domingo, 7 de agosto de 2016

Tempos duros em Cachoeiro de Itapemirim final dos anos 60 e década de 70.

                                 Em 1969, vindo de Castelo, fui morar em Cachoeiro, com minha família. Meu projeto era o de ir para Vitória, onde havia sido aprovado no vestibular para o curso de Geografia. Mas a realidade da vida me fez fazer uma parada. Matrícula feita no curso de Geografia, mas o projeto foi adiando.
                                 Logo logo em Cachoeiro me aproximei da Casa do Estudante, onde fui ser Tesoureiro, com o afastamento do meu primo Jair Viana Soares. Nesta época era presidente Roberto Valadão e o vice Francisco Borges. O Secretário era Glauco Alexandre de Oliveira e o Coordenador da Administração o estudante José Carlos Carvalho. Mais adiante veio José Alerte Francisqueto. Saint Clair Lopes também lá chegou.
                                  Neste ano de 1969 o quadro político brasileiro era de uma ditadura civil militar, que naturalmente tinhas os reflexos em Cachoeiro, no movimento estudantil e na vida política do município. Me lembro que ainda no primeiro semestre Francisco Borges perseguido pelo sistema teve de entrar na clandestinidade. Ainda neste ano eu e Roberto Valadão fomos encontrar com Borges no Rio de Janeiro.
                                  Todos nós sabíamos e tínhamos consciência da ação da Ditadura Civil Militar, ela vivia nos espreitando e nos observando. Os agentes viviam em Cachoeiro. Certamente que muitas denúncias foram feitas aos órgãos de segurança de Vitória.
                                   No início do mês de agosto a Polícia Federal fez uma visita a Casa do Estudante e lá deixou uma série de intimações, sendo que José Carlos Carvalho, menor de idade, era acusado de estar no movimento subversivo. Eu, José Alerte, Glauco e Saint Clair eram testemunhas. No dia 11 de agosto estávamos todos na Polícia Federal em Vitória, que na época funcionava na Avenida Vitória.
                                    Lembro que eu e Valadão fomos até o Juiz de Direito Pedro Borges de Rezende e ele nos alertou para os tempos que vivíamos e que mandaria um Oficial de Justiça para nos acompanhar, em função de ser José Carlos menor de idade. O Prefeito Nello Borelli nos  cedeu o transporte, uma kombi. Prestamos depoimento e voltamos para casa. A Ditadura Civil Militar havia dado o seu recado: estamos de olhos em vocês. Estavam mesmo nos espreitando.
                                   Já em 1970 segui para Vitória, mas nos finais de semana voltava a Cachoeiro. Nesta época Roberto Valadão foi candidato a vice-prefeito na chapa de Hélio Carlos Manhães (MDB). Num domingo, faltando poucos dias para eleição, estava almoçando na casa de Roberto e Heloisa, juntamente com sua mãe, Dona Helena, na rua Alziro Viana, Bairro Aquidabã.
                                 Bateram na porta e Valadão foi atender. Na volta ele falou, é a Polícia Federal e eles vão me levar preso. Arrumou um bolsa com algumas roupas e saiu. Era uma caminhonete Veraneio, que era a marca registrada da Ditadura Civil Militar. Eu a vi subindo a Alziro Viana e dobrando a direita.
                                  Logo em seguida saí e fui direto na casa do médico Gilson Caroni para avisá-lo do que havia ocorrido. Mas chegando lá, Caroni também havia sido preso. A ação da Ditadura Civil Militar havia ocorrido em vários pontos do Espírito Santo. Ficaram 10 dias presos e voltaram ainda para participar da eleição municipal, no qual o MDB foi vitorioso em Cachoeiro.
                                 Em 1971 voltei a Cachoeiro e fui ser revisor do jornal O Momento, da Prefeitura. O clima de opressão e a ação dos dedos duros era diária.
                                 Em 1972 a Polícia Federal em suas ''visitas'' a Casa do Estudante encontrou vários pacotes com um jornal tabloide que comemorava o cinquentenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Um policial afirmou: daqui uns dias este jornal vai estar lá em Vitória. Pura verdade. Era a resistência democrática dos que não concordavam com os rumos que o Brasil estava tomando.


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