10-12-2010 A Gazeta
Na sacola de algodão carreguei comigo todos os dias que estive em La Paz o livro de José Maria Rabêlo e Maria Theresa Rabêlo, "Diáspora - os longos caminhos do exílio", onde relatam o tempo de exílio na Bolívia, no ano de 1964. O objetivo era descobrir o ambiente de duas fotografias. A primeira era a cena do desfile no dia da Independência Boliviana, 6 de agosto. A segunda, o local onde viveram numa casa ao lado da embaixada brasileira. Bati pernas pelas ladeiras de La Paz na busca dos locais.
Alguém pode estar pensando ou mesmo querendo me perguntar: mas afinal, qual é o teu interesse em registrar em fotografias fatos que estão no passado? É fácil responder. O meu objetivo é o de marcar e registrar um tempo que muita gente não imagina o que foi.
Falo do tempo do duro e do sofrido exílio em que milhares de brasileiros tiveram de deixar as suas casas no Brasil. Tem também o exílio interno que vivemos. Um registro sentimental de uma brava gente que para sobreviver em liberdade teve de deixar o Brasil. Uma gente que não se curvou.
Como La Paz mudou muito de 1964 para cá, em função direta da intensa e desordenada urbanização, tive de recorrer a pessoas da terra. Numa visita ao casal de sociólogos Eduardo Paz Rada e Vick, eles me indicaram a localização da embaixada em 1964. Fui e registrei, mas o local está bem mudado, com novas construções. As fotos foram feitas. O José Maria e a Theresa vão dizer se o local da residência está correto.
A segunda fotografia registra um desfile de 6 de agosto, quando se comemora a Independência da Bolívia. Aqui tive sorte, mas também me valeu a forma como procedo durante as minhas viagens, procuro o diferente, eventos que não estão nos roteiros do turismo tradicional. Andando pelo bairro Sopocachi, no centro de La Paz, me chamou a atenção uma faixa anunciando uma feira onde entidades iriam expor suas publicações. Era a troca de saberes, patrocinada pela ONU.
Mais uma caminhada ladeira acima. Na sacola o livro do José Maria e da Maria Theresa. No estande da Câmara Legislativa Plurinacional da Bolívia, livros sobre o trabalho parlamentar e sobre a história boliviana. Como perguntar é dever do jornalista, fui logo incomodando. O bibliotecário Rolando Alvarez Lópes, ao ver a foto foi taxativo: é na Praça Murilo. Do lado esquerdo e parte da Catedral e no outro lado é a fachada do museu.
No mesmo dia, na parte da tarde o destino foi a Praça Murilo. Lá estava o ambiente de 1964 registrado na foto do livro. Fui disparando a máquina e registrando. Imaginei a emoção dos exilados participando do desfile cívico numa terra estranha que os havia acolhido. Uma viagem que já completou 46 anos.
Ao som de um instrumento de sopro fazia minhas fotografias. Em poucos segundos ouvi: senhor, a bandeira. Uma pessoa me chamava atenção para a solenidade em torno da bandeira boliviana. Percebi centenas de pessoas em silêncio e perfiladas, participando da solenidade. A minha atitude foi entrar no clima, mas logo em seguida concluí minha missão, estava na memória da máquina o registro e a homenagem aos brasileiros exilados.
Nas três vezes em que estive na Bolívia compreendi, aprendi e entendi que realmente viajar cura ignorância...
Ronald Mansur é jornalista.
Na sacola de algodão carreguei comigo todos os dias que estive em La Paz o livro de José Maria Rabêlo e Maria Theresa Rabêlo, "Diáspora - os longos caminhos do exílio", onde relatam o tempo de exílio na Bolívia, no ano de 1964. O objetivo era descobrir o ambiente de duas fotografias. A primeira era a cena do desfile no dia da Independência Boliviana, 6 de agosto. A segunda, o local onde viveram numa casa ao lado da embaixada brasileira. Bati pernas pelas ladeiras de La Paz na busca dos locais.
Alguém pode estar pensando ou mesmo querendo me perguntar: mas afinal, qual é o teu interesse em registrar em fotografias fatos que estão no passado? É fácil responder. O meu objetivo é o de marcar e registrar um tempo que muita gente não imagina o que foi.
Falo do tempo do duro e do sofrido exílio em que milhares de brasileiros tiveram de deixar as suas casas no Brasil. Tem também o exílio interno que vivemos. Um registro sentimental de uma brava gente que para sobreviver em liberdade teve de deixar o Brasil. Uma gente que não se curvou.
Como La Paz mudou muito de 1964 para cá, em função direta da intensa e desordenada urbanização, tive de recorrer a pessoas da terra. Numa visita ao casal de sociólogos Eduardo Paz Rada e Vick, eles me indicaram a localização da embaixada em 1964. Fui e registrei, mas o local está bem mudado, com novas construções. As fotos foram feitas. O José Maria e a Theresa vão dizer se o local da residência está correto.
A segunda fotografia registra um desfile de 6 de agosto, quando se comemora a Independência da Bolívia. Aqui tive sorte, mas também me valeu a forma como procedo durante as minhas viagens, procuro o diferente, eventos que não estão nos roteiros do turismo tradicional. Andando pelo bairro Sopocachi, no centro de La Paz, me chamou a atenção uma faixa anunciando uma feira onde entidades iriam expor suas publicações. Era a troca de saberes, patrocinada pela ONU.
Mais uma caminhada ladeira acima. Na sacola o livro do José Maria e da Maria Theresa. No estande da Câmara Legislativa Plurinacional da Bolívia, livros sobre o trabalho parlamentar e sobre a história boliviana. Como perguntar é dever do jornalista, fui logo incomodando. O bibliotecário Rolando Alvarez Lópes, ao ver a foto foi taxativo: é na Praça Murilo. Do lado esquerdo e parte da Catedral e no outro lado é a fachada do museu.
No mesmo dia, na parte da tarde o destino foi a Praça Murilo. Lá estava o ambiente de 1964 registrado na foto do livro. Fui disparando a máquina e registrando. Imaginei a emoção dos exilados participando do desfile cívico numa terra estranha que os havia acolhido. Uma viagem que já completou 46 anos.
Ao som de um instrumento de sopro fazia minhas fotografias. Em poucos segundos ouvi: senhor, a bandeira. Uma pessoa me chamava atenção para a solenidade em torno da bandeira boliviana. Percebi centenas de pessoas em silêncio e perfiladas, participando da solenidade. A minha atitude foi entrar no clima, mas logo em seguida concluí minha missão, estava na memória da máquina o registro e a homenagem aos brasileiros exilados.
Nas três vezes em que estive na Bolívia compreendi, aprendi e entendi que realmente viajar cura ignorância...
Ronald Mansur é jornalista.
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