Gildo tinha um sonho. Transformar sua propriedade rural em lugar adaptado para receber seus amigos que estivessem próximos a fazerem sua passagem final. Sem nenhum preconceito já batizou esse lugar de "Fazenda da Boa Morte". Esse lugar teria médicos, enfermeiras, psicólogos e até assistência espiritual, de acordo com suas crenças. Ele achava que o contato com a natureza, traria mais paz e tranquilidade para o paciente. Enquanto sonhava, levou para lá alguns amigos com doenças já bem avançadas e que se sentiam revigorados com a vida simples da roça. Petrônio, Sr. Oswaldo, Lacy Pereira, Seu Jacó, foram alguns que passaram por lá. Mas precisava de muito mais. Ele não viveu o suficiente para realizar esse sonho.
Lembro-me de algumas passagens que ficaram indeléveis na minha memória. Gildo se dobrava em atenção aos amigos. Não deixava faltar nada. Junto aos amigos, tornava-se criança. Esmerava na cozinha, tendo a frente do fogão a Dona Ermínia e seu amigo Lacy Pereira. Petrônio ocupava-se em pintar e pintava lindos quadros em discos de vinil e quando faltava quadros, pintava jornais. Uma obra de arte. O Lacy vivia pilotando fogão e brigava com todos...grande figura...grande amigo...
Era seu derradeiro dia aqui na terra. O Céu encoberto de nuvens cinzentas, tornava o dia mais triste. Ele cismava entre pensamentos, recordações e visões. Delírio? Não. Ele estava lúcido e falava dos sonhos, lembrava amigos e lamentava os projetos não realizados.
- Eu fracassei, dizia. Não realizei os sonhos que tinha para a fazenda.
- Como? Inquiri sem obter nenhuma resposta. Não fale assim...está cansado?
- Não. Em absoluto. As ideias embaralham em minha cabeça e me esforço para concatená-las. Está tudo muito estranho. Estou na fronteira. Não há muros, paredes. Tudo se descortina à minha frente e não vejo ninguém. Tudo muito devassado. Não há privacidade.
E assim ele voltava ao tempo e vagava com seus pensamentos lembrando esses sonhos...
"Ainda vou transformar essa fazenda em uma casa de assistência para trazer os amigos que estão em doenças terminais. Aqui ninguém vai sentir dor. A pessoa vai morrer com dignidade. Ela terá assistência espiritual, além de assistência médica e de enfermagem. Ela viverá dias mais alegres e felizes, junto a natureza e cercada pelo carinho dos amigos. Aqui será a Fazenda da Boa Morte". (Fato verídico, narrado no livro de minha autoria, "FAZENDA DA BOA MORTE - um sonho! - editado no ano 2000).
Abraços Fraternos,
Helena
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