29/10/2013 -
Atividade física ou intelectual que visa a algum objetivo; esforço ou empenho. São com essas palavras que o dicionário Aurélio define a palavra trabalho. No entanto, saindo do sentido literário, a palavra ganha uma importância ainda maior – tal como no famoso ditado que diz que “o trabalho dignifica o homem”.
E é graças à fusão desses sentidos que os detentos da Psmecol (Penitenciária de Segurança Média de Colatina), situada no Córrego Santa Fé, estão tendo uma oportunidade de recomeçar, escrevendo assim um futuro diferente daquele imaginado por eles até o momento em que deram entrada na unidade prisional.
Participando da Fábrica de Bloquetes, projeto de ressocialização de detentos realizado pela Prefeitura de Colatina, através da Secretaria de Obras, os detentos tem a oportunidade de trabalhar construindo blocos de cimento que são utilizados pela administração municipal nas diversas obras do município.
Vencedor do prêmio Selo Social 2013, que busca dar visibilidade aos participantes do programa de responsabilidade social e ressocialização do Governo do Estado, a Fábrica de Bloquetes conta atualmente com a participação de 30 detentos, divididos em dois turnos de trabalho (manhã e tarde) e que já construíram mais de 45 mil blocos este ano.
Preso há três anos e oito meses, Geanderson, de 25 anos, revela que através do projeto, além de obter remição da pena (três dias de trabalho descontam um dia de pena), ainda consegue ajudar no sustento da família; afinal os detentos que participam do projeto recebem R$ 0,25 por cada bloco produzido, o que no final do mês dá uma média de R$ 120 a R$ 200 para cada um.
“O projeto é muito importante para mim. É uma forma de trabalho digno, onde posso ajudar a sustentar minha família com dinheiro honesto. Além disso, trabalhando aqui tenho a possibilidade de fazer exercícios e pegar sol, o que para mim é muito melhor do que ficar dentro da galeria (local onde ficam as celas)”, revelou Geanderson.
O (re)começo na prisão
Porta de entrada para as outras atividades realizadas dentro do presídio, o projeto tem uma fila de espera grande, mas exige alguns requisitos básicos para que o detento se inscreva. Em primeiro lugar, o bom comportamento dentro da unidade prisional é fundamental.
Além disso, segundo Micheline Ribeiro, terapeuta ocupacional do local, é necessário estar estudando (os presos contam com uma escola dentro da penitenciária) e passar por uma bateria de exames de saúde antes do início das atividades.
“Esses exames são feitos para saber se o detento não tem nenhum problema que o impossibilite de trabalhar aqui, afinal este é um trabalho que exige um esforço físico grande”, concluiu Micheline.
Mesmo sendo um trabalho difícil e que possibilita a mudança para outras áreas dentro do presídio, como padaria, lavanderia, oficina de costura, existem presos que abdicaram de um trabalho mais leve para seguir construindo os blocos.
Edemilson, de 34 anos, por exemplo, já tem experiência em outras áreas de trabalho, mas prefere continuar na Fábrica de Bloquetes.
“Fiquei um tempo na oficina de costura, mas preferi voltar a construir os blocos porque gosto daqui. Vale a pena levantar e vir trabalhar. Além de ocupar a mente, a gente percebe que consegue melhorar em outras coisas, como trabalho em equipe”, revelou o detento, que está há cinco anos preso.
Números de um futuro melhor
Inaugurada em 2006, a Fábrica de Bloquetes já recebeu vários detentos nesse período e, juntamente com as outras atividades realizadas na unidade prisional, ajudam a reduzir drasticamente o número de reincidentes dentro da penitenciária.
De acordo com o gerente operacional da Psmecol, Gilberto de Jesus Júnior, graças a esses programas de ressocialização, além de se desenvolver profissionalmente, os presos conseguem, de fato, se inserir na sociedade e não voltam a cometer crimes.
“Alguns estudos apontam que o número de presos reincidentes no mundo é de 70%. No Brasil, esse número que já é expressivo, sobe para 80%. Porém, aqui (nas unidades da empresa administradora, que contam com esses trabalhos de ressocialização) o número cai para 13%”, disse Gilberto, que complementou:
“Os números despencam assim justamente por causa do trabalho. Sempre quando acabam os cursos, os detentos recebem um certificado de conclusão que não mencionam que eles fizeram o curso aqui dentro da prisão. Dessa forma, eles conseguem se inserir mais facilmente no mercado. Eles apresentam o certificado, mostram no período de experiência dentro das empresas que sabem trabalhar e são contratados em definitivo, o que evita que eles voltem a cometer crimes”.
Se a transformação depende de cada um, o trabalho em equipe e a oportunidade oferecida parecem realmente ser um incentivo para ajudar quem quer deixar de vez o passado para trás e buscar um novo começo. Esse é o caso de Thiago, de 30 anos e a sete preso, que viu na Fábrica de Bloquetes o auxílio que precisava para mudar.
“Esse trabalho me mudou, me fez sentir melhor. Agora consigo perceber que o ser humano realmente tem a capacidade de se transformar, de melhorar”, finalizou Thiago.
Nenhum comentário:
Postar um comentário