um brasileiro de verdade. Imaginei 1964, quando Freire já genial, convivendo com a população boliviana, sabia que não estava ensinando, estava trocando saberes. Aliás, essência do trabalho de Paulo Freire é que não ensinamos nada a ninguém, aprendemos como ela.
No último dia do encontro aconteceu em praça pública uma exposição de material didático de cada entidade participante. Na primeira barraca que visitei havia um imenso banner com a figura de Paulo Freire e uma frase de sua autoria, em espanhol, que traduzi: "Dizer que os homens são pessoas e como pessoas são livres e não fazer nada para conseguir concretamente que esta afirmação seja objetiva, é uma farsa". Lembrei que, no meu convite de casamento com Eliane, em l977, utilizei uma frase de Paulo Freire: só existe futuro na medida em que existir esperança. Viajar cura ignorância. Até a próxima...
Ronald Mansurb é jornalista.
E-mail: ronaldmansur@gmail.com
Vamos fazer uma viagem no tempo, vamos atrasar o nosso calendário em 46 anos, para chegarmos ao movimento militar e também civil que derrubou o presidente eleito João Goulart em 1964. Nesta época, muitos brasileiros tiveram como única opção, de sobrevivência financeira e de permanecer vivo, sair do Brasil.
Como este texto foi registrado nos dias em que estive na Bolívia, mais uma vez farei uso do texto de José Maria Rabelo e Theresa Rabelo, no livro "Diápora - Os longos caminhos do exílio". Por pressão do regime militar, o governo da Bolivia colocou guardas na república denominada e conhecida com o Solar dos Zezinhos, em espanhol, El Solar de los Pepitos, por ali residirem o José Maria, José Serra e Jose Neiva Moreira. Com este nome "se tornou conhecida, até mesmo dos policiais que nos espionavam a mando da embaixada".
A residência ficava por coincidência ao lado da Embaixada brasileira, que pressionou o governo boliviano a vigiá-los. Como tinham condições para impedir a vigilância, não ficaram parados esperando o que iria acontecer. O texto abaixo mostra a criatividade dos exilados.
- Posto o esquema a funcionar, logo estabelecemos uma convivência amigável com os dois policiais. Durante a noite, quando a temperatura em La Paz comumente chega a menos de zero grau, nós os convidávamos para entrar e dormir em nosso apartamento, oferecendo-lhes sempre um lanche reforçado. Em compensação e por iniciativa deles, passaram a informar-nos sobre tudo o que acontecia na embaixada, pois tinham contato permanente com os seguranças de lá..."
Neste tempo de exílio fazia parte do grupo o educador Paulo Freire, que na época tinha 43 anos de idade, teve problemas respiratórios nos primeiros dias em função da altitude de La Paz, 3.600 metros. Paulo Freire, por sua competência de educador, trabalhou no Ministério de Educação da Bolívia. É justamente sobre ele que fala o início deste texto.
Participando do Encontro Internacional de Educação Alternativa e Especial, o brasileiro Pedro Pontual, falou sobre Educação Popular e Paulo Freire. A platéia ficava em clímax ao ouvir citações de textos de Paulo Freire. Era o reconhecimento do trabalho de um brasileiro de verdade. Imaginei 1964, quando Freire já genial, convivendo com a população boliviana, sabia que não estava ensinando, estava trocando saberes. Aliás, essência do trabalho de Paulo Freire é que não ensinamos nada a ninguém, aprendemos como ela.
No último dia do encontro aconteceu em praça pública uma exposição de material didático de cada entidade participante. Na primeira barraca que visitei havia um imenso banner com a figura de Paulo Freire e uma frase de sua autoria, em espanhol, que traduzi: "Dizer que os homens são pessoas e como pessoas são livres e não fazer nada para conseguir concretamente que esta afirmação seja objetiva, é uma farsa". Lembrei que, no meu convite de casamento com Eliane, em l977, utilizei uma frase de Paulo Freire: só existe futuro na medida em que existir esperança. Viajar cura ignorância. Até a próxima...
Ronald Mansurb é jornalista.
E-mail: ronaldmansur@gmail.com
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