sexta-feira, 1 de março de 2013

Qual é ponto ideal de colheita nas culturas de milho e sorgo?




Devido ao atraso das chuvas no ano passado, na região do Brasil Central, a maioria dos produtores semearam o milho e o sorgo tardiamente. Desse modo, estas culturas estão sendo colhidas nesta época do ano, o que traz à tona a importância do tema ‘ponto de colheita’ destes cereais para a produção de silagem.

O ponto ideal de colheita das plantas de milho e de sorgo parece ser um assunto já muito discutido entre produtores e técnicos, de modo que não são necessárias novas abordagens sobre o assunto, pois existe um consenso geral entre todos sobre os critérios que devem ser tomados sobre a maturidade fisiológica das plantas (enchimento dos grãos).

Contudo, com grande frequência nos deparamos com situações desfavoráveis na produção de silagem destas espécies, devido, principalmente, à antecipação do momento ideal para a colheita, quando a planta ainda não apresenta teor de matéria seca desejado e o grão não acumulou quantidade suficiente (próxima da máxima) de amido.

Esses dois fatores (matéria seca e amido) são essenciais quando cereais estão sendo ensilados. A matéria seca define o grupo de microrganismos que poderá se desenvolver durante o processo fermentativo, e quando ela é baixa, bactérias indesejáveis dominam o processo, elevando as perdas durante a estocagem. O amido é o principal carboidrato presente nestas espécies, portanto o que define a concentração energética do alimento.

Os carboidratos possuem importância quantitativa na dieta de ruminantes (~70%), o que confere alto impacto sobre a economicidade do sistema. Quando a planta é colhida com teor de matéria seca abaixo de 28-30%, nem todo amido foi acumulado no grão. Em plantas de milho, a maneira mais fácil e correta para se monitorar a matéria seca da planta e o acúmulo de amido é por meio da observação dos grãos. Em 1984 dois pesquisadores americanos (Afuakwa e Crookston) elegeram a linha do leite no grão como o critério para definir o momento ideal de colheita. A linha do leite faz a demarcação entre a matriz sólida (amido) e a matriz líquida (açúcares) do grão, a qual muda de posição no sentido da coroa para a base (onde se insere o grão na espiga). Para visualizar a linha do leite é necessário partir a espiga. Ela se torna visível somente de um lado, enquanto do outro está coberta pelo embrião em desenvolvimento. Quando a linha do leite se encontra entre 1/3 a 2/3 (Figura 1) a planta já acumulou matéria seca e amido suficiente para ser ensilada.

Figura 1. Intervalo correto que a planta de milho deve ser colhida para a produção de silagem.

Para a cultura do sorgo não há como observar a linha do leite porque a deposição de amido é distinta, contudo, é possível observar a consistência dos grãos, ou seja, quando os mesmos estão passando do estágio leitoso para o farináceo, a planta pode ser colhida.

Quando o teor de amido da silagem é elevado ocorre redução significativa no custo da mesma, e ainda reduz aquisição de nutrientes energéticos na forma de concentrado para o balanceamento da dieta. Como os animais estão se tornando cada vez mais produtivos, devido ao melhoramento genético e práticas de manejo adequadas, a necessidade de se elevar a concentração energética na dieta passa ser essencial dentro do sistema de produção e, para isso, necessitamos de amido na ração.

Embora o teor de matéria seca reduzido (abaixo de 30%) seja indesejado pelos aspectos enumerados anteriormente, ressalta-se que teores acima de 38% não são preconizados, pois aumenta a resistência da massa de silagem à compactação durante a sua confecção, reduzindo a densidade. Altos teores de matéria seca (acima de 40%) também exigem maior potência do equipamento que realiza a colheita para manter o tamanho de partícula uniforme. Além destes fatores, quando o grão atinge a maturidade fisiológica, a digestibilidade do amido decresce, principalmente em híbridos de milho que apresentam grão do tipo flint (duro).

Para finalizarmos, gostaríamos de ressaltar que este artigo vem novamente discutir os aspectos do ponto ideal para colheita com o intuito de esclarecer técnicos e produtores que a maturidade fisiológica da planta é algo chave no sucesso da produção de silagem de milho e de sorgo, e que se ela for respeitada a produção de amido poderá ser maximizada. Essa maximização só ocorre quando os critérios descritos anteriormente são obedecidos.

Em muitas situações, a "ansiedade" em colher as roças destas culturas ocorre devido ao fenômeno de clorose nas folhas localizadas na porção inferior da planta, fruto de adubação inadequada, principalmente com nitrogênio e enxofre. Esse sintoma foliar nos dá a falsa impressão que a planta está secando, o que leva muitos a iniciar a colheita de forma antecipada. Percebe-se que ocorre um efeito cascata: o erro na adubação conduz ao erro no ponto de colheita, que aumenta as perdas, que reduz a concentração de amido, que reduz a energia da silagem e que reduz a produção de leite ou o ganho de peso.

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