Era início dos anos 2000. A cena se repetia semanalmente, sempre às quartas-feiras. Por volta
das 7 horas, estava religiosamente à porta da minha casa o carro de reportagem da TV Gazeta,
emissora afiliada da TV Globo no Espírito Santo, onde eu era repórter. À minha espera sempre
se encontravam um dos cinegrafistas escalados para o dia, o auxiliar da equipe - Ataíde
Evaristo, e o editor do Jornal do Campo - Ronald Mansur. A rotina, nova para mim, já fazia
parte da vida daquelas pessoas há mais de duas décadas. Eu tinha aquele dia como especial,
pois era quando saíamos da redação e seguíamos pelo interior do estado, conversando com os
produtores rurais e fazendo longas reportagens, praticamente sem edição, que iam ao ar aos
domingos, bem cedo. Mas as matérias que gravávamos eram apenas um detalhe daquelas
incursões por um mundo de gente que trabalha duro para alimentar a todos. O bom mesmo
eram as conversas. E elas começavam desde o bom dia, no momento em que eu entrava no
carro, até o final da jornada, que, muitas vezes, só acabava tarde da noite.
Ideias, ponderações e soluções para todos os males surgiam nessa saudável relação entre
colegas. Mansur, sempre com ar reflexivo, ia jogando ao ar as pílulas que geravam os bons
debates. E, na sua missão de catequizar os jovens repórteres, pinçava, da sua inesgotável caixa
de histórias, sementes que ele ia plantando em nossas mentes, com o desejo secreto que elas
germinassem.
E foi uma dessas ideias (guardei muitas delas) que acabou por realmente por frutificar, mas em
terras d´além mar. Lembro claramente da expressão do nosso editor, com sua peculiar
empolgação contagiante, ao relatar que em Recife, nas placas das ruas, havia a descrição de
quem teriam sido as personalidades cujos nomes foram escolhidos para batizar os respectivos
logradouros. A ideia me chamou a atenção e penso que deixei isso transparecer, pois num
encontro posterior, já na redação, Mansur me mostrou uma fotografia que ele havia tirado das
placas de rua da capital pernambucana.
Meu período de jornalista televisivo se encerraria em 2004, quando eu deixei a TV Gazeta para
me fixar em Portugal e seguir uma nova carreira, desta vez nos meios acadêmicos. Fui fazer um
mestrado na Universidade do Minho, em Braga, que acabou por se estender para um
doutorado e culminou na minha atividade como professor universitário no exterior. Os anos
em Portugal me permitiram integrar plenamente no país, que acabou por me conceder a
cidadania e também muitos amigos. Um deles, Luís Miguel Loureiro, repórter da RTP - TV
estatal portuguesa, acabou por ser convidado para coordenar o curso de Comunicação da
Universidade Lusófona do Porto. Logo me fez uma proposta para integrar a equipe de
professores, a qual aceitei prontamente. Entre as cadeiras que passei a lecionar estava
“Comunicação e Assessoria”. Logo no primeiro dia de aula, os estudantes reclamaram da
grande carga teórica do curso e demonstraram ansiar muito por experiências práticas.
Foi quando aquela semente, que me foi entregue no carro de reportagem do Jornal do Campo,
encontrou um terreno fértil. O Porto, umas das cidades mais emblemáticas da Europa, com
uma história milenar, seria o cenário ideal para que déssemos destaque às personalidades que
emprestavam os nomes às ruas. E assim surgiu o projeto Ruaria, com o slogan:
“Todas as ruas têm um nome e juntos vamos conhecê-las.
O título foi escolhido pelos estudantes.
A idéia consistia em se criar um acontecimento cultural e turístico, que ajudasse os alunos a terem
contato com a realidade da assessoria de imprensa e promoção de eventos. Assim, os
estudantes traçaram um trajeto pelas antigas ruas do Porto e, num dia determinado, guiaram
turistas, portugueses e estrangeiros, explicando a histórias das ruas escolhidas e das pessoas
que davam nome a elas. Ao longo do percurso havia apresentações culturais e artísticas,
programadas especialmente para a ocasião.
O evento ganhou ampla cobertura da imprensa e a Universidade Lusófona decidiu colocá-lo no
calendário anual de atividades do curso. A primeira edição ocorreu no dia 31 de maio de 2014.
Em 2016, foi concretizada a quarta edição, e muitas outras se seguirão.
Os jornais portugueses destacaram o Ruaria como “um presente dos estudantes para a cidade
do Porto”. Só não disseram que foi um presente cultivado na caixa mágica de histórias de
Ronald Mansur.
