terça-feira, 13 de setembro de 2016

Exposição de fotografias mostra efeitos da bestialidade do homem sobre si mesmo



“Vou colecionar mais um soneto,
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração.”
Este trecho da canção "Retrato em Branco e Preto", de Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim (lançada em 1968), dá uma ideia do que pode provocar a exposição de fotografias que está marcada para acontecer a partir desta segunda-feira, dia 19, até domingo, 25, nas dependências da Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles (Ambes), Município da Serra. A curadoria da mostra está a cargo da Fundação Alphaville, de São Paulo, que tem representação em Vitória.
Horários para visitação:
Segunda-feira, dia 19: 19h30 (abertura oficial).
Terça-feira, 20, a sexta-feira, 23: 9 h a 12 h, 15 h a 21 h.
Sábado, 24: 8 h a 11h30.
Domingo, 25: 15 h às 19 h.
Trata-se da exposição “Êxodos”, composta por cerca de 60 fotografias em preto e branco, realizadas pelo fotojornalista mineiro-capixaba Sebastião Salgado. O foco das fotos são as marchas migratórias mundiais, quando muitas pessoas são obrigadas a deixar a própria casa para trás, por causa de questões de natureza política, social ou econômica ou para fugir de batalhas urbanas de guerras como as registradas em vários países da África, cuja selvageria é digna dos antigos confrontos entre tribos.
Caracterizadas por um realismo chocante, as fotografias de Salgado revelam os efeitos de tais conflitos sobre as pessoas – principalmente crianças. Ele começou a montar o projeto em 1993, o que o levou a 40 países ao longo de seis anos. A força do conteúdo da mostra surpreendeu (e chocou) o mundo, chamando a atenção para o talento de Salgado com as lentes fotográficas, hoje considerado um dos mais respeitados fotojornalistas do mundo.

Comoção

Difícil é o visitante da “Êxodos” não se comover, não se chocar, diante, por exemplo, de olhos que transmitem aquela profunda tristeza de quem se sente sem saída, sem perspectiva para a própria vida, ao ter que abandonar o lar, acuado por brigas com as quais, em geral, nada tem a ver. Pior ainda quando as vítimas são crianças, justamente a faixa etária da qual se espera alegria, felicidade, esperança de uma vida feliz, num mundo que, para isto, deveria ser cada vez mais livre, democrático, civilizado.
A comoção dos visitantes da “Êxodos” se registrou em todas as cidades por onde passou. E acabou por contagiar o próprio autor, deixando-lhe marcas profundas, visíveis em seu rosto, principalmente em seus olhos. É o que se vê no filme “O Sal da Terra” (2014), dirigido pelo filho, Juliano Ribeiro Salgado, e pelo consagrado cineasta alemão Wim Wenders (“Paris, Texas”). O filme concorreu ao Oscar de Documentário e já foi exibido em dois cinemas de Vitória: Jardins 2, de Jardim da Penha (09/04 a 20/05/15), e Metrópolis, da Ufes (12/05/16).
O acervo de Salgado está hoje sob a guarda do Instituto Terra, criado em 1998 por ele e sua esposa, Lélia Deluiz Wanick, com o objetivo de cuidar principalmente de questões relacionadas ao meio ambiente. O Terra tem sede na Cidade de Aimorés (Minas Gerais), onde desenvolve vários projetos, principalmente em propriedades da família de origem do fotógrafo.

O artista das lentes

Salgado nasceu e passou sua infância na zona rural de Aimorés, que é vizinha à capixaba Baixo Guandu. Aos 15 anos, sua família se mudou para Vitória, capital do Espírito Santo, onde conheceu Lélia e logo se casaram. Também em Vitória, Salgado se formou em Economia, pela Ufes(Universidade Federal do Espírito Santo), de 1964 a 1967.
E foi ampliar o currículo de economista fora do país, fazendo mestrado nos Estados Unidos e doutorado em Paris (França). Salgado e Lélia moraram também em Londres (Inglaterra), de 1971 a 1973, ano em que ele descobriu a fotografia, numa viagem à África, e a paixão recém-descoberta o levou a abandonar a Economia. De 1974 a 1994, trabalhou nas três mais renomadas agências fotojornalísticas do mundo.
Em 1994, criou sua própria agência, a “Imagens da Amazônia”, e desenvolveu seu primeiro projeto pessoal, o “Outras Américas”, fotografando lugares remotos da América Latina, o que resultou ainda num livro e numa exposição. Hoje, já tem 10 livros publicados.
Também colaborou generosamente com várias organizações humanitárias de atuação mundial, como o “Médicos sem Fronteiras”, o que contribuiu decisivamente para chegar ao material do projeto “Êxodos”.
Em 2001, foi nomeado “Representante Especial do Unicef” (Fundo dasNações Unidas para a Infância).
Em 12 de maio de 2016, recebeu da Ufes o título de “Doutor Honoris Causa”.

Como chegar

A Ambes (Associação de Moradores do Bairro Eurico Salles) fica na Rua dos Colibris, esquina com a Avenida João Palácio, ao lado da BR 101. Estando em qualquer dos dois sentidos da BR 101, de ônibus ou de carro próprio, vá até o semáforo próximo do Supermercado São José (de um lado) e do Apart Hospital (do outro lado). Entre então à esquerda (se vem da Serra) ou direita (se vem de Vitória), pegando a Rua João Palácio. A Associação estará na primeira esquina à esquerda, em frente ao Motel Panorama.
O presidente da Ambes, Fábio Santana, avalia a presença da Êxodos como “um orgulho para Eurico Salles, bairros adjacentes e toda a Serra, porque nossa preocupação não é só com as questões localizadas, mas também com temas como este que ela retrata, o êxodo provocado pelas guerras, porque é doloroso para qualquer ser humano, em qualquer lugar do planeta. E mais: Sebastião Salgado é um ícone que o mundo todo respeita muito, particularmente nós, capixabas, devido a suas ligações com o nosso Estado.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário