sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

MALHARIA HELENA 2o capítulo. texto de Helena Machado


                           Em 1968, aos 32 anos, por sugestão da minha mana Beth e incentivo do Gildo, montamos a Malharia. Compramos as primeiras maquinas através de empréstimo feito ao Banco do Brasil. Gildo tinha lastro. A Principio ocupávamos um dos quartos da casa e depois passamos para a garagem. Logo descobri que estava grávida do meu quinto filho. Tudo ficou muito mais difícil. Não aceitei, como Gildo queria, fechar a Malharia e reabrir depois da gestação. Era tão árduo, tão difícil, que eu tinha medo de perder a coragem do recomeço. As pessoas procuravam saber onde ficava a Malharia que ainda não tinha nome. Enquanto escolhíamos o nome, Gildo mandou pintar uma faixa com o nome provisório -  "MALHARIA HELENA" que permanece até hoje. A luta foi grande, descomunal, sobre-humana. Tudo no superlativo mesmo. Fazíamos vestidos longos, para noite, vestidos para desfiles de moda. Blusas de malha de todos os modelos e cores. As camisas masculinas, sociais e esportivas, eram nosso carro-chefe. O sucesso mesmo, veio quando especializamos em uniformes escolares. O primeiro grande colégio foi o Liceu Muniz Freire, seguido do  Colégio Jesus Cristo Rei. Depois vieram as recém inauguradas Escolas Polivalentes de Cachoeiro e no ano seguinte passamos a atender todas as Escolas Polivalentes do norte do estado e os demais colégios de Cachoeiro. Já tínhamos mais de vinte máquinas e trinta costureiras que costuravam em suas casas. Mesmo assim, não estávamos preparados para a demanda. Filas enormes se formavam da porta da Malharia até próximo ao Banco do Brasil. Passamos a distribuir senha. Na época das aulas eu dormia no máximo duas horas por noite, no sofá do escritório. Pela manhã, viajávamos em comboio, para entregar uniformes nas cidades de Colatina, Cariacica, Campo Grande, São Mateus, Marataízes. O carro que eu dirigia era o último e eu me guiava pela lanterna do carro da frente. Eu ia em zig zag e minha mãe, ao meu lado, vigilante, impedia-me de cochilar. Poucas vezes eu dormia em casa e quando o fazia, a boa e inesquecível Amália, nossa secretaria do lar, vinha me acordar aos prantos. Era pena de mim. Essas relembranças funcionam como catarse - mais doem do que me dão prazer. Quando da entrega dos uniformes, minha irmã, sobrinhas e amigos vinham nos ajudar, sem esquecer o Ricardo Marcondes, que fazia "serão" comigo, escondido da mãe e do Gildo. Ele estudava durante o dia e nem chegava em casa. Ficava direto na Malharia até o dia seguinte. A mãe pediu ajuda ao Gildo e o proibiram de continuar mas ele, esperto como era, fugia na madrugada, depois que a mãe dormia. Ele me ajudou muito. As sobrinhas separavam blusas, calções, kichutes (tenis) e meias. Era um kit completo. Não tinha o que reclamar porque os que não quisessem o uniforme pronto, levavam o corte de tecido acompanhado dos aviamentos. Se o aluno não pudesse pagar, o uniforme era doado. Os alunos levavam seus uniformes e um carnê para pagamento parcelado. A confusão era geral, mas tudo dava certo. 

                Tivemos, também, uma lojinha no centro da cidade, perto da Papelaria Vieira, que na época de Natal tinha grande movimento. Lá não se vendia uniformes. Recebi muita ajuda das "meninas - sobrinhas". Faziam os embrulhos e anotavam a venda em bloquinho de papel. Ainda não haviam os computadores. A gente sempre "pagava" com alguma blusinha, mas elas diziam que nem precisava. O prazer de trabalhar lá era muito maior. Tinha uma blusa, que tinha o nome de "Psicodélica", a preferida delas. De malha, toda matizada, com belas cores. Eram muitas as opções, modelos e tamanhos. Depois que cada freguês deixava a loja, era hora de dobrar tudo e recolocar nas prateleiras. Este é um fragmento dessa estória que tem muitos desdobramentos. 

                     Após trinta anos de intensa atividade, deixei a Malharia entregue a minha filha, que já trabalhava comigo, para cuidar do meu maior incentivador, companheiro de todas as horas. Depois de dois anos doente, ele me deixou. Sua hora havia chegado.

Abraços fraternos
Helena💕

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