sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Alunos surdos "cantam" e fazem apresentação teatral em Emef de São José


Publicada em 26/09/2014, às 17h55

Carmem Tristão
Dia do Surdo
Dia do Surdo foi comemorado na Emef Maria José Costa Moraes nesta sexta (26)
Carmem Tristão
Dia do Surdo
Intérprete revelava para os ouvintes as falas das crianças no palco
"Toda pedra do caminho você pode retirar, numa flor que tem espinhos você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem, você pode escolher. É preciso saber viver". Os conhecidos versos da banda Titãs foram cantados nesta sexta-feira (26) por surdos e ouvintes. Sim, surdos e ouvintes. Enquanto uns emprestaram a voz, outros emprestaram as mãos, afinal, a voz dos surdos são as mãos que pensam, sonham e expressam.
O evento, que lembrou o Dia Nacional do Surdo, comemorado nesta data, aconteceu na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Maria José Costa Moraes, em São José, reunindo cerca de 30 alunos surdos, tanto dessa unidade de ensino como também das Emefs Aristóbulo Barbosa Leão, Adevalni Sysesmundo Ferreira de Azevedo, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Izaura Marques da Silva, numa verdadeira celebração do respeito à diversidade. Foi uma festa em que surdos e ouvintes uniram seus mundos num só para falar de "escolhas".
A abertura do encontro ficou por conta dos professores de Língua Brasileira de Sinais (Libras) Flávio Eduardo Castellar e Rafael Cunha, que também são surdos. Os presentes puderam conhecer a história dos surdos, marcada por uma educação que não os libertava, mas sim os oprimia. A palestra contou com a interpretação de Euber Fábio de Souza.
Em seguida, alunos e familiares se dirigiram para o pátio da escola, onde puderam conferir os professores e colegas recitando poesias em Libras, e ainda a encenação teatral do famoso conto de fadas "Os Três Porquinhos", em que, dos cinco integrantes, um era o tradutor, três eram surdos e o outro, ouvinte.

Emoção

Na plateia, a intérprete Camila Crisólogo revelava para os ouvintes as falas dos personagens. A emoção tomou conta de todos os presentes quando as cortinas se abriram e os alunos entraram no palco para "cantar" a música "É preciso saber viver" em Libras.
"Matheus é um menino esperto, curioso e que se interessa pela maioria das atividades realizadas na escola. Ele já participou de diversas apresentações, mas, por estar trabalhando, nunca pude presenciar. Hoje foi diferente e estou aqui. Fiquei muito emocionada ao vê-lo participando e interagindo com os outros alunos nos teatros das borboletas e dos "Três Porquinhos", revelou Heloíza, mãe do Matheus, de oito anos.
"Estou feliz demais! Com certeza, a presença da minha mãe me inspirou e motivou a fazer ainda mais bonito no palco hoje. Foi a primeira vez que ela me viu atuar, por isso foi tão especial pra mim. Eu adoro aprender e minha matéria favorita é Português, já que me auxilia a aprender novas palavras e a me comunicar com os meus amigos. Eu tenho diversos amigos, surdos e ouvintes. Acho muito importante estudar em uma escola inclusiva, onde eu posso me relacionar com diversas pessoas", contou Matheus.
Carmem Tristão
Dia do Surdo
Poesias e teatro foram apresentados em Libras para a plateia
Carmem Tristão
Dia do Surdo
Heloíza não escondeu o orgulho e o entusiasmo com a participação de Matheus no teatro

Atenção

Entre os surdos, chamava a atenção uma moça alta, bonita e com sampa no pé. Era a Brunna Ramos, 17 anos, aluna da 8ª série da Emef Aristóbulo Barbosa Leão, que todos os anos desfila na Unidos da Piedade.
"Em 2015, estarei mais que presente no Carnaval novamente. De preferência, como passista! É uma sensação única e, mesmo sendo surda, consigo ouvir a vibração e a energia dentro do Sambão. Acabei ganhando experiência com as músicas e com o samba durante os ensaios e hoje sou completamente apaixonada. Adoro a possibilidade de me expressar dessa forma. Sobre a proposta de encontros como este de hoje, acho maravilhoso! Percebemos uma integração enorme entre os surdos e os ouvintes, e isso é fantástico", disse Brunna.

Envolvimento

A professora bilíngue Arlene Batista contou que as atividades apresentadas nesta sexta-feira envolveram toda a escola e são culminância do projeto pedagógico de 2014, em que os alunos fizeram várias visitas a pontos turísticos e centros de ciência de Vitória para aprofundar os conhecimentos adquiridos na sala de aula. Ela disse que o olhar dos alunos surdos e as sugestões feitas por eles foram essenciais para produzir espetáculos acessíveis a toda a plateia.
"Foi uma construção deles para eles. Esse foi um projeto que envolveu todo mundo. Alunos e a equipe pedagógica andaram de mãos dadas no desenvolvimento de cada atividade proposta. Resolvemos, hoje, no dia do surdo, mostrar para os demais alunos um pouco mais sobre a vida dessas pessoas, colocar um pouco da vida dos surdos na vida dos ouvintes", relatou a professora Arlene, que foi idealizadora do projeto.

Diretrizes

Atendendo às diretrizes da Política Nacional de Educação Inclusiva, a Secretaria Municipal de Educação (Seme) implantou na rede de ensino de Vitória, em 2008, a Política de Educação Bilíngue para os alunos surdos. Ela consiste no respeito à singularidade linguística do aluno com surdez em seu processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, ele aprende Libras como primeira língua e a língua portuguesa escrita, como segunda língua.
Atualmente, sete unidades de ensino possuem uma equipe de 17 professores bilíngues, 14 tradutores e intérpretes, cinco instrutores de Libras e 12 professores de Libras (esses dois últimos cargos são preenchidos por profissionais surdos) para atender 62 alunos matriculados em cinco Emefs e dois Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis).
Carmem Tristão
Dia do Surdo
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Dia do Surdo


Informações à imprensa:

Carmem Tristão (ctristao@vitoria.es.gov.br) | Tel(s).: 3135-1000 / 98889-6140 / 98139-7097
Com edição de Secom - Prefeitura de Vitória
Com colaboração de Janaína Zambelli

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