quarta-feira, 25 de maio de 2016

A FESTA DA CIDADE, O DESENVOLVIMENTO E A CULTURA LOCAL



Jorge Kuster Jacob

Evanildo C. BECHARA em seu dicionário define inicialmente cultura como “modo de

cultivar a terra”, depois “conjunto de conhecimentos de uma pessoa” e por fim “cultura

acumulada pela humanidade ou valores, costumes e estética de um período histórico”.

AURÉLIO tem como definição diferente “conjunto de características humanas que não são

inatas e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação ou colaboração

entre indivíduos em sociedade”. Ele continua, “conjunto de padrões de comportamento,

das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais,..” Já o dicionário de

Rogério de Araújo RAMOS conceitua cultura como “conjunto de conhecimentos,

costumes e tradições de um povo ou de uma época.”

Cultura é algo que acrescentamos à natureza. Só o ser humano faz isso. É tudo aquilo que

pensamos, fazemos e avaliamos. Avaliamos de forma crítica e criativa. Contribui com o

nosso desenvolvimento local e sustentável? Temos a cultura de massa que manipula a

massa. Ela é imposta, vendida pelos meios de comunicação. A cultura erudita que só a elite

consome. E a cultura popular que é transmitida de geração em geração e é de domínio

popular. Mas qual deve ser a prioridade dos nossos municípios. Depende da estrutura

social, econômica e política de cada município. Depende de como foi a história, a

ocupação, a construção de cada município. Para enraizar uma cultura é importante estudar

a história de todos os municípios, suas lutas, pois estas fazem parte de suas conquistas, de

sua identidade histórica e cultural.

Vejamos as festas das cidades que na maioria dos municípios é uma verdadeira “aberração

cultural” para não falar de “entreguismo”. Para você entender isso basta analisar o cartaz

de uma festa de cidade da sua região e perguntar: O que de imagens de artistas, paisagens,

comidas, tradições, músicos locais ilustram o cartaz. Leia a programação: tem artista,

exposição e culinária local na programação? E nos dias de festa, o palco é ocupado por

artistas locais ou de fora? Quantos por cento? Na verdade a grande maioria das festas

ainda são encontros onde o prefeito contrata a preços absurdos artistas nacionais e

continuam fazendo o que alguns imperadores de Roma faziam com a plebe, o pobre povo

romano, ou seja, a política do “pão e circo”. Alienando o povo. Isso é vergonhoso e

atrasado. É preferível fazer uma festa para dez mil munícipes conscientes do que cem mil

imbecis. Fazer cultura assim é como jogar o cristão para o leão faminto e aplaudir o leão

saciado em seguida na arena, na época do Império Romano.

As festas das cidades deveriam ser o ápice de verdadeiros movimentos culturais locais que

poderiam acontecer nos municípios. Onde deveriam degustar e vender a culinária local,

promover os artistas da terra, as danças locais, mostras as conquistas de cada ano. Onde o

interior, os camponeses deveriam vender e expor suas artes e fazeres. Cada ano deveria ser

a comemoração do planejamento e das conquistas conseguidas. Assim o evento faria parte

de um verdadeiro movimento de transformação e desenvolvimento local e sustentável.

Infelizmente ainda vejo muitos cartazes de festas das cidades com nada local e o palco

sendo ocupados por artistas de fora. Aí aparece um monte de camelos de fora quando o

comércio, indústria local e os agricultores poderiam mostrar e vender seus produtos. Assim

estaríamos comprometidos e contribuindo com o desenvolvimento local e sustentável. O

cartaz de uma festa deveria ser uma obra de arte, uma fonte histórica registrando a cultura

local de cada ano. Esse cartaz deveria ser emoldurado e guardado no museu da cidade com

naftalina para as traças não comer.

Investir milhões em artistas de fora e ainda deixar toda praça de alimentação e a parte

comercial para camelos de fora é a festa mais idiota que já vi. Esses artistas no fim da

apresentação e os camelos no fim da festa levam nada mais do que milhões para fora

quando a grande parte deste dinheiro poderia estar circulando no município, aquecendo a

economia local e fortalecendo a cultura local ainda mais nestes momentos de crise.

Na segunda-feira sobrou apenas o lixo para os pobres garis limpar. Talvez algumas

famílias ainda encontrem pães nos latões de lixo e possam saciar-se, pois a alegria da

festa foi ontem. Triste final.

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