Em Afonso claudio Cooperativa reclama que prefeitura compra o mínimo da agricultura familiar. Texto de Dinah Lopes

Além de contribuir para a qualidade da merenda escolar, a lei 11.947 de 2009 tem o mérito
de incentivar e gerar renda para os agricultores familiares garantindo um mercado
permanente para a produção desse segmento e fixando o homem no campo.
Atualmente, em Afonso Claudio, 125 pequenos agricultores são beneficiados pelo
programa da merenda, fornecendo seus produtos através de chamadas públicas da
Prefeitura, que estipula o preço de cada item.

Como a Prefeitura investe mais de R$ 100 mil ao ano, a legislação também determina
que, a partir desse montante, os agricultores sejam organizados em cooperativas para
representá-los em todo o processo, desde as chamadas públicas até a logística e entregas.
Criada em 2011 para atender a essa exigência legal, a Cooperativa dos Agricultores
Familiares de Afonso Cláudio começou com 20 cooperados e, hoje, tem 125.

O presidente da entidade, Gelson Fiorio Zuin, diz que antes a Prefeitura comprava
individualmente dos agricultores, mas havia muitas falhas nas entregas. Por isso, o
Governo Federal resolveu incluir a mediação por cooperativas, visando a uma melhor
gestão da produção, da logística e da entrega dos itens comprados pelas instituições
públicas.

Gelson Zuin explica que, entre as vantagens, os agricultores conseguem agregar mais
valor aos seus produtos, aprender a planejar a produção para o ano todo, ter renda
constante e gerenciar sua propriedade com mais eficácia. A própria cooperativa incentiva
e orienta essas práticas, ajudando na profissionalização dos produtores rurais.

Ao todo, a Cooperativa entrega cerca de 23 itens. Como exemplo de valorização,
o presidente cita a batata, geralmente adquirida no mercado a R$ 40,00 a caixa enquanto
por meio do programa merenda escolar chega até R$ 84,00. O problema apontado por
Gelson Zuin é que a Cooperativa não consegue vender 100% dos seus itens para a
Prefeitura de Afonso Cláudio, que se restringe ao mínimo de 30% estabelecido pela lei
e busca no mercado os 70% restantes. É o caso do feijão, que os agricultores locais
produzem mas a Prefeitura compra de outros fornecedores.

Para resolver esse problema, a Cooperativa ampliou a sua carteira de clientes, fornecendo
os produtos dos cooperados para prefeituras de outros municípios e até para a rede
estadual de ensino. Hoje, Vila Velha, Vitória, Serra, Guarapari, Cariacica, Ibiraçu são
alguns dos municípios que compram merenda escolar da Cooperativa de Afonso Cláudio.
“São regiões urbanas que não têm produção agrícola e precisam cumprir a legislação,
comprando de agricultores familiares”, ressalta Gelson.

Ele informa que de toda a produção vendida pela Cooperativa, somente 10% vai para a
Prefeitura de Afonso Cláudio e 90% para fora do município. Em 2017, o volume de vendas
somou uma receita de quase R$ 1 milhão, sendo que cerca de R$ 100 mil vieram da
prefeitura local.

Gelson elogia as prefeituras de Vila Velha, Vitória e Serra que valorizam e fazem um
esforço para absorver o máximo dos alimentos originários da agricultura familiar.
“Afonso Cláudio não compra nosso feijão, mas Vila Velha fica com quase tudo.
Todo o nosso tomate e goiaba também foram para as escolas daquele município.
Guarapari compra quase toda a nossa batata. Vitória compra até nossos biscoitos
e pães caseiros”, ressalta.