Viajar cura ignorância
A GAZETA - 29-10-2010
Ronald Mansur
Estou bem alto, a 3.600 metros de altitude, nos Andes, na Bolívia, e em La Paz. Oficialmente é primavera aqui, como no Brasil, mas a temperatura é baixa e quando vai chegando a noite, costuma soprar um vento frio e a temperatura cai bastante, chegando a zero grau. É a segunda vez que aqui venho, a cidade continua com seus milhares de vendedores em pontos fixos. Aqui também circulam milhares de táxis e vans, fazendo funcionar o transporte urbano. Ainda poucas motos.
Desta vez vim com dois objetivos. O primeiro está no livro "Diáspora - Os longos caminhos do exílio", de José Maria Rabelo e Theresa Rabelo, onde relatam o início do exílio iniciado em 1964 e na Bolívia. Os autores falam no Hotel Avenida como o local onde os exilados iam todos os dias saberem de notícias do Brasil e saber quem havia chegado e quem havia partido. Achei o hotel e o fotografei. Ainda não descobri a casa onde José Maria Rabelo montou uma república onde foi morador José Serra. Continuo procurando. A Bolívia acolheu bem os exilados brasileiros e Rabelo relata que participou do desfile oficial no dia 6 de agosto, data da independência nacional. O livro tem uma foto do desfile.
O segundo objetivo é um velho hábito que tenho quando saio do Espírito Santo: andar pelas ruas, ir às feiras livres e supermercados. Quando sobra tempo procuro saber se ocorreu imigração libanesa e suiça. Como aqui tem poucos supermercados, o jeito foi bater pernas e me fartar no monumental comércio de rua.
Na feira dominical realizada na parte central de La Paz qualquer pessoa que tenha bom gosto ao apreciar verdadeiras obras de arte, tem à sua disposição ótimas opções de compras a preços baixos. Os preços atraem, o real vale quatro bolivianos. Pena que o peso da bagagem aérea seja de 20 quilos por pessoa e um volume. Na feira reencontrei um artesão que faz miniaturas de animais da região andina: pato, lhama, gato, jacaré, tatu, coruja, sapo. Desta vez me animei e pedi o endereço para ir direto na produção, na Artesania Paja Pajita.
O artesão mora na cidade de El Alto, cidade colada em La Paz, com população de 800 mil habitantes e que tem uma feira aos sábados que vende de tudo. De posse do endereço lá fomos em busca do atelier. A primeira tentativa foi negativa, voltei prá casa frustrado. Os números das casas não seguem a ordem natural. No dia seguinte, nova tentativa.
Chegamos até a uma construção simples, mas que guarda um artista de primeira grandeza. Quem nos recebeu foi Rosário Paja, o seu pai não estava em casa, havia ido a sua aldeia de origem, que fica a sete horas por estradas precárias, para trabalhar no cultivo de batatas. A família há mais de 20 anos migrou para El Alto, onde nasceu a sua filha, que nos recebeu. Ela tem 22 anos.
Conversa vai conversa vem, Rosário falou de sua etnia aymara. Quando a família chegou, eles eram discriminados, como todas as demais etnias bolivianas. "Quando minha família veio, o espanhol era a língua que deveríamos falar. Por isto hoje apenas entendo o nosso idioma de forma oral", relatou. Sem perguntar e de maneira espontânea ela falou que "como o nosso presidente é um aymara, as coisas vão mudando".
Por isto que o título deste texto é Viajar cura ignorância, que roubei do agrônomo Arthur Chinelatto, numa palestra realizada há muitos anos em Guarapari. Bolívia, és muito mais do que falam de ti. Voltarei...
Ronald Mansur é jornalista.
Estou bem alto, a 3.600 metros de altitude, nos Andes, na Bolívia, e em La Paz. Oficialmente é primavera aqui, como no Brasil, mas a temperatura é baixa e quando vai chegando a noite, costuma soprar um vento frio e a temperatura cai bastante, chegando a zero grau. É a segunda vez que aqui venho, a cidade continua com seus milhares de vendedores em pontos fixos. Aqui também circulam milhares de táxis e vans, fazendo funcionar o transporte urbano. Ainda poucas motos.
Desta vez vim com dois objetivos. O primeiro está no livro "Diáspora - Os longos caminhos do exílio", de José Maria Rabelo e Theresa Rabelo, onde relatam o início do exílio iniciado em 1964 e na Bolívia. Os autores falam no Hotel Avenida como o local onde os exilados iam todos os dias saberem de notícias do Brasil e saber quem havia chegado e quem havia partido. Achei o hotel e o fotografei. Ainda não descobri a casa onde José Maria Rabelo montou uma república onde foi morador José Serra. Continuo procurando. A Bolívia acolheu bem os exilados brasileiros e Rabelo relata que participou do desfile oficial no dia 6 de agosto, data da independência nacional. O livro tem uma foto do desfile.
O segundo objetivo é um velho hábito que tenho quando saio do Espírito Santo: andar pelas ruas, ir às feiras livres e supermercados. Quando sobra tempo procuro saber se ocorreu imigração libanesa e suiça. Como aqui tem poucos supermercados, o jeito foi bater pernas e me fartar no monumental comércio de rua.
Na feira dominical realizada na parte central de La Paz qualquer pessoa que tenha bom gosto ao apreciar verdadeiras obras de arte, tem à sua disposição ótimas opções de compras a preços baixos. Os preços atraem, o real vale quatro bolivianos. Pena que o peso da bagagem aérea seja de 20 quilos por pessoa e um volume. Na feira reencontrei um artesão que faz miniaturas de animais da região andina: pato, lhama, gato, jacaré, tatu, coruja, sapo. Desta vez me animei e pedi o endereço para ir direto na produção, na Artesania Paja Pajita.
O artesão mora na cidade de El Alto, cidade colada em La Paz, com população de 800 mil habitantes e que tem uma feira aos sábados que vende de tudo. De posse do endereço lá fomos em busca do atelier. A primeira tentativa foi negativa, voltei prá casa frustrado. Os números das casas não seguem a ordem natural. No dia seguinte, nova tentativa.
Chegamos até a uma construção simples, mas que guarda um artista de primeira grandeza. Quem nos recebeu foi Rosário Paja, o seu pai não estava em casa, havia ido a sua aldeia de origem, que fica a sete horas por estradas precárias, para trabalhar no cultivo de batatas. A família há mais de 20 anos migrou para El Alto, onde nasceu a sua filha, que nos recebeu. Ela tem 22 anos.
Conversa vai conversa vem, Rosário falou de sua etnia aymara. Quando a família chegou, eles eram discriminados, como todas as demais etnias bolivianas. "Quando minha família veio, o espanhol era a língua que deveríamos falar. Por isto hoje apenas entendo o nosso idioma de forma oral", relatou. Sem perguntar e de maneira espontânea ela falou que "como o nosso presidente é um aymara, as coisas vão mudando".
Por isto que o título deste texto é Viajar cura ignorância, que roubei do agrônomo Arthur Chinelatto, numa palestra realizada há muitos anos em Guarapari. Bolívia, és muito mais do que falam de ti. Voltarei...
Ronald Mansur é jornalista.
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