O destino pleno das ideias é a concretização. O velho jornalista sabia disso. Mas, com a
generosidade que faz parte da forma com que ele interage com o mundo, me deixou
descobrir, muitos anos depois, e por experiência própria, qual era a verdadeira lição que eu
recebia todas as quartas-feiras, a partir das 7 da manhã.
das 7 horas, estava religiosamente à porta da minha casa o carro de reportagem da TV Gazeta,
emissora afiliada da TV Globo no Espírito Santo, onde eu era repórter. À minha espera sempre
se encontravam um dos cinegrafistas escalados para o dia, o auxiliar da equipe - Ataíde
Evaristo, e o editor do Jornal do Campo - Ronald Mansur. A rotina, nova para mim, já fazia
parte da vida daquelas pessoas há mais de duas décadas. Eu tinha aquele dia como especial,
pois era quando saíamos da redação e seguíamos pelo interior do estado, conversando com os
produtores rurais e fazendo longas reportagens, praticamente sem edição, que iam ao ar aos
domingos, bem cedo. Mas as matérias que gravávamos eram apenas um detalhe daquelas
incursões por um mundo de gente que trabalha duro para alimentar a todos. O bom mesmo
eram as conversas. E elas começavam desde o bom dia, no momento em que eu entrava no
carro, até o final da jornada, que, muitas vezes, só acabava tarde da noite.
Ideias, ponderações e soluções para todos os males surgiam nessa saudável relação entre
colegas. Mansur, sempre com ar reflexivo, ia jogando ao ar as pílulas que geravam os bons
debates. E, na sua missão de catequizar os jovens repórteres, pinçava, da sua inesgotável caixa
de histórias, sementes que ele ia plantando em nossas mentes, com o desejo secreto que elas
germinassem.
E foi uma dessas ideias (guardei muitas delas) que acabou por realmente por frutificar, mas em
terras d´além mar. Lembro claramente da expressão do nosso editor, com sua peculiar
empolgação contagiante, ao relatar que em Recife, nas placas das ruas, havia a descrição de
quem teriam sido as personalidades cujos nomes foram escolhidos para batizar os respectivos
logradouros. A ideia me chamou a atenção e penso que deixei isso transparecer, pois num
encontro posterior, já na redação, Mansur me mostrou uma fotografia que ele havia tirado das
placas de rua da capital pernambucana.
Meu período de jornalista televisivo se encerraria em 2004, quando eu deixei a TV Gazeta para
me fixar em Portugal e seguir uma nova carreira, desta vez nos meios acadêmicos. Fui fazer um
mestrado na Universidade do Minho, em Braga, que acabou por se estender para um
doutorado e culminou na minha atividade como professor universitário no exterior. Os anos
em Portugal me permitiram integrar plenamente no país, que acabou por me conceder a
cidadania e também muitos amigos. Um deles, Luís Miguel Loureiro, repórter da RTP - TV
estatal portuguesa, acabou por ser convidado para coordenar o curso de Comunicação da
Universidade Lusófona do Porto. Logo me fez uma proposta para integrar a equipe de
professores, a qual aceitei prontamente. Entre as cadeiras que passei a lecionar estava
“Comunicação e Assessoria”. Logo no primeiro dia de aula, os estudantes reclamaram da
grande carga teórica do curso e demonstraram ansiar muito por experiências práticas.
Foi quando aquela semente, que me foi entregue no carro de reportagem do Jornal do Campo,
encontrou um terreno fértil. O Porto, umas das cidades mais emblemáticas da Europa, com
uma história milenar, seria o cenário ideal para que déssemos destaque às personalidades que
emprestavam os nomes às ruas. E assim surgiu o projeto Ruaria, com o slogan:
“Todas as ruas têm um nome e juntos vamos conhecê-las.
O título foi escolhido pelos estudantes.
A idéia consistia em se criar um acontecimento cultural e turístico, que ajudasse os alunos a terem
contato com a realidade da assessoria de imprensa e promoção de eventos. Assim, os
estudantes traçaram um trajeto pelas antigas ruas do Porto e, num dia determinado, guiaram
turistas, portugueses e estrangeiros, explicando a histórias das ruas escolhidas e das pessoas
que davam nome a elas. Ao longo do percurso havia apresentações culturais e artísticas,
programadas especialmente para a ocasião.
O evento ganhou ampla cobertura da imprensa e a Universidade Lusófona decidiu colocá-lo no
calendário anual de atividades do curso. A primeira edição ocorreu no dia 31 de maio de 2014.
Em 2016, foi concretizada a quarta edição, e muitas outras se seguirão.
Os jornais portugueses destacaram o Ruaria como “um presente dos estudantes para a cidade
do Porto”. Só não disseram que foi um presente cultivado na caixa mágica de histórias de
Ronald Mansur.
O destino pleno das ideias é a concretização. O velho jornalista sabia disso. Mas, com a
generosidade que faz parte da forma com que ele interage com o mundo, me deixou
descobrir, muitos anos depois, e por experiência própria, qual era a verdadeira lição que eu
recebia todas as quartas-feiras, a partir das 7 da manhã.
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