quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

TIO CESAR - O CORONEL - texto de Helena Machado

O telefone toca na minha cabeceira. 
- Alô. Quem fala?
- A senhora não me conhece. Sou mãe de uma filha do Donato. Preciso falar com a senhora e com o senhor Gildo. Preciso saber se podem me receber. Moro em Vila Velha. Isso se deu um ano após o falecimento de meu cunhado Donato. Contato feito, marcamos o dia de recebê-la. Ela trouxe a filha, uma adolescente, autista, somadas a outras deficiências que a tornavam de difícil convívio social. Parecia um bichinho acuado. Não falava. Tinha comportamento agressivo. Ilton Machado a conheceu aqui na minha casa e se consternou com o que viu. Ele achou a menina bem parecida com o pai.

A estória começa com o envolvimento amoroso de duas pessoas casadas. A mulher tinha família constituída com seu marido e três filhos menores quando se viu grávida novamente. A filha era de Donato mas o marido não sabia e a registrou. O casamento foi se deteriorando enquanto o envolvimento foi aumentando com o nascimento da filha. Donato alugou casa no Rio de Janeiro para sua amante e seus quatro filhos. Nesta vida paralela ele passou a usar o nome ou pseudônimo de "Cesar". Para os filhos da amante ele era o "tio Cesar". Assim que perceberam que a filha tinha problemas, a levaram ao médico especialista e souberam que a menina era portadora de autismo somadas a  outras síndromes. Donato tinha vergonha da menina e não escondia essa sua preocupação. Pouco depois ficou viúvo. A amante foi ao enterro. Nada o impedia de formar uma nova família. Ele argumentava para a mãe de sua filha que ele não a levava para morar com ele, por receio que descobrissem que a menina fosse sua filha já que ela parecia cada vez mais com ele. A amante aceitou essa condição e continuaram o romance clandestino.
Morre Donato, Coronel do Exército. Muito rico, uma invejável pensão e muitos imóveis em seu patrimônio, tinha como única herdeira uma filha do seu casamento se não tivesse esta outra. A mãe correu atrás e contratou uma advogada para contar ao ex marido que a menina não era sua filha. Precisava de tirar sua paternidade e transferir para o Coronel morto. Feito isso, foi preciso provar através do exame de DNA que a filha era mesmo dele e para isso nos procurou. Antes procurara Arismeu que se negou a oferecer sangue para tal exame. Gildo já estava muito doente, muito fraquinho e fazia hemodiálise quando foi procurado para esse mister. Ele aceitou sob condições. Donato devia a ele um valor impagável. Agora era o momento de receber parte do que ele devia. Feito um contrato, o sangue foi tirado e levado para a comprovação de paternidade. A filha passou a dividir com a irmã pensão e patrimônio. Poucos anos após, a filha do seu casamento, morre. Ela também tinha a doença da família, a doença do avô - Transtorno bipolar, antes conhecida por psicose maníaco depressiva. Agora a menina é herdeira, única, de uma das maiores fortunas da família. Eu, já viúva, abordei a mãe da menina cobrando o que nos era devido de acordo com o contrato firmado. Não a vi com disposição em cumprir o combinado. Quando não se tem caráter, nem contrato vale, já dizia o meu cunhado Hyercem Machado. A experiência me mostrou que não vale a pena brigar. Estou chupando minhas últimas jabuticabas e não quero começar outra batalha. Quero Paz!
Abraços fraternos
Helena💕

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