quarta-feira, 17 de abril de 2013

VITOR GRAIZE NO LÍBANO 9


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·       Quando encontramos Ward, no domingo à noite, em sua casa, ela estava de pijamas, sobre a cama, e tentava cobrir o pouco cabelo com um véu branco. A luz no quarto era fraca e ela falava com um fio de voz. Foi uma visita curta e de poucas palavras. Ao final, indelicadamente, quis saber a sua idade. Ela não soube, olhou para a nora, no sofá em frente, que disse 95. Mais tarde, o Tufic, seu irmão uma década mais novo, diria 92.
A se considerar a idade mais antiga, Ward era uma criança quando o Seu Amim deixou Btater, por volta de 1920 ou 1921. Filha da tia(-bisavó) Zahía, a quem meu bisavô confiou o ponto-de-vista sobre as polêmicas familiares das quais se distanciou, sem contudo se exilar, provavelmente essa prima distante e bastante idosa viveu intensamente a experiência da separação que viria a ser definitiva.
Dada a obstinação do Maher, que em um primeiro momento se recusou a me acompanhar, especulo que essa senhora fragilizada se posicionou de maneira firme quando uma segunda geração de emigrantes a caminho do Brasil, devido a pequenas rusgas, terminou partindo a família. Para convencê-lo a caminhar alguns metros, na mesma rua onde viveu toda a vida, expliquei que a viagem não fazia sentido sem essa visita e que não adiantava ir sem alguém que pudesse me ajudar como intérprete. Apesar da resistência, vi em seu sorriso, sentado ao meu lado à cabeceira da cama, que aquele momento também era importante pra ele.
Sem o Maher eu não ficaria sabendo que, para a Ward, “a nossa família no Brasil era algo tão presente que não parecia um primeiro encontro, nem que eu vinha de tão longe”. Não fiz muitas perguntas, quis saber de fotos e cartas, mas ela disse que provavelmente estariam na casa do irmão. Perguntei se poderia voltar outra hora, com luz do sol, para fotografá-la. Depois fomos embora.

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