A igreja cristã tem grande importância na minha vida e formação profissional. Além de sociologia sou formado em catequese (curso superior) pela igreja luterana. Fiz as duas faculdades em São Leopoldo (RS) na Universidade Vale do Rio do Sinos/UNISINOS e na Faculdade Superior de Teologia respectivamente na década de 1980. Esse contato com melhores sociólogos e teólogos do país na época contribuiu com aquilo que penso hoje de igreja, fé, política, cultura e sociedade.
Na minha catequese aprendi, por exemplo, que Jesus Cristo nasceu no Império Romano, mas no seio mais pobre do povo daquela época: o povo hebreu. Ele não nasceu junto com os dominadores, os ricos, os romanos. Até mesmo porque estes o rejeitaram. Jesus mesmo afirma “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ir para o céu.” Para Jesus toda riqueza já é uma corrupção. Lembro que o Salvador do mundo nasceu entre animais, numa estrebaria, numa manjedoura, também chamado de cocho para tratar animais. Qual a mensagem que esse fato religioso e histórico nos deixa? Para entender isso não preciso ser grande teólogo ou doutor em teologia ou sociologia.
Depois da crucificação de Jesus Cristo li em Atos dos Apóstolos (sim na bíblia)numa espécie de “socialismo primitivo” que se não fossem os apóstolos fugirem da perseguição do rico e maior exercito da antiguidade (Romano) e venderem tudo que tinham e distribuir aos mais necessitados nem a história de Jesus Cristo tinha chegado a nós. Tiveram que se esconderem nas serras, florestas e montanhas para trazer a história de Jesus Cristo até dias de hoje. Para os romanos matar, eliminar também os seguidores de Cristo seria enterrar a memória dessa teoria revolucionário de “amor ao próximo”, “amor ao mais necessitado”.
Ainda nos meus estudos catequéticos aprendi que no século XVI, o padre Martim Lutero quis e provocou uma reforma onde criticava a igreja oficial da época que vendia “lugar no céu” (indulgências), queria mais liberdade religiosa e que o povo pudesse ler e interpretar a bíblia. Ainda aprendi que a Igreja Católica depois fez a contrarreforma e consegue tornar a teologia mais popular e próxima ao povo mais humilde. Assim a teologia da libertação de Leonardo Boff, Paulo Freire e Frei Beto, muito perseguida pela elite, conseguia ser muito revolucionária na busca por justiça social.
Parece-me que hoje faz se necessário uma nova reforma religiosa. Lutero nem queria fundar uma nova religião, só queria uma reforma. Anos depois a Igreja Católica foi mais fundo no social da teologia.
Já pararam para pensar quantas igrejas ou seitas temos hoje? Lutero criticava as indulgencias, entre outras coisas, mas hoje temos ditos “pastores”, “apóstolos”, “bispos” ficando milionários com a “fé do povo”. Lutero pregava a instrução do povo e hoje essas “novas igrejas”, se é que dá pra chamar de igreja exploram justamente essa ignorância.
Já pararam para pensar que nos últimos 30 anos surgiram muitas novas seitas e igrejas? E paralelamente a corrupção politica também disparou? Inclusive muitos destes “pastores” são políticos e não conseguem mudar ou influenciar na melhoria do Legislativo, do Executivo e do Judiciário deste país? Com a sua força espiritual ou através dos milagres podiam mudar para melhor a nossa suja politica e justiça. Infelizmente a maioria destes ditos “homens de Deus” são vencidos pelos “diabos da corrupção.”
Vocês sabem das mordomias do Judiciário e dos políticos deste país? Qual a diferença destes para os antigos políticos do Império Romano? Os atuais são mais corruptos e também crucificam Cristo quando permitam a morte do seu povo, inclusive de fome. Também vivem num mundo de glamoures. Talvez esse ano algum candidato nomeie um cavalo ou burro para presidente e outro promete “botar fogo” em Roma, digo, Brasília.
No meu curso de sociologia na UNISINOS, entendi que durante a Revolução Francesa de 1789 existiam dois grupos: os girondinos e os jacobinos. Os girondinos defendiam os ricos, a classe dominante. Os jacobinos defendiam os pobres, o povo. Foi ai que surgiram os termos: “Direita” e “Esquerda”, ou seja, no Congresso Frances quem sentava a direita (os girondinos) defendiam os ricos, a elite e quem sentava a esquerda (os jacobinos) defendiam os pobres, o povo.
O que isso tem a ver com Cristo? Tudo! E me nego a desenhar. E Paulo Freire com a sua pedagogia do Oprimido. Também me nego a desenhar.
Com relação à cultura, que é a área da minha atuação podemos dizer que o verdadeiro cristão se identifica com a cultura popular, a cultura dos pobres, a cultura tradicional dos índios, negros, pomeranos, dos excluídos; cultura que possa libertar o povo. Tarefa que Jesus Cristo teve para si em nome do Pai por todos seus 33 anos “libertar o ser humano como um todo e todos os seres humanos”.
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