Gildo, em exame de rotina, apresentou um aneurisma na aorta abdominal. Rapidamente rumamos para São Paulo e ele foi internado na Beneficência Portuguesa. Uma semana submetido a uma bateria de exames apresentou falência renal, o que o impedia de fazer a cirurgia. Retornamos a Cachoeiro e iniciou-se a Hemodiálise. Três vezes por semana, após o almoço, eu atravessava a cidade e o acompanhava ao Hospital onde ele, atrelado a uma máquina, filtrava o sangue por um período de 4 horas. As três horas da tarde servia-se café e nessa hora eu passava na padaria e comprava 10 ou 12 pães com manteiga para os pacientes. Muitas vezes eu levava de casa broa, bolo, mironga ou pão de queijo que a boa Amália preparava. Eles gostavam de Coca Cola e caldo de cana. Nessa hora tudo era permitido. A máquina filtrava. Ali fizeram-se sólidas amizades. A dor une. A solidariedade era comum. O renal crônico sofre muitas restrições. Dieta de sal zero, ingestão mínima de líquidos - sonha com água, dificuldade para viajar porque dependiam da máquina - bendita máquina que os mantinham vivos. Havia um senhor que fazia hemodiálise. Morava atrás do Mercado da Pedra. Ele disse para a minha filha, com olhos marejados em lágrimas: - Eu admiro muito o seu pai...eu amo o seu pai!....e ela nunca esqueceu suas palavras.
Mas nem tudo eram flores. Problemas de toda a ordem. Bate boca entre médicos e pacientes. Vi pessoas morrerem na cadeira de hemodiálise por alguma intercorrência, enquanto o médico fazia tudo para salvá-lo numa luta insana. O olhar de todos era de medo se não pânico. Quem será o próximo? Reconheço que os médicos são submetidos a estresse a todo o tempo. O ambiente é pesado. Ao paciente resta aceitar a regra, sem questionar. Existem médicos e médicos. Nem todos abraçam a medicina como sacerdócio.
Rompeu-se o aneurisma do Gildo. Ele foi levado de helicóptero para Vitória. Uma equipe de cirurgiões o aguardavam. A cirurgia foi um sucesso. Seis meses depois ele faleceu no Rio de Janeiro, de falência múltipla dos órgãos.
Abraços Fraternos
Helena
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