quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aqui fala quem faz



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Ronald Mansur é um dos principais nomes do jornalismo capixaba. Na ativa desde os anos 1960, ficou conhecido por sua sensibilidade ao retratar o meio rural de forma diferenciada, dando voz ao pequeno produtor e revelando um interior rico em capital humano, belezas naturais e produção agrícola diversificada. Passou por jornais locais, grandes redações e foi um dos idealizadores do Jornal do Campo, da TV Gazeta, dirigindo o programa por mais de três décadas. Prolífico em suas atividades, Mansur mantem um blog de notícias sobre o campo e atua ainda em várias linhas de trabalho e pesquisa. Confira a entrevista concedida via e-mail ao site Marco Social.
Como surgiu o interesse do senhor pelo jornalismo?
Em 1966, comecei fazer jornalismo produzindo o jornal mural no Colégio Estadual João Bley, no município de Castelo. Mais tarde, entre os anos de 1967 e 1968, fiz parte de dois jornais, um da Casa do Estudante de Castelo e outro da cidade. Meu plano inicial era fazer Engenharia Florestal, mas naquela época fui impedido por falta de recursos. Em 1969, eu era tesoureiro da Casa do Estudante de Cachoeiro de Itapemirim, onde tínhamos um pequeno jornal, o Impacto. Já em 1971, fui revisor e escrevi no jornal O Momento, da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim.
Fale um pouco sobre seu interesse sobre o campo e o jornalismo rural.
Entre 1972 e 1973, trabalhei no jornal O Diário, em Vitória, e em seguida fui para o jornal A Gazeta. Foi quando comecei a cobrir o meio rural. E Existe uma explicação para a minha dedicação ao campo: naquele período, eu também estava cursando Geografia e gostava de estudar a dinâmica populacional. Foi quando entendi que a as cidades iriam crescer em população. Por isso fui ser repórter rural, para entender melhor a cidade. Desde então, nunca mais voltei a cobertura do meio urbano.
Nos início dos anos 1980, o senhor foi responsável pela criação do Jornal do Campo, no ar até hoje. Como surgiu a ideia do programa?
Em 1979, depois de passar pelo jornal A Tribuna, voltei à Gazeta, mas desta vez para trabalhar na televisão, para montar o Jornal do Campo, uma ideia do dono da emissora, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho. Estive no programa do início até o ano de 2011, quando a empresa resolveu não renovar o meu contrato.
O senhor dirigiu o Jornal do Campo por mais de três décadas. Fale um pouco sobre a experiência de trazer para TV um olhar diferenciado sobre o campo:
A experiência foi ótima. O nosso slogan era “Aqui fala quem faz”. Não seguimos nenhum padrão definido. As matérias definiam o seu tempo de duração. Dar voz e vez ao povo que trabalha no campo foi a estratégia do programa. O repórter e o editor nunca foram mais importantes do que a informação, faziam parte da notícia. O pensamento era ajudar a formar e não somente informar. Nunca impor nada e não ser professor, mas ser um expositor do tema.
O que mais lhe marcou neste período?
A grande marca foi a de que a realidade muda todos os dias e em diferentes regiões. No início, eu fazia entrevistas em estúdio. Depois, com a diminuição do tempo, que de uma hora foi caindo até chegar até 25 minutos, suspendemos as entrevistas. Toda semana íamos ao interior e eu fui em todas viagens. Ver e conviver com a realidade foi uma ação que me ajudou muito como profissional.
O Jornal do Campo foi fundamental para popularização do agroturismo capixaba. Fale um pouco sobre impacto das reportagens para estes produtores.
Sempre divulgamos as iniciativas comunitárias e cooperativas. Eu havia visto na Itália o “agriturismo” e senti que daria certo no Espírito Santo. Criei a palavra “agroturismo” e começamos a trabalhar com as famílias de Venda Nova do Imigrante. Deu certo e hoje o agroturismo é uma realidade onde a palavra inicial é do produtor, porque ele sabe da sua vida e como a quer. Mas o apoio técnico sempre foi importante e vital.
O senhor se desligou do Jornal do Campo no ano passado. Além do blog, quais outros projetos está desenvolvendo?
Continuo com várias linhas de trabalho, como a imigração suíça, pois minha esposa é descendente dos imigrantes que aqui chegaram em 1856; a imigração árabe, pois meu avô veio de Zgharta (no norte do Líbano) para o Espírito Santo em 1883; o agroturismo, por ter ajudado a formar e desenvolver; a agricultura orgânica, por ter sido amigo de Augusto Ruschi e depois ver nascer e divulgar o Centro de Agricultura Natural Augusto Ruschi, da prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, conduzido pelo agrônomo Nasser Youssef Nasr; e sou um voluntário noMovimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes) e na Federação dos Trabalhadores, porque eles atuam diretamente com a agricultura familiar.
 

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