Jorge Kuster Jacob
Evanildo C. BECHARA em seu dicionário define inicialmente cultura como “modo de
cultivar a terra”, depois “conjunto de conhecimentos de uma pessoa” e por fim “cultura
acumulada pela humanidade ou valores, costumes e estética de um período histórico”.
AURÉLIO tem como definição diferente “conjunto de características humanas que não são
inatas e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação ou colaboração
entre indivíduos em sociedade”. Ele continua, “conjunto de padrões de comportamento,
das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais,..” Já o dicionário de
Rogério de Araújo RAMOS conceitua cultura como “conjunto de conhecimentos,
costumes e tradições de um povo ou de uma época.”
Cultura é algo que acrescentamos à natureza. Só o ser humano faz isso. É tudo aquilo que
pensamos, fazemos e avaliamos. Avaliamos de forma crítica e criativa. Contribui com o
nosso desenvolvimento local e sustentável? Temos a cultura de massa que manipula a
massa. Ela é imposta, vendida pelos meios de comunicação. A cultura erudita que só a elite
consome. E a cultura popular que é transmitida de geração em geração e é de domínio
popular. Mas qual deve ser a prioridade dos nossos municípios. Depende da estrutura
social, econômica e política de cada município. Depende de como foi a história, a
ocupação, a construção de cada município. Para enraizar uma cultura é importante estudar
a história de todos os municípios, suas lutas, pois estas fazem parte de suas conquistas, de
sua identidade histórica e cultural.
Vejamos as festas das cidades que na maioria dos municípios é uma verdadeira “aberração
cultural” para não falar de “entreguismo”. Para você entender isso basta analisar o cartaz
de uma festa de cidade da sua região e perguntar: O que de imagens de artistas, paisagens,
comidas, tradições, músicos locais ilustram o cartaz. Leia a programação: tem artista,
exposição e culinária local na programação? E nos dias de festa, o palco é ocupado por
artistas locais ou de fora? Quantos por cento? Na verdade a grande maioria das festas
ainda são encontros onde o prefeito contrata a preços absurdos artistas nacionais e
continuam fazendo o que alguns imperadores de Roma faziam com a plebe, o pobre povo
romano, ou seja, a política do “pão e circo”. Alienando o povo. Isso é vergonhoso e
atrasado. É preferível fazer uma festa para dez mil munícipes conscientes do que cem mil
imbecis. Fazer cultura assim é como jogar o cristão para o leão faminto e aplaudir o leão
saciado em seguida na arena, na época do Império Romano.
As festas das cidades deveriam ser o ápice de verdadeiros movimentos culturais locais que
poderiam acontecer nos municípios. Onde deveriam degustar e vender a culinária local,
promover os artistas da terra, as danças locais, mostras as conquistas de cada ano. Onde o
interior, os camponeses deveriam vender e expor suas artes e fazeres. Cada ano deveria ser
a comemoração do planejamento e das conquistas conseguidas. Assim o evento faria parte
de um verdadeiro movimento de transformação e desenvolvimento local e sustentável.
Infelizmente ainda vejo muitos cartazes de festas das cidades com nada local e o palco
sendo ocupados por artistas de fora. Aí aparece um monte de camelos de fora quando o
comércio, indústria local e os agricultores poderiam mostrar e vender seus produtos. Assim
estaríamos comprometidos e contribuindo com o desenvolvimento local e sustentável. O
cartaz de uma festa deveria ser uma obra de arte, uma fonte histórica registrando a cultura
local de cada ano. Esse cartaz deveria ser emoldurado e guardado no museu da cidade com
naftalina para as traças não comer.
Investir milhões em artistas de fora e ainda deixar toda praça de alimentação e a parte
comercial para camelos de fora é a festa mais idiota que já vi. Esses artistas no fim da
apresentação e os camelos no fim da festa levam nada mais do que milhões para fora
quando a grande parte deste dinheiro poderia estar circulando no município, aquecendo a
economia local e fortalecendo a cultura local ainda mais nestes momentos de crise.
Na segunda-feira sobrou apenas o lixo para os pobres garis limpar. Talvez algumas
famílias ainda encontrem pães nos latões de lixo e possam saciar-se, pois a alegria da
festa foi ontem. Triste final.
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