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Quando encontramos Ward,
no domingo à noite, em sua casa, ela estava de pijamas, sobre a cama, e tentava
cobrir o pouco cabelo com um véu branco. A luz no quarto era fraca e ela falava
com um fio de voz. Foi uma visita curta e de poucas palavras. Ao final,
indelicadamente, quis saber a sua idade. Ela não soube, olhou para a nora, no
sofá em frente, que disse 95. Mais tarde, o Tufic, seu irmão uma década mais
novo, diria 92.
A se considerar a idade mais antiga, Ward era
uma criança quando o Seu Amim deixou Btater, por volta de 1920 ou 1921. Filha
da tia(-bisavó) Zahía, a quem meu bisavô confiou o ponto-de-vista sobre as
polêmicas familiares das quais se distanciou, sem contudo se exilar,
provavelmente essa prima distante e bastante idosa viveu intensamente a experiência
da separação que viria a ser definitiva.
Dada a obstinação do Maher, que em um primeiro
momento se recusou a me acompanhar, especulo que essa senhora fragilizada se
posicionou de maneira firme quando uma segunda geração de emigrantes a caminho do
Brasil, devido a pequenas rusgas, terminou partindo a família. Para convencê-lo
a caminhar alguns metros, na mesma rua onde viveu toda a vida, expliquei que a
viagem não fazia sentido sem essa visita e que não adiantava ir sem alguém que
pudesse me ajudar como intérprete. Apesar da resistência, vi em seu sorriso,
sentado ao meu lado à cabeceira da cama, que aquele momento também era
importante pra ele.
Sem o Maher eu não ficaria sabendo que, para a
Ward, “a nossa família no Brasil era algo tão presente que não parecia um
primeiro encontro, nem que eu vinha de tão longe”. Não fiz muitas perguntas,
quis saber de fotos e cartas, mas ela disse que provavelmente estariam na casa
do irmão. Perguntei se poderia voltar outra hora, com luz do sol, para
fotografá-la. Depois fomos embora.

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