As pessoas que passam pela Praia da Costa em Vila Velha devem estar espantados com alguns índios vestidos à caráter, vendendo artesanato e, se surpreenderiam ainda mais, ao saber que eles são autênticos índios pataxos ( não são ambulantes fantasiados de índios). Houve até o caso de um passante perguntar, ironicamente, "você é índio mesmo?""não,sou um palhaço", respondeu, irritado com o visível preconceito "dos brancos". Viajam para praias próximas de suas aldeias para comercializar seus belíssimos artefatos. É bom enfatizar que as penas, contas, peles de cobras,madeiras, etc que são usados em seus produtos, são extraídos da natureza, quando os animais soltam suas penas ou já estão mortos, de galhos de árvores caídos: ou seja, não são utilizados materiais vivos e muito menos cortam árvores.
Mas, como nos velhos tempos do faroeste americano, os índios pataxos estão sendo lentamente exterminados nas batalhas urbanas atuais, pelos invasores da pouca terra que ainda possuem, e pela polícia. Assim contaram os indígenas que vieram para Vila Velha vender artesanato, em um comércio de sobrevivência. Arapuãn e Araticum,dois índios pataxos, contam as dificuldades pelas quais passam em sua tribo e a necessidade de preservar as tradições. Cerca de mil e trezentos indivíduos vivem no entorno do Monte Pascoal tentando evitar que suas terras sejam roubadas por fazendeiros da região. São atendidos pela Funai, que construíu suas casas de material, uma escola - acrescida de uma matéria obrigatória, além daquelas da grade escolar, o patcharran, que estimula os indiozinhos a falarem a língua de sua aldeia e seguirem orientações sobre a preservação da natureza e de sua cultura. Segundo Arapuãn, que se prepara para ser um cacique no futuro, e é professor, as terras são invadidas e a polícia é violenta com eles, os verdadeiros donos da terra. Os pataxos esperam, ainda, a demarcação de seu território pelo governo federal, para que volte a paz.
Os objetivos de vida destes índios são os melhores possíveis:querem preservar a natureza e viver dela. Quando perguntados se escolheriam a inserção em nossa sociedade ou uma vida pacata nas aldeias, respondem que precisam de educação e tecnologia, mas também da natureza e de suas tradições. Tupã é o seu Deus, e Jesus Cristo seu filho. Têm várias religiões. O Pajé é o que cura e aconselha e o Cacique aquele que, eleito, tem a responsabilidade de administrar e gerir a aldeia. Araticum diz que espera do futuro maior aperfeiçoamento de sua arte artesanal, dedicação à terra e melhorias para seu povo.
Com essas novas informações, talvez os frequentadoras da Praia da Costa saibam que esses índios buscam recursos para sua aldeias e que seu artesanato é uma arte, podendo, então, se solidarizar com estes primeiros habitantes de nosso país e sua causa, sem surpresas ou espanto, porque esses problemas são idênticos nas muitas aldeias e tribos espalhadas pelo Brasil.
A entrevista foi concedida na casa de um morador do Morro do Moreno, em Vila Velha, cujos conhecimentos sobre o assunto determinaram a autenticidade da procedência e origem dos índios em questão.
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